“Judeus influentes no futebol”
Entrevista com o inglês David Bolchover, autor do livro sobre Guttmann
Porque decidiu escrever um livro sobre Béla Guttmann?
Para mim, a história dele é a mais incrível do mundo do futebol. À medida que fui descobrindo coisas, tornou-se numa obsessão para mim.
Quanto tempo durou a pesquisa?
Três anos. Houve assuntos pelos quais tive de esperar muito tempo.
Como foi descobrir que, durante a II Guerra, Guttmann esteve escondido em Budapeste, e não exilado na Suíça, como era ponto assente?
Escrevi ao departamento suíço responsável pela informação sobre os judeus ali acolhidos durante esse período e eles responderam que não tinham quaisquer registos sobre Béla Guttmann. É incrível como nunca ninguém se lembrou de verificar isso antes. Depois, em 2015, surgiu uma entrevista com Pál Moldoványi, o sobrinho da mulher de Guttmann, que conta pormenores dele escondido no sótão na Hungria. Para mim, como biógrafo, foi uma descoberta excitante.
No livro, escreve sobre futebolistas ou dirigentes de clubes mortos pelos nazis, como Eisenhoffer, Löhner-Bede ou Max Scheuer. É uma forma de os homenagear?
Os judeus da Europa Central tiveram uma enorme influência no futebol antes do Holocausto. Muitos deles jogaram com Béla Guttmann, por isso aparecem no livro. Sabe-se pouco dessas pessoas porque foram assassinadas. É isso que causa o genocídio – destrói a memória dos povos.
Aborda pouco a relação entre Guttmann e a mulher, Mariann, e o facto de não terem tido filhos.
Porquê? Não havia dados?
Esse é um problema da investigação: o facto de não haver filhos ou netos para falarem das questões mais pessoais. Os sobrinhos, Imre e Pál, dão algumas indicações. Aparentemente, o estilo de vida de Guttmann nem sempre seria do agrado de Mariann, o que fez com que regressasse a Viena sozinha algumas vezes. Guttmann conta, na sua autobiografia (1964), que adorava crianças, por isso acredito que eles não puderam ter filhos.