O MUSEU DE JOSÉ MARIA DA FONSECA
Como visionário, José Maria da Fonseca estava sempre a pensar em formas de exportar os seus vinhos – que chegavam a Singapura e ao Rio de Janeiro. E teve uma ideia simples: vinho à consignação. Não sabia ele que pedir aos capitães de navios que levassem o seu Moscatel – o vinho que melhor aguentava a viagem, por ser fortificado – ia deixar uma herança valiosa, que pode ver hoje na Casa-Museu, em Azeitão. “Os vinhos voltavam quando não eram vendidos e percebeu-se que ficavam melhores. Eram vendidos como moscatéis Torna Viagem. No ano 2000, decidimos replicar a experiência, quando a Sagres foi ao Brasil e levou cascos de Moscatel de Setúbal. Guardámos um que não viajou e enviámos seis. Quando chegaram fizemos uma prova cega e ficou provado que o vinho que viajava melhorava de qualidade”, conta António Maria Soares Franco. Os Torna Viagem são vinhos que não estão à venda. “Fazem parte da nossa história e de um processo de estudo científico. Queremos ir estudando este vinho, por exemplo, percebemos que há diferença quando passam a linha do Equador”, explica Sofia Sousa Franco, a responsável pelo enoturismo e comunicação, e que é descendente do fundador. A Casa-Museu é única na região, com 36 mil visitantes no ano passado, todos os dias há visitas de 30 em 30 minutos. É aconselhável fazer reserva para poder escolher que tipo de prova de vinhos quer – pode ser de dois ou de seis. É aqui nesta casa que fica a conhecer José Maria da Fonseca, o matemático que, definem os familiares, foi um dos primeiros marketeers da indústria do vinho. “O vinho tinto era vendido a granel, em barricas de madeira, apenas alguns vinhos do Porto e da Madeira eram engarrafados, mas ele queria garantir a qualidade do seu, por isso começou a engarrafar vinho tinto, o Pe- riquita”, diz António Maria. É possível ver até uma das garrafas mais antigas, de 1880, da empresa que hoje tem 650 hectares de vinha e mais de 30 marcas. “Ele era obcecado pela qualidade e pelo detalhe. Por exemplo, não estava contente com as garrafas de vidro em Portugal, foi buscá-las a Inglaterra. Até os rótulos vinham de França”, explica Sofia. Além de fotografias de época, dos prémios que coleccionam desde 1855, quando venceram a Medalha de Ouro na Exposição Mundial de Paris, e da primeira linha de engarrafamento do século XIX, a visita às adegas é uma experiência impressionante. Sobretudo, a Adega dos Teares Velhos, com música gregoriana, luz soturna e temperatura baixa. As barricas com teias de aranha encaminham-nos para uma porta de metal trancada, com uma pequena janela para espreitar as relíquias: Moscatéis de Setúbal, alguns com mais de 100 anos. Não se pode lá entrar. “A história e os stocks tão antigos são o sal e a pimenta que ajudam a transformar um produto”, explica António Maria.
COM UMA MÉDIA DE 36 MIL VISITANTES E UM CRESCIMENTO DE 20% NO ENOTURISMO, A CASA-MUSEU EM AZEITÃO É A REFERÊNCIA NA REGIÃO