O artista é uma merda, a arte não
A actual torrente de acusações de assédio e agressão sexual, que varre Hollywood como um maremoto que não deixará pedra sobre pedra, tem suscitado alguns equívocos. Ninguém discute que os acusadosexemplarmente punidos pelo seu comportamento, no plano ético e, sobretudo, judicial. Mas apagar um criador dafo to grafiaà boa maneirada face da Terra, éumaidiot ice contraproducente. Se anulássemos todas as criações artísticas cujos autores tiveram comportamentos moralmente condenáveis, não haveria arte. Picasso levou duas mulheres à loucura e outras duas ao suicídio. Flaubert era pedófilo, Yeats, um fascista, e Elia Kazan, um delator. O anti-semitismo de T.S. Eliot é conhecido, e o que dizer do fraquinho de Woody Allen por filhas adoptivas menores? CharlesMcGrath já o explicara noThe New York Times em 2012: a arte e a moral são dimensões humanascom frequência, opostas. Ou querem proibir o retrato amável da pederastia no Lolitade Nabokov, ou o rimes de sangue de Caravaggio no génio chiaroscuro da sua obra? Continuarei a ver com entusiasmo o mutante Fingers de James Toback, o momento em que o conde Laszlo de Almásysa ide umagrut anos confins do Sahara com o corpo sem vida de Katharine Clifton, amor de mil anos e um dia, e mO Paciente Inglês( produzido pela Miram axd eH arveyW einstein) ou a lindíssima mecânica do horror de Seven de David Fincher, em que Kevin Spacey surge, a 25 minutos do fim, como o anjo do Mal que talvez seja na realidade. Façam o favor de julgar o artista, não a arte que ele produziu. W