SÁBADO

DISTRITO DE BRAGA

MANOEL DE OLIVEIRA FEZ UM FILME AQUI

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PÓVOA DE LANHOSO

QUANTO CUSTA? €9 milhões ONDE FICA? Freguesia de Santo Emilião, Póvoa de Lanhoso, Braga DATA DE CONSTRUÇÃO 1898 TIPOLOGIA Casa acastelada T24 de quatro pisos e 2.200 m2 de área; está inserida em dois hectares de jardim e tem 11 hectares de vinha LUXO ESPECIAL A escadaria em mogno de estilo império que as visitas comparam a um dos décors do filme épico E Tudo o Vento Levou (1939)

Um dia, Mónica Baldaque visitou a Villa Beatriz. A filha da escritora Agustina Bessa-Luís deslumbrou-se: naquela freguesia distante, entre Douro e Minho, havia um castelo parado no tempo. A escadaria de mogno parecia tirada do filme E Tudo o Vento Levou (1939); a sala de música de estilo Luís XV podia ser do Palácio de Versalhes; um quarto de linhas manuelinas mantinha-se imaculado e a piscina de pedra era um assombro de dimensões olímpicas (50x25 metros). “Pediu-me se poderia trazer cá a mãe. Para mim foi uma honra. A Agustina esteve aqui, viu tudo. Almoçou comigo e autografou-me um livro”, conta à SÁBADO a proprietár­ia, Cármen Dolores Guimarães, de 84 anos.

A história teve continuida­de, porque sendo Agustina uma das autoras de referência para Manoel de Oliveira

“O mestre”, como Cármen Guimarães se refere a Manoel de Oliveira, filmou em Villa Beatriz Espelho Mágico (2005)

sugeriu-lhe que filmasse ali a adaptação de uma obra sua, A Alma dos Ricos (2002). “Mas durante um ano ninguém me disse nada”, prossegue Cármen. O cineasta acabou por contactá-la para rodar o filme Espelho Mágico (2005). A dona da casa e neta do fundador (Francisco Antunes Guimarães, um comercial que fez fortuna no Brasil) nem hesitou. Seria prestigian­te receber um ilustre no castelo, o mais internacio­nal cineasta português. Durante dois meses e meio, Cármen teve a casa cheia com o elenco e a equipa de filmagens num total de 40 pessoas. Começavam às 9h, sem hora para terminar. Uma vez, filmaram até de madrugada, às 4h, e só depois foram dormir para dois hotéis de Póvoa de Lanhoso. No set, o realizador pedia silêncio absoluto. “Aquilo

O vinho com a marca Quinta Villa Beatriz inclui três marcas de branco. Foram produzidas este ano 100 mil garrafas HÁ UM QUARTO CONHECIDO COMO “O DA MOBÍLIA PRETA”, TODA EM PAU-SANTO MACIÇO

era muito cansativo. Repetia as cenas tantas vezes que eu já sabia o papel de cor. Tinha aqui um catering permanente e ocupava o salão de baixo”, recorda a dona. O quarto que chama de “mobília preta”, porque é de pau-santo maciço, foi onde a actriz Leonor Silveira passou grande parte do tempo a interpreta­r Alfreda (uma proprietár­ia obstinada pelo sonho de presenciar a aparição da Virgem Maria).

Ao contrário de Alfreda, Cármen é pragmática. Passeia-se pela casa como se fosse um apartament­o e mantém-no impecavelm­ente preservado com o apoio diário de duas empregadas e de um lema: “A verdadeira limpeza não é muito limpar mas pouco sujar.” Para ela é normal viver num castelo desde 1986, quando se mudou para lá com o marido, Carlos Alberto. Era necessário que alguém tomasse conta do património depois da morte da tia sem filhos. O casal assumiu as funções com empenho: rentabiliz­ou a vinha de 11 hectares e recuperou a adega com tecnologia avançada. Os vinhos chamam-se Quinta Villa Beatriz em homenagem à noiva do fundador: Beatriz de Freitas, a quem foi dedicada a construção do castelo. Antes de concluída a obra, em 1904, Beatriz morreu e Francisco Antunes casou-se com Rosa de Macedo. Viria a tornar-se uma segunda mãe para Cármen, quando ficou órfã aos 11 anos. “No espaço de nove meses perdi o meu pai e a minha mãe. Marcou-me muito. A avó Rosa foi minha tutora, do meu avô tenho vagas recordaçõe­s. Era um homem austero. Ao jantar mudávamos de roupa, tínhamos quatro criadas fardadas e uma governanta.” Viúva há seis anos, Cármen começou a ponderar a venda porque se tornou cada vez mais difícil fazer a manutenção. As duas filhas (Anabela, 64 anos; e Alexandra, 61) têm a vida organizada, assim como os quatro netos. O património está no mercado pela imobiliári­a Luximo’s Christie’s e já recebeu 12 visitas de várias nacionalid­ades: moçambican­os, árabes, chineses, canadianos, russos, etc. Uns impression­am-se com o castelo, outros com a vinha. Concluem que seria ideal para hotel de charme ou para um clube de golfe.

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São mais de 20 divisões numa mansão que parece parada no tempo
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Alvo de atenções diárias, toda a casa está impecavelm­ente preservada
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Uma escadaria absolutame­nte cinematogr­áfica
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Há uma atmosfera de conforto austero

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