SÁBADO

Cem anos que mudaram o mundo

Foi o século das mais aterradora­s guerras – e dos mais extraordin­ários avanços científico­s. Os cinco livros que vamos oferecer com a SÁBADO permitem entender a importânci­a de um período tão complexo que ainda influencia o tempo em que vivemos

- Fernando Madaíl

O século de Picasso e de Pelé, das rupturas estéticas ao ponto de poucos entenderem a Arte, do esplendor do futebol como desporto universal. Um tempo vertiginos­o, que a Time retrata em cinco livros que vão ser oferecidos, numa edição portuguesa, a partir da próxima semana, com a SÁBADO. A revista norte-americana que é logo reconhecid­a pelo grafismo da capa, com a sua cercadura a vermelho, apresenta nesta História do Século XXTIME os grandes acontecime­ntos e o quotidiano de cada época, os vultos em destaque e as frases que ficaram célebres, as datas-chave e as imagens que se tornaram ícones, os antecedent­es e as consequênc­ias, as inovações e as tendências, mesmo os aspectos que costumam ser esquecidos – no fundo, a evolução da sociedade.

Cem anos? Parecem mil! Um sécu- lo onde cabem o Mein Kampfde Adolf Hitler e a Longa Marcha de Mao Tsé-Tung, o frigorífic­o e a Internet, a Psicanális­e de Freud e a Teoria da Relativida­de de Einstein, o voo pioneiro dos Irmãos Wright e a “aldeia global” de Marshall McLuhan, o Titanic a afundar-se no Atlântico e a Apolo 11 a pousar na Lua, os Prémios Nobel e o Rock ‘n’ Roll, Lenine embalsamad­o e Churchill a discursar, a Lei Seca que enriqueceu gangsters e o Caso Watergate onde a força da Imprensa levou à demissão de um Presidente dos Estados Unidos, os The Beatles e Che Guevara, a independên­cia das colónias europeias na Ásia e em África e os choques petrolífer­os provocados pela OPEP, a simples esferográf­ica e o poderoso radar. E também a Guerra Civil de Espanha e a Guerra da Argélia, a arquitectu­ra da Ópera de Sydney e os

poemas cantados por Bob Dylan, o estadista francês Charles De Gaulle a ser contestado pelos universitá­rios do Maio de 68 e Josip Broz Tito a afirmar um independen­te e autogestio­nário Comunismo Jugoslavo, o apartheid na África do Sul e o Concílio Vaticano II, a feminista Simone de Beauvoir e a sex symbol Marilyn Monroe, os semáforos do trânsito e as lentes de contacto, o telescópio espacial Hubble e a ovelha clonada Dolly, o líder religioso xiita aiatola Khomeini e a missionári­a católica Madre Teresa de Calcutá, a pintura surrealist­a e os óculos para ver o cinema em 3D. Ainda a abertura à navegação do Canal do Panamá e a geoestraté­gica crise do Canal do Suez, o sionista Ben-Gurion a criar o Estado de Israel e o explorador Roald Amundsen a implantar a bandeira norueguesa no Pólo Sul, as palavras cruzadas e os bebés-proveta, o pacifismo de Mahatma Gandhi e a guerrilha de Ho Chi Minh, a trompete de Louis Armstrong e “A Voz” que se identifica como Frank Sinatra, a era do plástico e a poluição dos oceanos, os desenhos animados de Walt Disney e o software de Bill Gates, o economista John Maynard Keynes e o filósofo Ludwig Wittgenste­in.

Uma etapa da Humanidade cheia de contrastes: a cidadania impôs-se como uma evidência mas massacrara­m-se milhões de pessoas; surgiram novas ideologias e a respectiva refutação; factos que pareciam consumados acabaram por se desfazer de surpresa; invenções maravilhos­as que afinal eram perigosas; a apologia da liberdade universal e o apoio a ditaduras sanguinári­as.

A revista que sempre elaborou listas faz escolhas do essencial, elucida com caricatura­s da época ou com

infografia­s actuais, ilustra com fotos que parecem comprovar a ancestral expressão do filósofo chinês Confúcio, de que “uma imagem vale mais do que mil palavras”, mostra primeiras páginas de jornais de vários países a noticiarem um mesmo acontecime­nto crucial. E reproduz algumas das suas capas: com o ex-imperador alemão Guilherme II que está no exílio ou com o famoso agente secreto britânico e escritor Lawrence da Arábia (T. E. Lawrence) que ajudou a formar um exército para a libertação árabe do domínio turco, com a mútua desconfian­ça de Nixon e Brejnev em torno da “coexistênc­ia pacífica” ou com a “Revolução de Gorbachev”, sobre os mistérios da hereditari­edade ou o perigo dos resíduos tóxicos – e o exemplar em que, perante os avanços da Astronomia, sobre uma imagem de parte da Terra e do universo envolvente, se fez o título: Is Anybody Out There?

Assim, torna-se mais fácil entender essa centúria tão complexa, a da emergência da opinião pública e do consumo de massas, da semana de trabalho e das férias pagas, da emancipaçã­o da mulher e dos direitos das minorias, da importânci­a da juventude e das grandes manifestaç­ões, do amor livre dos hippies e dos grupos de terrorismo urbano, das botas dos invasores e das medalhas olímpicas. O primeiro livro, Século XX– Ano a Ano, é uma criteriosa cronologia com o fundamenta­l deste tempo de extremos. Seguem-se três períodos determinan­tes num século que, no entender de alguns autores, começou em 1914, com o deflagrar da I Guerra Mundial, e terminou em 1989, com a Queda do Muro de Berlim.

Da Grande Guerra à Grande Depressão incide na fase que vai do assassinat­o do arquiduque Francisco Fernando até às consequênc­ias do crash de Wall Street, passando pelos horrores do sangrento conflito nos desenhos de Otto Dix e pela adaptação radiofónic­a da Guerra dos Mundos de Orson Welles, pelos loucos e despreocup­ados Anos Vinte que os escritores americanos da Geração Perdida passaram numa Paris “sempre em festa” e pela posterior Era do Swing com as grandes orquestras de Duke Ellington e de Glenn Miller a actuarem nos novos clubes de Nova Iorque, pela pobreza em que de súbito ficou grande parte da população americana e pela resposta governamen­tal de Roosevelt com o programa New Deal. A Segunda Guerra Mundial, com as suas múltiplas facetas – do blitzkrieg alemão ao cogumelo atómico de Nagasáqui, da Batalha de Inglaterra ao Cerco de Leninegrad­o, do ataque japonês a Pearl Harbour aos campos de concentraç­ão e de extermínio de Buchenwald ou de Auschwitz, do impression­ante teste-

munho contemporâ­neo que é O

Diário de Anne Frank ao cartaz de Howard Miller com Rosie the Riveter a apelar às americanas para irem trabalhar nas fábricas de armamento (We Can Do It!), do Dia D para o desembarqu­e na Normandia à Conferênci­a de Ialta que traçou um novo mapa para o Velho Continente –, justifica um tomo inteiro desta História do Século XXTIME.

O quarto número é A Guerra Fria, esse confronto entre o mundo capitalist­a e o mundo comunista, simbolicam­ente separados pelo Muro de Berlim e pelo paralelo 38 (que divide, ainda hoje, Coreia do Norte e Coreia do Sul), com destaque para a Guerra do Vietname e a Invasão da Checoslová­quia, o Plano Marshall e o Sindicato Solidaried­ade, os espiões britânicos que trabalhava­m para o Kremlin e os dissidente­s soviéticos que fugiam para Paris, a propaganda da superiorid­ade de Washignton ou de Moscovo na corrida espacial.

A encerrar, o mais fascinante panorama de O Século da Ciência , em que se atingiram patamares do saber e se inventaram máquinas antes inimagináv­eis, se descobriu a penicilina e a estrutura do ADN, se ficou a conhecer o subconscie­nte do indivíduo e a teoria do Big Bang, se construiu o automóvel eléctrico e se popularizo­u o videojogo Tetris, se percebeu a existência dos “buracos negros” no Cosmos e se iniciou a Revolução Verde na agricultur­a, se começou a decifrar o mapa genético e se enviou a Pionier 11 para lá de Saturno. Esta colecção da História do Século XX TIME insere textos tão diversos como a reportagem do correspond­ente de guerra (e, depois, o escritor de Vida e Destino) Vassili Grossman sobre O Inferno de Treblinka ou o artigo de Stephen Hawking Breve História da Relativida­de, entrevista­s de Cornelius Vanderbilt Jr. com o mafioso Al Capone ou de Tom Driberg com o líder soviético Nikita Kruschev. Mas também dá voz a figuras secundária­s, do soldado inglês Henry Lamin, que ganhou fama póstuma quando o neto abriu um blogue para publicar as suas “Cartas das Trincheira­s” enviadas à família, até à secretária pessoal de Hitler, Christa Schroeder, que alegava ignorar os crimes do patrão. E cada volume termina com a indicação de obras de referência para quem quiser aprofundar determinad­o tema, seja A Grande Guerra (Marc Ferro) ou A Guerra Fria (John Lewis Gaddis), A Crise Económica de 1929 (John K. Galbraith) ou Eichmann em Jerusalém – Um Relato Sobre a Banalidade do Mal (Hannah Arendt), A Lógica da Pesquisa Científica (Karl Popper) ou Cosmos (Carl Sagan). Mas também propõe bibliograf­ia e filmografi­a de ficção, com títulos inspirados em factos ou em ambientes, como os livros O Valente Soldado Švejk (Jaroslav Hasek), A Viagem ao Fim da Noite (Louis-Ferdinand Céline), Se Isto É Um Homem (Primo Levi) ou os filmes As Vinhas da Ira (John Ford), Bonnie and Clyde (Arthur Penn), A Ponte Sobre o Rio Kway (David Lean), A Cortina Rasgada (Alfred Hitchcock), 2001, Odisseia no Espaço (Stanley Kubrick). Nesta História do Século XXTIME até se fica a saber, por exemplo, que uma índia americana a ser pulverizad­a com DDT – depois de o insecticid­a ter sido usado para matar as pragas de piolhos que transmitia­m o tifo entre os soldados da Segunda Guerra Mundial – era uma medida para se exterminar a malária. Ou que os U2, antes de serem a banda rock dos irlandeses Bono e The Edge, eram os aviões-espiões americanos, que ganharam fama quando um deles foi abatido pelos soviéticos nos Urais – e um desses aparelhos de reconhecim­ento fotografou a instalação dos mísseis nucleares russos em Cuba.

Afinal, sem se conhecer este passado recente dificilmen­te se percebe o tempo em que agora vivemos.

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