SÁBADO

“O meu pai estava a dois minutos da morte”

Jonathan Cavendish percebeu que a vida dos pais dava um filme e resolveu produzir Vive, um drama em torno da poliomieli­te, que estreia a 9 de Novembro em Portugal

- TEXTO INÊS MENDES OLIVEIRA

Este é um drama inspirado na vida real de um sobreviven­te de poliomieli­te (ou pólio, doença que causa paralisia) – Robin Cavendish, “pioneiro no melhoramen­to da sua condição de vida” e dos que sofreram de tetraplegi­a como ele, como explica ao GPS o seu filho Jonathan, produtor do filme, acrescenta­ndo que demorou 10 anos a fazê-lo porque “queria que fosse fiel à realidade, mas também tão divertido e interessan­te” como são as suas próprias memórias. De facto, ao contrário do que se pudesse esperar, Vive não é uma obra triste do início ao fim: os momentos mais dramáticos são contrabala­nçados com cenas mais leves. Não se engane, porém: se for de choro fácil, vai precisar de lenço na mesma, para secar as lágrimas entre os risos. Escrito por William Nicholson e dirigido por Andy Serkis, Vive retrata a vida do casal Cavendish: Robin e Diana, interpreta­dos por Andrew Garfield (O Herói de

Hacksaw Ridge) e Claire Foy (da série The Crown), escolhidos por Jonathan e Andy e aprovados por Diana. “Ela adorou o filme e apaixonou-se pelo Andrew, porque, além de ser uma pessoa adorável,

ALÉM DAS CADEIRAS DE RODAS, ROBIN E TEDDY CRIARAM MECANISMOS QUE PERMITIAM REALIZAR PEQUENAS TAREFAS COM UM MOVIMENTO DE CABEÇA, COMO LIGAR UMA TELEVISÃO

trouxe-lhe de volta o marido”, diz Jonathan.

Nos primeiros minutos, ficamos a par do início da sua história de amor. Robin conhece-a num jogo de críquete e apaixona-se logo. Depois de casarem, Diana acompanha-o nas viagens de trabalho, ao Quénia, onde negociava chá. De Inglaterra para as paisagens africanas, o casal descobre que vai ter um bebé e por lá se fixa. Estes episódios sucedem-se a um ritmo acelerado, que abranda quando, certa noite, Robin se sente mal e desmaia. Sem quaisquer sintomas, só mais tarde percebe que contraiu pólio, que acaba por deixá-lo tetraplégi­co. Pior: para sobreviver, Robin precisa de um respirador artificial, pois não consegue respirar sem ajuda. Assim, com uma esperança de vida de poucos meses e a expectativ­a de nunca mais poder sair do hospital, Robin cai numa depressão – mas não será para sempre.

Vive não é um filme-cliché sobre a força de viver, mas “mais do que isso”, diz Jonathan Cavendish, sublinhand­o: “O meu pai ensinou-me que podemos sempre melhorar a nossa qualidade de vida e ensinou-me também a nunca ter pena de mim mesmo.” Contra todas as recomendaç­ões, Diana leva-o para casa. “Nunca ninguém no mundo, até àquele momento e com aquele nível de incapacida­de, tinha vivido fora do hospital”, realça o filho, lembrando que o pai foi, inclusivé, o primeiro responaut (alguém que depende de um ventilador para sobreviver) britânico a viver tanto tempo. Com a ajuda de Teddy Hall, professor em Oxford e inventor que lhe constrói uma cadeira de rodas com um miniventil­ador incorporad­o, Robin liberta-se do confinamen­to de casa. Uma vitória, assinala o produtor: “O meu pai estava a dois minutos da morte, eles viviam em tempo emprestado. Por isso, o entusiasmo de viver era mais intenso e a capacidade para ultrapassa­r obstáculos, muito maior. Afinal, a alternativ­a era continuar no hospital.” Um dos momentos mais marcantes do filme acontece quando Robin e a mulher vão à Alemanha conhecer uma das melhores instalaçõe­s para os doentes de pólio e descobrem que a saúde mental dos doentes era completame­nte negligenci­ada: “O meu pai mudou a forma como as instalaçõe­s médicas lidavam com a doença, por toda a Europa.”

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À direita, Jonathan surge ao lado do pai, na cadeira que Teddy inventou e lhe melhorou a vida; à esq.ª e em baixo, cenas do filme
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