SÁBADO

A ENÓLOGA DA BACALHÔA

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Trabalhou na primeira

vindima a troco de 50 escudos, ainda miúda na quinta do avô, no Dão. Filipa Tomaz da Costa lembra-se de ter 10 anos e de ficar à mesa, sempre do lado esquerdo do avô, que lhe dava um dedo de vinho com água. Mas estava longe de saber que seria uma das primeiras enólogas portuguesa­s e que estaria à frente dos vinhos de uma das maiores produtoras da região – a Bacalhôa. Filipa Tomaz da Costa começou na casa quando ainda se chamava João Pires & Filhos. “É o meu primeiro e único trabalho. Comecei a ajudar nas vindimas quando ainda estudava, em 1981. Os meus pais conheciam bem o dono, o engº António Francisco Avillez, e eu fui ajudar o enólogo. Eles gostaram de mim e contratava­m-me para as vindimas. Tive a sorte de o enólogo sair e fiquei como directora de enologia.” A Bacalhôa sempre foi uma das mais inovadoras, defende Filipa, que quando se formou nem existia curso de Enologia em Portugal. Conta que fizeram o primeiro vinho branco a partir de uvas Castelão. Depois, a João Pires & Filhos foi comprada por uma multinacio­nal e passou a J. P. Vinhos e em 1998 Joe Berardo tornou-se o principal accionista. Dois anos depois, comprou a Quinta e o Palácio da Bacalhôa e a empresa passou a chamar-se Bacalhôa Vinhos. Hoje produz 20 milhões de litros, tem 1.200 hectares, uma facturação de 45 milhões de euros, e está presente em sete regiões. Mas o que torna especial a zona de Setúbal? “Temos uma serra virada a sul e escarpas para o mar. Aqui os brancos beneficiam de uma maturação mais lenta, permitindo manter a acidez natural, o que dá maior qualidade.” Aliás, os brancos são os vinhos preferidos da enóloga, que, no princípio da carreira, recebia faxes dirigidos a Filipe. Não podia ser uma Filipa num mundo de homens. A mesma Filipa que tem como máxima: “O pior dos crimes é fazer um vinho mau, engarrafá-lo e servi-lo aos amigos.” O grupo Bacalhôa já recebeu 3.500 prémios, muitos deles para os vinhos de Filipa. Destaque para o Bacalhôa Moscatel Roxo Superior 2002, que alcançou mais de 20 medalhas de ouro e platina em concursos nacionais e estrangeir­os.

COMEÇOU QUANDO A CASA ERA JOÃO PIRES E POUCAS ERAM AS MULHERES A FAZER VINHO. FILIPA TOMAZ DA COSTA ATÉ RECEBIA FAXES EM NOME DE FILIPE

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Barricas com Moscatel a estagiar. Filipa Tomaz da Costa, de 59 anos, prova um dos seus vinhos
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O laboratóri­o da adega, onde se analisam os vinhos. Trabalham lá quatro pessoas

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