SÁBADO

BLACK PANTHER GUERRA DO TRONO

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No início do filme, um filho pergunta ao pai qual é a origem do reino de Wakanda: em tempos ancestrais, um meteorito atingiu a região, possibilit­ando o acesso a Vibranium, um metal com caracterís­ticas extraordin­árias que serviu de matéria prima para incríveis avanços tecnológic­os escondidos do resto do mundo. A ideia acaba por ser provocador­a e, logo, mais interessan­te: Wakanda é o sonho de uma realidade paralela onde o continente africano não foi constantem­ente invadido, colonizado, agredido e explorado pelos países europeus imperialis­tas que lhes roubaram riqueza, cultura e pessoas. Black Panther é um dos melhores filmes do universo Marvel também por isso: Ryan Coogler – o prodigioso realizador de apenas 31 anos que deu nas vistas com Fruitvale Station e fez milagres com Creed – consegue encontrar temas reais para sustentar uma narrativa fantasiosa. Outro exemplo é o conflito central do filme. T’Challa, um filho nativo que acredita na manutenção do isolacioni­smo, torna-se o Rei de Wakanda. Mas Erik Killmonger, o afro-americano com sangue real que o desafia, defende que o Vibranium deverá ser usado numa guerra racial – é a diferença entre viver numa bolha utópica ou crescer numa sociedade opressiva. Colocando de lado esta conversa de crítico, o filme também agrada como puro espectácul­o, com um admirável elenco de actores (com destaque para Michael B. Jordan) e um coerente universo que cruza futurismo com a cultura africana. Mesmo que comece como uma história para crianças, Black Panther oferece duas coisas raras para o género: representa­tividade e inteligênc­ia.

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