DON JUANITO ERA VISITA DE CASA ANTES DE SUBIR AO TRONO
MARGINAL DO ESTORIL
QUANTO CUSTA? €5,9 milhões (€13.250/m2) ONDE FICA? Na Marginal da zona do Estoril DATA DE CONSTRUÇÃO 1902 TIPOLOGIA Moradia de três pisos, T5+1, com 476 m2 LUXO ESPECIAL O amplo terraço com vista de primeira linha para o mar; a casa foi projectada pelo arquitecto Raul Lino
Don Juanito não tinha horas certas para lá entrar. Naturalmente tornara-se visita de casa dos Ribeiro Ferreira, no Estoril, porque era amigo e vizinho de Carlos. Ambos praticavam um desporto de elite na década de 50: vela. Passavam a vida em regatas e Carlos viria a representar Portugal quatro vezes nos Jogos Olímpicos, entre 1960 e 1972.
Com o mar ali tão perto, velejar fazia parte do quotidiano dos aristocratas da zona. Don Juanito preencheu assim o exílio de 30 anos, entre a praia do Tamariz e a Villa Giralda onde vivia com os pais, os condes de Barcelona. “Houve várias famílias de Cascais e do Estoril que os ajudaram, entre elas os meus avós. Falavam português e vinham cá muito”, conta à SÁBADO Maria Ribeiro Ferreira, 56 anos, uma das herdeiras da moradia apalaçada do Estoril projectada pelo célebre arquitecto Raul Lino. Em 1975, Juan Carlos I, tratado por Juanito em Cascais, tornou-se Rei de Espanha até abdicar do trono para o filho Felipe em Junho de 2014. Mas naquele remoto ano, o amigo Carlos sofreu um revés. Teria de abandonar a casa no chamado Verão Quente, devido aos efeitos da revolução. O pai de Maria, conotado com o Estado Novo, tornou-se alvo de comunistas e foi interrogado noites a fio. Só viu uma saída para não ser preso: exilar-se em Madrid. Maria tinha 14 anos quando foi obrigada a cortar com o conto de fadas do Estoril para viver num apartamento da capital espanhola. “Tive um ataque de nervos no dia da partida. Lembro-me do camião de mudanças e de os meus pais terem vendido televisões, barcos, carros e electrodomésticos.”
Não se desfizeram da casa de família, mandada construir pelo bisavô de Maria em 1902. Para equilibrarem as finanças, alugaram-na. Só em 2004, depois de um demorado processo de partilhas entre os sete tios de Maria – e em que o avô dela expressou em
A MORADIA DO ESTORIL FOI PROJECTADA PELO ARQUITECTO RAUL LINO, QUE MORREU EM 1974, COM 94 ANOS
testamento a vontade de que o filho Carlos ficasse com a casa –, é que regressaram às origens. Recuperaram o telhado, actualizaram a decoração com a ajuda profissional de Rita Almada e, desde então, fazem manutenção regular. A fachada é pintada de cinco em cinco anos, os interiores de dois em dois ou anualmente consoante o rigor do Inverno. “Os móveis foram escolhidos a dedo para enaltecerem os frescos das paredes das salas, que são restaurados por Luísa Vaz da Silva”, aponta.
Cada canto tem uma história das quatro gerações que ali passaram. “Nunca pensámos vender a casa.” Mantiveram esta posição até ao início deste ano, quando morreram os pais de Maria. Por unanimidade, ela e os quatro irmãos decidiram vendê-la.