Televisão
Não há romances, nem cromos desafinados. Só pessoas honestas a trabalharem nos países mais corruptos do mundo.
O reality show das pessoas honestas
Professores que trabalham durante anos sem receber um ordenado; enfermeiros que fazem todos os dias 30 quilómetros a pé para trabalharem ou polícias do departamento antidrogas, com ordenados a rondar os 122 euros, que nunca aceitaram um suborno. Outro pormenor: vivem em países do Terceiro Mundo, que ocupam lugares de destaque no ranking da corrupção, como Mali ou Nepal.
Este é o enredo de um reality show inspirado no American Idol , mas que procura pessoas honestas e não cantores pop, como explica à SÁBADO Blair Glencorse. “Estava a ver o Ídolos nepalês e comecei a pensar em combinar um programa deste tipo com a ideia de integridade. Começamos a trabalhar no dia seguinte, arranjámos voluntários para recolherem candidatos e recebemos centenas de propostas”, diz o criador da ONG Accountability Lab, antigo trabalhador do Banco Mundial e do
Fórum Mundial, que estava destacado naquele país. Em 2014, nascia o Integrity Idol. O programa começou no Nepal, mas já está no Paquistão, Libéria, Mali, Nigéria, África do Sul e em Março arranca no Sri Lanka. Blair Glencorse conta que ficaram surpreendidos com o sucesso rápido do programa, que custou pouco mais de 4 mil euros. O processo de selecção – que pode demorar dois meses e que é impulsionado pelas suges-
tões dos cidadãos – é o mais importante. Quem sugere um candidato tem de identificar “três razões por que aquela pessoa é íntegra e dois exemplos que o provem”, diz Blair. Um painel de quatro juízes, activistas da sociedade civil e pessoas com formação superior, junta-se para chegar ao top 5. Seguem-se as filmagens dos nomeados, dos seus amigos e família, que aparecem, durante duas semanas, na TV nacional e em rádio locais. Outro requisito: “Os nomeados têm de trabalhar no governo há, pelo menos, cinco anos e ter ainda um mínimo de outros cinco para servir antes de se reformar”, diz Glencorse. Razão: o candidato deve manter-se a trabalhar para influenciar os outros. Depois são os espectadores que votam no vencedor, tal e qual o Ídolos.
Posso pagar para entrar?
Mas mesmo um concurso de honestidade não escapa a tentativas de... corrupção. “Na Nigéria e noutros países, várias pessoas tentaram subverter o processo – queriam pagar para serem nomeadas”, conta Blair. Por isso, não é fácil arranjar bons candidatos. “A corrupção é uma coisa sistemática na Nigéria. Os cidadãos acreditam que quase todos os funcionários públicos são corruptos. Além disso, alguns nomeados não foram aprovados pelos seus chefes para entrarem, porque queriam ter sido eles os escolhidos”, conta à SÁBADO Odeh Friday, director da versão nigeriana. Mesmo assim tiveram mais de 150 nomeados e o programa foi visto por 2 milhões de pessoas.
No programa, explicam que “falta de integridade conduz à corrupção, desigualdade e insegurança” “NA NIGÉRIA E NOUTROS PAÍSES, VÁRIAS PESSOAS TENTARAM PAGAR PARA SEREM NOMEADAS”