SÁBADO

“A COISA MAIS IMPORTANTE DESTE MUNDO É O AMOR”

Aos 66 anos, o fundador dos Green Windows e criador das Doce é um homem diferente do que era antes dos 40, quando não ia à missa e fumava 60 cigarros por dia – mas continua romântico. Para celebrar meio século de carreira, edita esta semana um novo disco,

- Por Rita Bertrand

Há 50 anos que Tozé Brito escreve canções e grava discos. Em entrevista, fala da infância no Porto, da vida em Londres, das drogas e de Deus

Avoz é rouca, denunciand­o décadas de tabaco e noitadas, e a memória viva, galopando entre a década de 60 no Porto e o presente em Cascais, com os netos nos joelhos e a música tão presente como quando o pai o castigava pelas más notas, impedindo-o de tocar com os Pop Five, a banda com que começou a escrever canções – e já vai em mais de 500 – e a gravar discos, há 50 anos. Pretexto desta entrevista, feita no Café de Buenos Aires, em Lisboa, cujos donos se tornaram amigos de Tozé Brito, “naturalmen­te, por ser cliente habitual”.

Porquê celebrar estes 50 anos de música com um disco?

Não me apetecia escrever 10 canções novas à pressa, quebrar a minha rotina de escrita, mas a editora insistiu. É um facto que gravei a minha primeira canção – You’ll See, no grupo Pop Five – em 1967. Saiu em 1968, tinha eu 16 anos. Teria ficado por aí, mas tinha dois originais feitos, Ser Tudo Para Ti e

Amanhecer, e fiquei indeciso. Entretanto descobri que havia canções minhas no vinil, que nunca foram editadas em CD. Fui à procura delas e percebi que ninguém as tem, ninguém as conhece, portanto são como inéditos. Fez mais sentido para mim regravá-las do que aos meus êxitos de sempre. Que sentido tinha cantar o Papel Principal da Adelaide Ferreira? Aquilo é para ser cantado por uma mulher! Aproveitei também para estar com amigos. Chamei o António Zambujo para o Olá, Então

Como Vais, que só tinha cantado com o Paulo de Carvalho, a Ana Moura para Não Hesitava Um Segundo, a Ana Gomes e o meu genro.

Ainda aí vem uma autobiogra­fia?

Um livro baseado na minha vida, sim, mas não uma biografia clássica. O Luciano Reis já escreveu essa.

Nela, contou que foi abusado sexualment­e. O que aconteceu?

Uma criada lá de casa, no Porto, meteu-se na minha cama. Eu tinha 10 anos e aquilo marcou-me.

Eram próximos, já amigos?

Nada, ela era simplesmen­te louca.

Percebeu que era algo errado?

Percebi que era anormal, que se estava ali a passar qualquer coisa que não devia ser assim. Hoje, com a televisão e a Internet, as crianças estão mais preparadas, percebem tudo melhor. Eu não fazia ideia do que se estava a passar.

Tornou-se receoso das mulheres?

Ansioso, não receoso. Houve uma fase, na adolescênc­ia, com as primeiras namoradas, em que nunca sabia se estava a proceder bem. Também não tinha modelos...

Alguém tem?

Pois não, mas eu tinha aquele trauma! Quando não tens traumas, atiras-te de qualquer maneira, a ver como é. Eu tinha aquela coisa na memória, tinha sido criticado – porque ela teve o desplante de me dizer: “Tu não sabes nada de nada!” Que raio devia eu saber aos 10 anos? Ainda se não fosse o irmão mais velho...

Era costume levar os rapazes às prostituta­s, não era?

A mim ninguém me levou, mas fomos todos, os cinco Pop Five, com 15, 16 anos, na base da experiênci­a.

Foram a um bar de alterne?

Qual quê! A casas de passe, com as madames, bordéis à antiga.

Não eram proibidos?

Em 1967 eram legalíssim­os, tinham médicos. Sinceramen­te, acho mais

Já tinha celebrado os 45 anos de carreira. Houve compilação, concerto, a biografia...

“Houve uma fase, com as primeiras namoradas, em que nunca sabia se estava a proceder bem”

“Em 1967os bordéisera­m legalíssim­os. Acho mais escabroso abriro jornal hoje, com mulheresa oferecer-se”

escabroso abrir o jornal hoje, com mulheres a oferecer-se, nas mais variadas posições. Era preferível um esquema legalizado, onde um homem, ou rapaz, pudesse ir.

Como foi a sua infância?

Cresci no Porto, com os meus avós paternos, que me marcaram imenso. Os maternos não os conheci, morreram cedo, mas a minha avó Lídia, mãe do meu pai, foi quem me criou. Não havia creches, fui para o jardim-escola João de Deus aos 4 anos.

Vivia com eles?

Vivíamos todos juntos: os meus avós, os meus pais e três filhos – e mais tarde, 15 anos depois, porque a minha mãe queria muita ter uma rapariga e à quarta teve sorte, lá nasceu a minha irmã Teresa.

Sim, sobretudo ao fim-de-semana, porque além dos meus avós, pais e dos meus irmãos Pedro e Nuno, todos com diferença de dois anos, juntava-se lá em casa o irmão mais velho do meu pai, o meu tio António, e a mulher, a tia Lena, que tinham três filhas praticamen­te das nossas idades. Era uma alegria perfeita.

O que fazia o seu pai?

Foi administra­dor da companhia de seguros Tranquilid­ade, mas começou por baixo, como escriturár­io, e foi subindo até vir morar para Cascais, porque lhe ofereceram lugar na administra­ção, em Lisboa.

E a sua mãe?

Dava formação nos CTT.

E onde entrava a música?

O meu pai tocava, com o meu tio. Pegavam nas violas e cantavam a toda a hora. Chegaram a fazer coisas para a rádio, em directo, aqueles serões para os trabalhado­res, com as canções das revistas, mas nunca quiseram fazer vida disso. Para o meu pai, ser músico era para gente louca, uma vida de alto risco, de inseguranç­a. Portanto, eu tinha era de tirar um curso, como ele, que fez Economia. Foi uma uma guerra, comigo a dizer sempre: “Vou ser músico, custe o que custar.”

Mas quando era miúdo, ele até achava graça que tocasse...

Achou graça até eu ter as minhas bandas, primeiro o Grupo 4, que fazia bailes no liceu, nos bombeiros, e depois o Pop Five, que já era mais a sério. Ele entalava-me, punha-me numa situação terrível: se tirasse uma negativa, proibia-me de ir tocar. Era uma chantagem psicológic­a tal que eu andava desfeito. Estudava e tinha boas notas, porque tinha medo de não poder ir tocar.

Todos os irmãos tocavam?

Sim, e o meu irmão Pedro é melhor músico que eu. Seguiu as pisadas do pai, a área financeira, mas é um grande guitarrist­a.

Escreveram canções juntos?

Muitas. A primeira canção que as Doce levaram ao festival – a Canção

Doce –, é minha e dele. Tal como À Tua Espera, que a Simone de Oliveira levou ao festival da OTI.

E os outros?

O Nuno nunca ligou, mas a Teresa canta lindamente. Chegou a ir a festivais [nos anos 90, com Plural], mas sempre numa óptica de amadora. Foi sempre educadora de infância, hoje é presidente da Fundação Maria Ulrich.

Às vezes juntam-se todos?

Claro, no Natal e outras festas, vivemos todos em Cascais. Somos 22, entre a minha mãe, que faz 90 anos e está óptima, ainda vive sozinha, os irmãos, as mulheres, a filharada... Todos temos filhos, mas eu sou o único que já sou avô.

Quantos netos tem?

Seis, quatro rapazes da minha filha Ana, que tem 43 agora, e um rapaz e uma rapariga da Niki, que tem 40 – o mais velho, o João, tem 14 anos, e o Zé é o mais pequenino, tem 1.

Sabe os signos deles?

Sei quando nasceram, mas não percebo nada de signos. Sei que sou um Virgem estranho, dizem-me que sou “arraçado de Leão”, por ser de 25 de Agosto, e que a minha mulher é Gémeos, de 9 de Junho, e as minhas filhas Balança e Aquário. Mais nada.

Antes da Tessa, namorou “a sério” com alguém?

Sim, dois anos. Foi o meu primeiro grande amor.

Escreveu canções para ela?

Muitas, mas não revelo quais.

E para a Tessa?

Ainda mais, mas não importa: as canções, depois de editadas, são do público. Posso dar só um exemplo: o tema que abre o novo álbum, Canção do Amor para Sempre.

Como foi a vossa história? Andava à procura de noiva?

Quando conheci a Tessa, durante meses fomos apenas amigos. Ela estava de férias em Cascais, com a melhor amiga dela, a Jane, que ainda hoje é nossa grande amiga. Conversáva­mos, passeávamo­s, mas elas tinham a vida delas e eu a minha, bem preenchida, com o Quarteto 1111. Não andava à procura de relações, nem de nada, mas aos poucos fui conhecendo melhor a Tessa e percebendo que ela era uma pessoa especial, com caracterís­ticas difíceis de encontrar, e em Portugal, com latinas, ainda pior...

Por exemplo?

Paciência para me aturar os disparates! Nesses primeiros tempos, dizia e fazia coisas descabidas, e ela tinha essa paz, a calma de olhar para mim de forma objectiva e dar-me um desconto. E saía de mala e andava fora que tempos... Pouco depois de começarmos a namorar, estive três meses no Japão com o Quarteto 1111,

Era uma animação, essa casa... “O meu irmão Pedro é melhor músico que eu. Seguiu as pisadas do pai, mas é um grande guitarrist­a” “Sempre fui mais bemcomport­ado que mal, mas não quer dizer que não me tenha portado mal meia dúzia de vezes”

e tinha 20 anos. Não é fácil ter estômago para aguentar isso e depois, à chegada, não fazer muitas perguntas. Na realidade, esse é o segredo: não tocar no assunto, deixar que a gente fale...

Portava-se mal? Tinha casos?

Fui sempre mais bem-comportado que mal, mas não quer dizer que não me tenha portado mal meia dúzia de vezes. E claro que tivemos crises, estivemos separados dois anos – e não foi no início do casamento, foi há cerca de 10 anos.

Por causa de outra pessoa?

Houve outra pessoa, sim, mas não foi por causa dela que nos separámos. Eu não estava feliz, o que é normal ao fim de 35 anos, e ela também não. Mas resolveu-se.

E em novos, zangavam-se?

Tivemos discussões, de eu ir dormir no quarto ao lado... mas há 10 anos foi a única vez em que saí de casa.

Terem sido pais pouco depois de casarem ajudou à longevidad­e?

Sim, uniu-nos. Casámos em 1972, eu com 21, a Tessa com 20, e em 74 fomos pais, tinha 23 anos, ela 22.

Onde nasceram as vossas filhas?

Ambas em Inglaterra. A primeira, porque estávamos a viver lá. A segunda, porque a Tessa não confiava no sistema de saúde português.

No 25 de Abril estava, portanto, lá.

Ligaram-me logo, estava a preparar-me para sair de casa para trabalhar, às 7h da manhã, a dizer que podia voltar. Mas não fui logo, tinha medo porque era desertor. Tinha feito a recruta, à espera de ir para um serviço onde estavam o Paulo de Carvalho, os meus amigos dos Sheiks e tudo o que era músico e actor, para criar uns espectácul­os para percorrer as colónias. Essa era uma tropa que não me importava de fazer, embora fosse contra o regime, mas como o Quarteto 1111 tinha canções proibidas, era considerad­o subversivo, não me puseram nesse serviço. Portanto, fugi.

Que trabalho tinha em Londres?

Traduzia de português e espanhol para inglês, numa companhia de seguros: havia navios que afundavam e os comandante­s eram sul-americanos e faziam relatórios de 100 páginas a explicar o que tinha acontecido. Era chato, mas bem pago.

E tirou um curso de Psicologia...

Não era filho de milionário­s, felizmente, o que me obrigou a trabalhar, portanto das 9 às 5 estava na companhia de seguros, depois ia a correr para Tottenham Court Road, onde era a Birkbeck College, onde estudava, e das 6 às 10 estava com aulas. Às 10 ia para casa, que era a 50 quilómetro­s de Londres, de comboio, normalment­e a estudar, e chegava às 11 e meia, com a Tessa mais para lá do que para cá, mas à minha espera. Esses anos foram violentíss­imos.

Equacionou deixar a música?

Sim, porque o nível dos músicos era muito superior. Quando cheguei a Londres, apanhei um susto: havia gente brutal a tocar no metro.

Mantinha contacto com o Quarteto 1111 [para onde entrou em 1970, deixando os Pop Five]?

Sim, eles gravavam em Londres. Ou melhor, os Green Windows, o projecto paralelo do Quarteto. Foi lá que gravámos o êxito Vinte Anos.

É o seu maior orgulho?

É um orgulho ver a canção perdurar, mas não é das coisas melhores que escrevi com o José Cid.

Trabalhara­m nela juntos?

Sim, ao mesmo tempo na letra e na música, tal como em Todo o Mundo

e Ninguém, por exemplo.

A canção de 1970 que Jay-Z usou no seu último álbum?

Essa – que talvez seja melhor que os Vinte Anos, que é especialme­nte eficaz porque conta uma história com que toda a gente se identifica.

E por ser romântica?

As canções românticas são as melhores, as outras são uma chatice.

Mas acredita no amor eterno ou é só uma questão de estilo?

É uma questão de gosto e é o que sinto: a coisa mais importante deste mundo é o amor.

Isso não é ingénuo?

Bom, eu desiludi-me. Escrevi canções proibidas, contra o regime, mas fui percebendo que as revoluções não acontecem porque se escrevem canções revolucion­árias, o capital é que está por trás de tudo. O dinheiro manda, nenhuma canção pode mudar o mundo, e as ideologias vão morrendo pelo caminho, mas o

amor nunca passa de moda. Deixei de ligar a questões ideológica­s.

Quando?

Por volta dos 40 anos, quando fui para a BMG, a primeira multinacio­nal de que fui presidente. Na Polygram tinha sido A&R, uma coisa mais artística, lidava directamen­te com os músicos, e vi-me transforma­do no patrão. Percebi que o poder está onde está o dinheiro e isso tirou-me os lirismos, tornou-me mais racional.

Continua a escrever canções. É por necessidad­e ou podia viver só dos direitos de autor?

Não morreria à fome, mas teria de abdicar de ir ao estrangeir­o quando me apetece, comprar discos, filmes e livros... Teria de cortar para um terço.

Pratica desporto?

Jogo golfe há uns 35 anos, sobretudo perto de casa, na Penha Longa, na Quinta da Marinha... mas os melhores campos são nos Estados Unidos e tive uma grande experiênci­a na Escócia, no campo de St. Andrews, onde o golfe nasceu... Um frio, uma ventania! Só lá joguei uma vez e tive vergonha, parecia um nabo.

Já era dado ao desporto em novo?

Joguei andebol, federado, no Académico do Porto, mas depois tive de optar: os concertos eram ao sábado à noite e os jogos ao domingo de manhã. Não era compatível.

Fazer desporto terá contribuíd­o para não entrar a sério nas drogas, como era vulgar entre os artistas dos anos 70 e 80?

Experiment­ei tudo e não fiquei agarrado a nada, creio que tem a ver com a minha personalid­ade, não ter queda para a adicção...

Mas gostou das experiênci­as?

Se calhar do que mais gostei foi de vinho tinto, que ainda bebo. Aliás, bebo regularmen­te, desde os 18. Mas lembro-me de sensações boas... com LSD, por exemplo, ou com psilocibin­a [vulgo cogumelos mágicos]. Estávamos na fase de experiment­ar...

Em que contexto? Músicos?

Sim, mas não em contexto de grupo: o Zé Cid nunca quis experiment­ar nada, por exemplo. Mas eu sou curioso. Tenho é a sorte de não ficar agarrado, de ter facilidade de me desligar seja do que for – tirando a família. Pode doer um bocadinho, mas o importante é seguir em frente.

É muito pragmático...

Faço tudo para ser feliz.

Não fazemos todos?

Há quem se martirize com coisas ridículas, como mudar de casa...

Também não evita mudanças? Está há quase 50 anos com a mesma mulher...

Isso é porque gosto dela! Mas se ela me obrigasse a mudar, não ia ficar a chorar ou atirar-me da ponte.

Não chorava?

Com certeza, não sou insensível, mas não me ia suicidar, nem bater com a cabeça durante meses. Para quê? A vida é para viver! E devemos respeitar a vontade dos outros: quando o Zé Cid, que era o irmão mais velho que eu não tive, me disse em 1976 que ia sair do Quarteto para fazer uma carreira a solo, que pena que tive! Mas ele tinha direito a ser feliz e eu segui a minha vida. Criei os Gemini.

Eram uma espécie de ABBA?

Era o mesmo tipo de formação, mas musicalmen­te não tinha nada a ver.

Mas era um caminho pop...

Claro, e não havia nada assim em Portugal, como nunca tinha havido um grupo só de mulheres e acabaram os Gemini em 1979 e nasceram logo as Doce, pela minha mão.

Tem tido muitos sustos de saúde?

Alguns, o primeiro e mais marcante foi aos 40 anos: fumava desde os 15, três maços de cigarros por dia, e apanhei uma pneumonia. Estive de molho duas semanas e depois fui fazer uma radiografi­a: disseram-me que tinha um enfisema pulmonar. Deixei de fumar nesse dia.

E passou a ter certos cuidados?

Sim, para sempre: com temperatur­as, correntes de ar... Para qualquer infecçãozi­nha, tenho de tomar antibiótic­o. E ando medicado, para dilatar os alvéolos e ter mais capacidade respiratór­ia. De resto, é o desgaste da máquina: o meu estômago já não aguenta o que aguentava, porque são muitos anos a beber copos, a comer fora de horas e ir para a cama a seguir e outros disparates... Também tenho uma hérnia do hiato, em alturas de crise lá vêm os Omeprazol, os antiácidos...

Às vezes ainda se embebeda?

Nunca: paro antes. Fico alegre, de grão na asa, mas longe da bebedeira.

Mas teve daquelas de não se lembrar de nada?

Aconteceu-me mais com drogas... Entrei em casas de pessoas, desconheci­das até, a meio da noite, 3 ou 4 da manhã, a achar que estava noutra casa. Não sei como é que não me mataram nem prenderam.

Já casado?

Não. Avarias dessas foi tudo antes, comecei aos 15, com os Pop Five.

Fez todas?

Nunca quis saber o que era a heroína porque vi muita gente a morrer, mas a cocaína dava boa disposição, até para ir para cima do palco...

Corria sempre bem?

Uma vez andei a cavalo no corrimão do palco e caí estatelado. Foi com o Quarteto 1111, numa discoteca no Algarve, em 1971, mas não houve problema: metade das pessoas estava igual ou pior.

Acredita em Deus?

Claro que sim, sou um homem de fé e vou religiosam­ente à missa de domingo na Igreja dos Navegantes, em Cascais, a única da zona de Lisboa com missa em inglês, que é obviamente a que a minha mulher, por ser inglesa, prefere.

Mas sempre teve fé?

Tive a minha educação católica, mas passei muitos anos longe disso. Aos 40, foi a tal fase de viragem, comecei a questionar-me a partir da leitura de um livro, O Homem que Não

Acreditava no Céu, que é uma conversa entre um filósofo católico, o Jean Guitton, e um cientista, Jacques Lanzmann, completame­nte ateu. Os dois discutem e chegam à conclusão de que, para provar que Deus existe ou o contrário, é uma questão de fé... para os dois lados.

A fé é um conforto?

É mais que isso. Para o cientista, tudo é um acaso: nasceu tudo por acaso, não andamos à bofetada por acaso... Para o Guitton – e para mim – nada é um acaso: é tudo um mistério. Há qualquer coisa que nos ultrapassa, de essência divina, criadora. Esta é a minha opção, porque um gajo pensar que isto é tudo por acaso não faz sentido nenhum.

 ??  ?? Os Gemini em 1978, a gravar um teledisco: “Não havia nada assim em Portugal”
Os Gemini em 1978, a gravar um teledisco: “Não havia nada assim em Portugal”
 ??  ??
 ??  ?? Tozé Brito podia viver só dos direitos de autor: “Não morreria à fome.” Escreveu mais de 500 canções
Tozé Brito podia viver só dos direitos de autor: “Não morreria à fome.” Escreveu mais de 500 canções

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal