Uma campanha que não leva a lado nenhum
Como se os problemas do PSD não fossem bastantes, a actual campanha eleitoral não defronta nenhum deles a sério. Porque é que sabendo todos os militantes, a começar pelos candidatos, dos graves problemas políticos que tem o partido nenhum fala deles preferindo formulações vagas e juras de continuidade não se sabe bem a quê? A resposta e simples: é que a doença ainda é maior do que se podia pensar. E o possível debate faz-se no meio dos rodriguinhos e dos salamaleques com que em Portugal se discute qualquer coisa, com as maiores baias possíveis, e com uma enorme discrepância entre o que se diz em público e o que se faz na intriga. Esta distância entre o discurso oficial e a intriga, com prevalência desta, não revela apenas uma hipocrisia institucionalizada, mas também que os mecanismos do poder interior dependem muito mais da “contagem de espingardas” do que do esclarecimento e do convencimento. Quando no PSD se precisa urgentemente de levar a sério a discussão sobre o que se passou nos últimos anos, quer do “ajustamento”, quer do pós-geringonça, tudo se refugia em innuendos, sugestões, quando não omissões e mesmo mentiras. Parece que a principal obsessão é parecerem puros e inocentes, como se fosse um crime discordar do curso do partido que o levou à actual situação, a começar pelo abandono da referência social-democrática genética, o namoro com o neoliberalismo e a direita, o crescente caciquismo interior e o seu correlativo carreirismo. Ou nada disto aconteceu? Vá, convençam-me de que nada disto aconteceu.