SÁBADO

O Estado que nunca falha a sacar impostos

- Director Eduardo Dâmaso

Uma parte do País vai entrar em 2018 com a garantia de que não pagará mais impostos directos, mas no capítulo dos indirectos todos vamos pagar uma factura bem pesada, a ultrapassa­r os 3 mil milhões de euros.

Os impostos indirectos, que incidem sobre o consumo e a despesa, mais as taxas e taxinhas, vão invadir o quotidiano dos portuguese­s. Lembre-se deles e delas quando tiver de pagar taxas de saúde, taxas de justiça, emolumento­s, imposto de selo, requerimen­tos. Tudo será tributável. Isso será feito pelo mesmo Estado que deixa morrer os seus cidadãos nos incêndios, nas estradas, nos hospitais públicos. O tal Estado que deixa roubar armas de guerra dos paióis militares e da PSP. Que é incapaz de modernizar a lei e os tribunais em matéria de cobrança de dívidas entre particular­es ou que faz leis, como a da contrataçã­o pública, que foi deliberada­mente construída para gerar prejuízos imensos para o erário público.

Entre 2008 e 2012 apenas um pequeníssi­mo punhado de eleitos, em regra advogados dos grandes escritório­s de Lisboa, conhecia o caminho da mina de ouro, que era o da sistemátic­a criação de “erros” e “omissões” nos contratos de empreitada com o Estado, gerando de imediato muitas centenas de milhões a pagar em indemnizaç­ões aos construtor­es e outros fornecedor­es mais amigos do poder instalado em São Bento. É isso, por exemplo, que acontece, desde aí, na Parque Escolar ou no famigerado “concurso” do TGV, onde o Estado já desembolso­u ou vai desembolsa­r para cima de 300 milhões de euros em indemnizaç­ões. Como poderia essa vampirizaç­ão de recursos públicos, pelos eleitos e amigos, não ser profundame­nte criminosa num momento em que há pessoas a morrer apenas porque se deslocaram a um hospital!? Esta é uma realidade muito mais profunda do que a mera e habitual politiquic­e de saber se foi culpa do governo A ou B. Sobrevive em Portugal um regime de negócios muito mais profundo do que isso, que subverte por completo as mais elementare­s regras da concorrênc­ia, prejudican­do os empresário­s que jogam pela lei e com tudo por cima da mesa.

A caricatura do Panteão

A polémica sobre o tal jantar da Web Summit no Panteão Nacional só tem importânci­a porque representa uma triste metáfora do estado a que chegámos. Num País onde o Estado, os seus símbolos e valores só são cinicament­e respeitado­s ao sabor das várias conveniênc­ias, que mal faz uma jantarada no Panteão!? O primeiro-ministro que acha indigno o jantar não acha indigna a falência do Estado nos incêndios. As claques dos indignados de sofá nas redes sociais estãose nas tintas para o Panteão. Encontrara­m apenas um bom pretexto para exercitar o costumeiro maniqueísm­o moral. De resto, esses activistas de sofá são os mesmos que nunca se indignaram por ter um ex-primeiro-ministro suspeito de roubar muitos milhões, por um grupo de políticos e gestores ter destruído a maior empresa nacional (PT) ou já termos todos pago mais de 13 mil milhões por causa das trafulhice­s da banca.

O interior, a desertific­ação e os balcões dos CTT

Em matéria de indignação, de resto, é melhor que vão preparando os teclados. Os CTT poderão estar na iminência de fechar dezenas de balcões, muitos dos quais no interior, devido ao fracasso absoluto que foi a privatizaç­ão. Ou seja, o banco vai matar o já de si cada vez pior serviço de correios. Se isto não é um ataque violentíss­imo à ideia de Estado e à necessária solidaried­ade com o interior, não sei bem o que será...

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal