Pangeia X
Na última operação da Interpol foram apreendidos em todo o mundo mais de 25 milhões de comprimidos, detidas mais de 400 pessoas e encerrados 3.500 sites de venda de medicamentos
Produtos de fácil adulteração
As penas para quem produza ou comercialize suplementos alterados são ainda mais suaves: a adulteração de géneros alimentícios é enquadrada como crime de fraude e punida com prisão até um ano e multa até 100 dias. Havendo negligência, pena de prisão até seis meses ou multa até 50 dias. Todavia, as punições costumam ser mais ligeiras. “Em muitos casos, pagam apenas 25 euros”, diz a inspectora da ASAE Sofia Mil-Homens. “Para esses, o crime compensa.” A entrada no mercado através da fileira alimentar tem menos restrições do que na farmacológica. “Além disso, permite aos fabricantes promover os produtos em anúncios publicitários, o que é vedado às farmacêuticas”, diz o urologista Sílvio Bollini. “E é muito fácil adulterá-los. Na Internet podem comprar-se boiões da substância activa e o embalamento e rotulagem ficam a cargo de uma empresa de vão de escada”, diz Sofia. Isso ajuda a explicar as dezenas de embalagens coloridas dispostas noutra sala do laboratório. São pretensos suplementos naturais que não passaram nos exames, acusando a presença de sildenafil, tadalafil ou substâncias análogas. O Protezon tem duas malaguetas na caixa e o Tauron um touro flamejante, mas os designers destes produtos há muito que extravasaram o conceito de medicamento: há saquetas de café, frasquinhos de rebuçados de mentol e tiras para colocar debaixo da língua. “Faz parte do processo para se descolarem da imagem de medicamentos e para se aproximarem do conceito de alimentos”, diz Maria João Portela. Não passa de uma máscara. “Neste, por exemplo, detectámos três substâncias análogas do sildenafil. É 2,5 vezes mais forte que o Viagra. Representa um enorme risco para doentes cardíacos e até para pessoas saudáveis”, comenta, apontando para a caixa branca do H1 100%.
A ASAE é a instituição que tem mais facilidade em retirar produtos do mercado. “Vamos às ervanárias, sex shops e ginásios, onde os personal trainers são grandes veiculadores de substâncias, identificamos os produtos e os fornecedores e seguimos o seu rasto até à porta de entrada”, diz a inspectora Sofia Mil-Homens. O que funciona em estabelecimentos físicos torna-se mais complexo no