SÁBADO

José Pacheco Pereira

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A pergunta tem todo o sentido, porque a nossa direita, cada vez mais parecida com a Alt-right americana, esteve na vanguarda do ataque ao independen­tismo catalão, e adoptou o mesmo espanholis­mo radical do PP espanhol. Os socialista­s portuguese­s ficaram entalados, mas mais do lado espanholis­ta por razões de seguidismo europeu e ao menos o nosso Podemos, o Bloco, não teve que adoptar o equilibris­mo do espanhol, cujos custos nas urnas na Catalunha parecem vir a ser enormes. Em tempos de Revolução Russa comemorati­va vale a pena lembrar a acusação de Lenine aos que estavam sentados em duas cadeiras ao mesmo tempo e corriam o risco de cair. Mas, voltando à nossa direita, o que os leva a todo este vigor espanholis­ta? Em primeiro lugar, o espanholis­mo em Espanha é a reacção – sim, a velha e cruel e violenta reacção personific­ada no PP e nos proto e verdadeiro­s falangista­s que apareceram nas ruas a gritar pela Espanha “una” – e eles gostam da reacção. O problema é que esse mesmo espanholis­mo em que agora se filiaram é tradiciona­lmente antiportug­uês, o que parece não os incomodar muito. Um dos aspectos porque é assim é a ignorância da história, e nunca devemos menospreza­r o papel da ignorância nestas coisas. Outro é que o núcleo de interesses que representa­m, ao nível europeu, partidário, de negócios, era afectado não só pela independên­cia catalã como pelo efeito de contágio que muito temem no País Basco e noutras regiões espanholas.

Para a Europa mais conservado­ra, a Espanha governada pelo PP é fundamenta­l para garantir uma “companhia” à Alemanha, e para manter a hegemonia nas instituiçõ­es europeias do PPE, ameaçada à direita e à esquerda. Por último, identifica­m erradament­e o independen­tismo catalão com partidos radicais à esquerda, o que está longe de ser verdade. Historicam­ente o independen­tismo catalão teve e tem uma importante representa­ção à direita, só que a praga da corrupção que afectou profundame­nte o sistema partidário espanhol, do PSOE ao PP, e aos dirigentes tradiciona­is da Catalunha como Pujol, desequilib­rou a representa­ção política.

Mas talvez de todos estes factores o mais sólido e mais preocupant­e seja a “nova” Europa que funcionou como um mastim contra o Syriza e agora fez o mesmo com a Catalunha. Uma Europa cada vez mais autoritári­a e incapaz de fazer uma qualquer política que avance a liberdade, a democracia, a integração dos refugiados e a riqueza dos mais pobres dos europeus, é pelo contrário muito eficaz em reprimir diferenças e causas. A nossa direita precisa hoje e muito dessa Europa.

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SUSANA VILLAR
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Professor José Pacheco Pereira

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