“JÁ AGORA VAMOS AO PENTA”
Bagão Félix diz que depois do penta vai deixar de seguir tanto o Benfica. Pedro Nunes, treinador de hóquei, ainda não digeriu a perda do campeonato
As Conversas com Futuro desta semana são com dois benfiquistas: António Bagão Félix, antigo ministro da Segurança Social e das Finanças, que é também um homem de fé e tem uma grande paixão pela botânica; e Pedro Nunes, treinador da equipa de hóquei em patins do Benfica, considerado nos últimos dois anos o melhor do mundo e que como seleccionador levou Moçambique ao 4º lugar no Mundial de 2011.
Bagão Félix, quando começou a sua paixão pelo Benfica?
António Bagão Félix (A.B.F.) – Fui benfiquista não sei porquê. Ninguém me influenciou. Evidentemente, com 13 anos o Benfica foi campeão europeu e isso consolidou e reforçou o meu amor clubista, mas é daquelas coisas que nem sei explicar.
Sofre muito pelo Benfica?
A.B.F. – Sofro. Julgava que isso passava com a idade, mas não passa. Eu de vez em quando tenho de tomar uns medicamentos, uns betabloqueantes para o coração e outras coisas, para suportar o futebol, o hóquei e o voleibol, em que sofro mais. No basquetebol também, mas só nos últimos três minutos, é um pouco diferente. Prometi à minha mulher que se fôssemos tetracampeões em futebol me distanciava um bocadinho.
E cumpriu a promessa?
A.B.F. – Eu prometi-lhe, mas depois disse-lhe: “Já agora vamos ao penta, não é?”, depois então peço a aposentação.
E o Pedro, como começou a paixão pelo Benfica?
Pedro Nunes (P.N.) – Foi uma imposição do meu avô paterno, que hoje dou graças a Deus por o ter feito.
Também sofre muito pelo Benfica?
P.N. – É verdade. E pelos vistos não vou deixar de sofrer, porque, como diz o doutor Bagão Félix, isto com a idade não passa…
A.B.F. – Agrava, agrava, agrava… P.N. – Temos apenas 20 anos de diferença, mas estou a ver que isto é uma coisa que nos vai acompanhar para o resto da vida.
A.B.F. – Quando está no banco tem um ar muito mais calmo do que eu a ver os jogos de hóquei do Benfica.
P.N. – Eu acho que engano bem.
O que é que mudou no momento em que foi considerado o melhor treinador de hóquei em patins do mundo?
P.N. – Exactamente aquilo que sucede quando acabo de ganhar um título: quero outro logo a seguir. Esse já é passado e temos de começar a reconstruir tudo, para podermos alcançar outro título.
Foi difícil digerir o que aconteceu no final do campeonato, aquele empate polémico (5-5) com o Sporting na última jornada?
P.N. – Confesso que ainda hoje tenho dificuldades em dormir o meu sono seguido.
Foi a arbitragem que afastou o Benfica do título?
P.N. – Não tenho dúvidas. É um golo limpo, um golo que foi validado e de-
“Foi uma decisão errada [golo anulado contra o Sporting], como se comprovou, e que custou o tricampeonato” Pedro Nunes
pois o árbitro voltou atrás com a decisão, durante 25 segundos festejámos o golo, como se fosse se calhar o golo do título. Ainda faltavam 20 segundos para acabar o jogo e tudo poderia acontecer, mas foi uma decisão errada, como se veio a comprovar, e que nos custou o tricampeonato.
Vamos agora mudar aqui um bo- cadinho de orientação. Este programa chama-se Conversas com Futuro, mas o Bagão Félix gosta mais do passado.
A.B.F. – Gosto mais do passado por várias razões. O nosso exemplo para com os nossos filhos e netos, para com os nossos amigos, está no que já foi, não no que vai ser. Este é o primeiro ponto. A memória é um celeiro de vida e nesse sentido eu gosto do passado, até por uma circunstância que acho muito interessante: quantas vezes o presente que, para nós, foi agreste numa determinada circunstância, com o tempo, transformado em passado, esse presente agreste se adocicou, se tornou mais fácil de recordar? Às vezes até ganhamos mais sentido de humor olhando para o nosso passado.
P.N. – Olho para o passado, às vezes, de forma nostálgica, porque me lembro da criança que fui, dos momentos que vivi, e que é impensável uma pessoa emotiva como eu, que se entrega e que faz as coisas com alguma paixão, esquecer, e mais do que isso, não lhe dar a devida importância.
O seu futuro pode passar pela selecção nacional de hóquei em patins?
P.N. – Pode, eventualmente. É evidente que quando se treina um clube como o Benfica, e se pensa no que está acima do Benfica, vem-nos logo à cabeça a selecção, mas neste momento vivo intensamente o presente e não faço muitas contas ao futuro.
Bagão Félix, o seu futuro poderá passar pela presidência do Benfica?
A.B.F. – Cheguei a pensar nisso. E com vontade, mas nunca me candidatei porquê? Porque tinha a minha profissão e da qual ganhava o meu ordenado mensal. Portanto, nessa altura não havia condições para ser presidente do Benfica, sem um respaldo financeiro. Agora que já tenho condições porque já estou reformado do ponto de vista formal, evidentemente já não tenho essa apetência e além disso acho que o clube está bem entregue.
Pedro, qual o pior e o melhor momento da História de Portugal nos últimos anos?
P.N. – Melhor, sem dúvida, a conquista do Europeu de futebol há um ano. A forma como se faz política no nosso país, a forma como se faz televisão em Portugal, a forma como os dirigentes desportivos estão no desporto, são coisas que associo a momentos extremamente negativos da nossa vida, da nossa História.
Bagão Félix, pior e melhor momento da História de Portugal, recente?
A.B.F. – Indo ao futebol, o Benfica tetracampeão é o melhor e o golo do Kelvin, o pior. Em termos nacionais, o melhor nos últimos anos foi alguma consciência acrescida da pedagogia, de que não é possível tudo ao mesmo tempo. A crise também é uma ocasião de discernimento. Dolorosa, mas é uma ocasião de discernimento. Isto é o melhor. O pior, acho que é o carácter centrífugo da política em Portugal. Que vai afastando as pessoas, a política vai sendo reduzida às juventudes partidárias, que depois fazem carreirismo na política e a política precisa de pessoas que não dependam da política.
“Tenho de tomar uns medicamentos para o coração, para suportaro futebol, o hóquei e o voleibol, em que sofro mais” Bagão Félix