A VIDA AOS 23 ANOS, POR UM “BETINHO DO RESTELO”, EM LISBOA E NO PORTO
“Quem é este miúdo?” A pergunta invadiu muitas cabeças quando, a praticamente um mês da estreia de Impasse , de Pedro Teixeira da Mota, no Teatro Tivoli BBVA, os bilhetes para o espectáculo esgotaram e, às primeiras datas anunciadas – 14 de Novembro na sala lisboeta e 18 no Hard Club, no Porto – se juntou outra, a 15. “É natural que quem me costuma seguir na Internet me queira ver na minha estreia ao vivo, a solo”, justifica-se.
Este “a solo” é um dado importante, pois Pedro – que se assume como “um betinho do Restelo” por ter estudado na secundária desse bairro abastado e na Universidade Católica – não é um estreante absoluto, tendo assegurado as primeiras partes de Voz da Razão, o espectáculo de Luís Franco-Bastos – com quem criou também o programa
Erro Crasso, transmitido no YouTube – que percorreu Portugal em 2016.
O namoro com o humor vem, porém, da adolescência: “Sempre fui aquele que diz piadas e põe a turma a rir, mas só encarei isso a sério aos 12 anos, quando recriava sketches dos Gato Fedorento, de que era fã.” A meio do curso de Gestão – “terminado em sofrimento” por imposição dos pais, para quem um canudo era um plano B necessário e que “afinal até deu jeito” porque o tornou “mais organizado, capaz de estruturar os textos em tabelas Excel” –, Pedro foi um dos fundadores do quarteto Bumerangue, inovando o humor no YouTube com sketches de dois minutos. O sucesso levou o projecto à SIC Radical e em 2014 já Pedro figurava nos cartazes de festivais como o NOS Alive e o Famous Fest, a fazer stand-up. Actualmente, o seu “balão de ensaio”, onde testa histórias e ideias, é o podcast
Ask.tm, um dos mais ouvidos em Portugal e que “foi inspirado no Congratulations, onde Chris D’Elia passa uma hora a falar”. O de Pedro, porém, é diferente: “Falei disso ao Salvador Martinha, que acabou por criar um podcast antes de mim, nesses moldes. Portanto, fiz uma variante, em que desafio as pessoas a lançarem um tema ou uma pergunta, através do Twitter, para eu desenvolver.”
Certo é que fala muito sobre si próprio e sobre o mundo, que gosta de “analisar a fundo, abordando coisas mundanas de forma filosófica e explorando, em muitas camadas, situações aparentemente básicas”. O método, no entanto, é o diálogo: “Percebi há muito que é em conversa com as outras pessoas – os meus amigos, a minha irmã advogada, que aparece nos meus vídeos... – que se tem as melhores ideias.” Muitas delas – como o que ele não gosta em si próprio ou a sua relação com as mulheres – estão em Impasse, que admite ser “um espectáculo egocêntrico”, em que fala da vida dos jovens de 23 anos, como ele, “já fora da casa dos pais, mas ainda sem dinheiro e sem saber preencher o IRS”. Contudo, o público-alvo – acredita – é mais abrangente: “Acho que quem tem 15 anos e quem tem 30 se conseguirá relacionar com o que digo e achar graças, mesmo não se identificando completamente.” Será?