SÁBADO

O artista é uma merda, a arte não

- Pedro Marta Santos Jornalista e argumentis­ta

A actual torrente de acusações de assédio e agressão sexual, que varre Hollywood como um maremoto que não deixará pedra sobre pedra, tem suscitado alguns equívocos. Ninguém discute que os acusadosex­emplarment­e punidos pelo seu comportame­nto, no plano ético e, sobretudo, judicial. Mas apagar um criador dafo to grafiaà boa maneirada face da Terra, éumaidiot ice contraprod­ucente. Se anulássemo­s todas as criações artísticas cujos autores tiveram comportame­ntos moralmente condenávei­s, não haveria arte. Picasso levou duas mulheres à loucura e outras duas ao suicídio. Flaubert era pedófilo, Yeats, um fascista, e Elia Kazan, um delator. O anti-semitismo de T.S. Eliot é conhecido, e o que dizer do fraquinho de Woody Allen por filhas adoptivas menores? CharlesMcG­rath já o explicara noThe New York Times em 2012: a arte e a moral são dimensões humanascom frequência, opostas. Ou querem proibir o retrato amável da pederastia no Lolitade Nabokov, ou o rimes de sangue de Caravaggio no génio chiaroscur­o da sua obra? Continuare­i a ver com entusiasmo o mutante Fingers de James Toback, o momento em que o conde Laszlo de Almásysa ide umagrut anos confins do Sahara com o corpo sem vida de Katharine Clifton, amor de mil anos e um dia, e mO Paciente Inglês( produzido pela Miram axd eH arveyW einstein) ou a lindíssima mecânica do horror de Seven de David Fincher, em que Kevin Spacey surge, a 25 minutos do fim, como o anjo do Mal que talvez seja na realidade. Façam o favor de julgar o artista, não a arte que ele produziu. W

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