O MELHOR MOSCATEL DO MUNDO NASCEU NA QUINTA DO ANJO
O truque para fazer o melhor moscatel do mundo está na qualidade das uvas e no tempo de fermentação. Quem nos explica tudo é Fausto Gonçalves, que está na Adega Venâncio da Costa Lima há 23 anos. “As uvas têm de estar no ponto exacto de maturação, em que há um equilíbrio entre açúcares e ácidos. Depois separamos as uvas com problemas e esmagamos as boas para depósitos. Inicia-se a fermentação, mas esta não pode avançar muito”, esclarece o enólogo, que nasceu no Dão e fazia vinho com a família. “O nosso moscatel distingue-se por ser mais doce. Primeiro, porque não deixamos a fermentação avançar muito, ou seja, evitamos que muito do açúcar se transforme em álcool, para que não se perca a doçura. Depois, investimos na maceração. Ao esmagarmos as uvas e adicionarmos a aguardente vínica, vamos deixar estar seis meses o líquido – aguardente – em contacto com as películas. Durante esses meses dá-se a difusão dos aromas das películas para a parte líquida. Queremos obter o máximo de aromas possível.” Em seguida, os moscatéis estagiam em barricas de carvalho francês, já usadas por vinho tinto, para terem mais intensidade de cor. Assim se chega a um Moscatel Roxo 2013, que recebeu este ano a medalha de ouro no concurso Muscats du Monde – o maior de provas cegas destes vinhos fortificados – e conseguiu a
A ADEGA VENÂNCIO DA COSTA LIMA CONTINUA A SER GERIDA PELA FAMÍLIA DO FUNDADOR. A QUARTA GERAÇÃO ACREDITA QUE OS PRÉMIOS FAZEM A DIFERENÇA
proeza de vencer ainda o concurso internacional Challenge du Vin. Foi há sete anos que começaram a ir a concursos. Receberam logo prémios. Até já são repetentes no melhor Moscatel do Mundo. Em 2011 receberam a medalha de ouro com o Moscatel Roxo de 2006, que está esgotado. “É sinal que estamos a fazer bem”, remata Joana Vida, descendente do criador da adega. A Venâncio da Costa Lima – criada em 1914 como Casa Agrícola, que produzia vinho, azeite e cereais – ainda é gerida pela família do fundador, que era filho de talhantes da Quinta do Anjo. Venâncio chegou a ser o segundo maior produtor de vinho da região nas décadas 30-50. Quando morreu, em 1956, como não tinha filhos deixou tudo aos sobrinhos. Joana Vida e João Vasco, netos dos sobrinhos, a quarta geração, são hoje o rosto da mudança. Joana é formada em Engenharia Agroalimentar e tem uma especialização em Enologia; João deixou a carreira de farmacêutico para apostar no negócio de família. Ambos têm memórias da época das vindimas, e João não se esquece de molhar o dedo no alambique da aguardente, apesar de só ter começado a beber vinho aos 30 anos. A adega produz 3,5 milhões de litros, tem 12 marcas e factura em média 3,5 a 4 milhões de euros.