SÁBADO

O pior da América e as armas

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Numa sociedade banhada em armas como é a americana não surpreende­m os massacres regulares de inocentes, seja por que motivo for, loucura, vingança, política, tudo. O direito de possuir armas, quase sem restrições de qualquer espécie, tem fundamento constituci­onal e explica-se pela história americana. Mas o que se passa já há muito tempo está muito para além do direito constituci­onal, e diz respeito a um dos mais poderosos grupos de pressão, um daqueles que dá mesmo o nome à coisa – pressão –, a poderosa associação NRA. A NRA não só contesta com veemência qualquer legislação de controlo na compra e posse de armas, como defende que possam ser trazidas à vista em locais públicos, levadas para manifestaç­ões, mas também para escolas, universida­des e igrejas. E opõe-se igualmente a qualquer controlo eficaz do tipo de armas e calibres que podem estar no mercado livre, assim como à proibição de silenciado­res, com o pretexto de que há determinad­as formas de caçar que precisam desse mecanismo. Como é óbvio, os silenciado­res são úteis para os criminosos em muito maior número do que para os caçadores. Aliás, o porte de armas é muito mais um problema social e político do que de eficácia de caçadas. E embora o argumento da NRA e dos defensores do porte indiscrimi­nado de armas, seja que são os homens que matam os homens e não as armas que matam os homens, as armas disponívei­s ajudam muito a matar muita gente. Na história recente dos EUA mais pessoas morreram em incidentes como os recentes em Las Vegas e Santo António do que em qualquer atentado terrorista islâmico desde o ataque à Torres Gémeas. Mas, para desgraça de todos, nem com a sucessão de massacres genuinamen­te americanos, parece haver qualquer possibilid­ade de mudança. Trump teve o apoio da NRA e fez vários comícios apoiando as suas pretensões, os republican­os não querem mexer no direito de usar armas e muitos democratas têm medo da NRA ou são eles próprios favoráveis à actual situação. Até ao próximo massacre, e ao próximo e ao próximo, porque tudo vai continuar na mesma.

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