SÁBADO

É DE ALENQUER O VINHO QUE SE BEBE NA ESCANDINÁV­IA

Há vinhos que se bebem

- M.A.

todos os dias e há vinhos que se bebem em ocasiões especiais. José Luís Santos Lima Oliveira da Silva, bisneto do fundador da Casa Santos Lima e responsáve­l pelo relançamen­to da empresa em 1990, prefere os que se bebem todos os dias. “Porque nem todos os dias há ocasiões especiais”, explica, com boa disposição, na Quinta da Boavista, perto da Aldeia Galega da Merceana, município de Alenquer. No topo da quinta há um miradouro natural com vista panorâmica. Para onde quer que se olhe, vêem-se vinhas – 300 hectares de vinha, para sermos mais precisos.

“PARA SAIR DA BANCA, ONDE TIVE UMA CARREIRA BOA, NÃO PODIA SER PARA FAZER VINHO A GRANEL. TINHA DE SER UMA COISA COM MAIS AMBIÇÃO”

Foi aqui que começou a nova vida de José Luís, quando em 1990 abandonou uma carreira internacio­nal na banca para se dedicar aos vinhos, na quinta que estava na sua família desde o século XIX. “Quando peguei nisto, a exploração directa de vinha não chegava a 60 hectares. Tínhamos terrenos cedidos a uma centena de rendeiros que tivemos de recuperar”, conta. Joaquim Santos Lima, o bisavó de José Luís, tinha sido “um grande produtor e exportador de vinhos no fim do século XIX.” Sempre se produziu vinho aqui, mas vendia-se a granel, em barricas. “Para me meter nisto”, diz José Luís, “para sair da banca, onde tive uma carreira boa, não podia ser para fazer vinho a granel, tinha de ser uma coisa com mais ambição”. Em 1990, plantou vinhas novas, e as tradiciona­is castas Castelão, Tinta Miúda e Camarate passaram a ter a companhia das que hoje são considerad­as as “castas nobres” do País: Touriga Nacional, Touriga Franca, Alicante Bouschet. Também os processos de vinificaçã­o mudaram. “Começámos a fazer fermentaçõ­es longas para maior extracção, o que originou vinhos com outra estrutura e perfil que surpreende­ram o mercado”, explica. Os últimos resultados – mais de 20 anos depois da primeira colheita que originou os vinhos Quinta da Espiga, Quinta das Setencosta­s, Palha-Canas – excederam as ambiciosas expectativ­as de José Luís. Hoje, a Casa Santos Lima é o maior produtor da região de Lisboa – este ano vão ter 16 milhões de garrafas – e produz vinho também no Douro, na região de Vinhos Verdes, no Alentejo e até já chegou ao Algarve – além de ter mais dois terrenos no concelho de Alenquer. Isto faz com tenha um portefólio alargado de vi-

nhos das principais regiões portuguesa­s. O que, quando 90 por cento da sua produção se destina à exportação, é uma clara mais-valia: “Optámos por não ter uma imagem corporativ­a, mas sim 120 marcas que nos permitem oferecer em certos mercados, e a uma variedade de importador­es, produtos muito diferentes”, revela. O produtor gostava de ver mais vinhos da região nos restaurant­es de Lisboa – considera que é algo que “não se pode impor e que acabará por acontecer”. Já nos mercados escandinav­os, o seu principal importador, “privilegia-se a relação qualidade-preço”, diz. Nesses países, onde o vinho é vendido em lojas controlada­s pelo Estado, só entra o vinho que for aprovado por um júri. Se passar, vai para as lojas. Mas se não vender com expressão, rapidament­e sai. Os vinhos de José Luís ficam. “Lá fora ninguém sabe a diferença entre um vinho do Douro e de Lisboa. Os que bebem compram porque gostam.”

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José Luís Santos Lima Oliveira da Silva deixou a banca, em 1990, para fazer vinhos. É o maior produtor de Lisboa
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As vinhas preenchem a paisagem na sede da Casa Santos Lima, na Quinta da Boavista, Alenquer
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A visita guiada à adega, uma das propostas de enoturismo da Casa Santos Lima, inclui a sala das barricas
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Os portões da quinta que já no século XIX produzia vinho. Os edifícios antigos surgem à direita de quem entra

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