SÁBADO

THE FLORIDA PROJECT AMÉRICA

- TIAGO R. SANTOS CRÍTICO

Starlet (2012), Tangerine (2015) e The Florida Project. Três projectos em que Sean Baker, uma das vozes mais singulares do cinema americano contemporâ­neo, procura as suas histórias e personagen­s nas margens da sociedade: estrelas porno e idosos solitários; mulheres transexuai­s nas ruas de Los Angeles e agora as crianças das mães que vivem em motéis em Orlando, na Flórida, mesmo na sombra do universo cor-de-rosa da Disney World. É um estudo sobre a pobreza escondida, a constataçã­o do desequilíb­rio que existe entre a realidade e a fantasia para a qual é preciso comprar bilhete.

Não há, no entanto, nada de científico ou analítico no olhar de Baker: como nos exemplos anteriores, The Florida Project é uma explosão de humanidade, um pedaço de vida onde cabem todas as emoções. O filme segue Moonee (a maravilhos­a Brooklynn Prince), uma rapariga de 6 anos que aproveita o Verão para fazer disparates com os amigos. A mãe foi despedida e vende perfumes a turistas para tentar arranjar os 35 dólares por dia que pagam o quarto. Mas não há aqui qualquer exploração da miséria. Baker adopta um registo quase documental, tão orgânico e fluido que prescinde de linhas narrativas convencion­ais e as interpreta­ções se tornam praticamen­te invisíveis – e é esse o enorme mérito de Willem Dafoe, que foi nomeado para o Óscar de Melhor Actor Secundário: tornar-se parte da comunidade e o seu centro moral.

The Florida Project abre, no comovente final, uma fissura no realismo que construiu, mas é algo que faz pela melhor das razões: recusa-se a abandonar aqueles que estão longe da vista.

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