Pedro Marta Santos
Quando olhamos para a MonaLisa de Da Vinci ou para o Retrato de
Marie-Thèrése Walter de Picasso, imaginamos que estes trabalhos espelham o zénite da obra dos dois artistas. Não é assim. Muitas das pinturas e esculturas que associamos de imediato aos grandes criadores da História não são forçosamente as suas melhores, mas apenas as que sobreviveram. O tempo e o acaso são amantes cruéis da arte: se reuníssemos todas as obras-primas da civilização destruídas por desastre natural ou mão humana, pilhadas em guerra e desaparecidas, ou roubadas e jamais encontradas, teríamos mais criações de génio do que os trabalhos expostos em todos os museus do mundo. Um livro que a Phaidon lançará em Maio, The Museum ofLost Art, do historiador Noah Charney, confirma isso mesmo: há uma história alternativa da arte – e um retrato paralelo da memória colectiva – nas obras-primas que se perderam. Da Vinci (cujo Salvator Mundi, ressurgido por acaso em 2005, foi vendido em Novembro por 368 milhões de euros) é autor de não mais de 15 quadros de assinatura reconhecida, e a sua escultura Il Cavallo dello Sforza, cujo modelo de argila foi destruído por tropas francesas em 1499, rivalizaria em génio com a MonaLisa. O sublime A Captura de Cristo, de Caravaggio, estava esquecido num canto obscuro de um seminário jesuíta de Dublin até ser descoberto em 1987, e milhares de manuscritos únicos da Antiguidade, guardados na lendária biblioteca de Alexandria, ficaram reduzidos a cinzas num incêndio. Na semana do Dia dos Namorados, é bom que os amantes não se esqueçam da infinita delicadeza das obras que velam por eles.