UM TABERNEIRO VIAJADO

As semelhanças entre o percurso de André Magalhães e o da maioria dos chefs são pura coincidência. Recuemos no tempo. “Acabei o liceu nos Estados Unidos, no Texas, e quando regressei a Portugal, em meados dos anos 80, encontrei um País cinzento, que vivia numa espécie de marasmo — sentia-se que já tinha passado aquele entusiasmo do pós-25 de Abril”, conta. Não demorou, por isso, a fazer as malas outra vez. “Nos Estados Unidos ensinam-nos que é possível um tipo trabalhar ao mesmo tempo que faz outras coisas.” André queria viajar, conhecer o mundo. E depressa percebeu que arranjar trabalho em restaurantes era a melhor maneira de o fazer: “Era bem pago, tinha comida e alojamento, que é o mais importante. Além disso, desde miúdo que adorava cozinhar.” Andou pela Europa, pela América Latina e pelas Caraíbas. Mas essa vida diletante em cenários paradisíacos não duraria para sempre: depois de ter colaborado com uma equipa de produção francesa durante a rodagem de um filme, foi convidado a juntar-se à produtora, em Paris. Mudou-se, estudou e fez disso carreira durante anos. Primeiro em França, depois em Portugal, onde trabalhou na CCA antes de montar a sua própria empresa. “Montámos a primeira televisão interna de um banco, na altura o Atlântico, que hoje é o BCP”, recorda. Em 2004, nova mudança de 180º: fecha a empresa e decide fazer um ano sabático. Nunca se tinha desligado completamente da cozinha — além de organizar jantares épicos, estava ligado ao movimento Slow Food e escrevia crónicas para a revista DNA. Foi indirectamente apanhado no tsunâmi que afectou o Sudoeste Asiático nesse Natal. “Estava na Índia e não conseguia apanhar o voo de volta. Quando cheguei, tinha o atendedor de chamadas cheio. Eram mensagens de pessoas a querer convencer-me a apresentar uma candidatura ao restaurante do Clube de Jornalistas.” O prazo terminava no dia seguinte. André montou uma proposta em 24 horas. Acabaria por ficar sete anos.