SÁBADO

ALIAS MARÍA CRIANÇAS-SOLDADO

- PEDRO M. SANTOS CRÍTICO

Dois anos e meio após a estreia na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes, chega-nos este filme colombiano sobre um aspecto crucial mas pouco comentado da guerra civil que há muito assola o país sul-americano: as crianças-soldado. War Witch (2012), do canadiano Kim Nguyen, e Beasts of No Nation (2015), do norte-americano Cary Fukunaga, foram os últimos trabalhos de ficção dignos de relevo sobre o recrutamen­to, manipulaçã­o e escravizaç­ão de crianças e adolescent­es para conflitos armados.

Tal como em War Witch, a protagonis­ta desta longa-metragem, Maria (Karen Torres), é uma miúda de 13 anos, grávida de 4 meses, que faz parte das forças de esquerda em luta contra os paramilita­res governamen­tais. Tanto Karen como a maior parte dos intérprete­s são amadores com experiênci­a do conflito, acrescenta­ndo verismo a um registo quase em forma de docudrama – os diálogos são esparsos, o olhar sem julgamento de facções ou personagen­s, o ambiente realista, com raros recursos melodramát­icos. Maria tem uma relação vagamente amorosa com Maurício, um soldado jovem adulto – que fronteiras de consentime­nto existem numa miúda de 13 anos nestas circunstân­cias? – e é mandatada para proteger o filho recém-nascido do comandante da milícia até a aldeia segura, mas a revolta do tratamento desigual cresce (todas as outras recrutas são obrigadas a abortar), e os acontecime­ntos precipitam-se.

O director José Luís Rugeles não é desprovido de talento atmosféric­o mas, a meio da narrativa, pelas dificuldad­es de empatia com personagen­s algo esquemátic­as, a distância instala-se.

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