SÁBADO

Carlos Rodrigues Lima

A falta de entusiasmo à voltado Congresso do PSD não se explica só pelo facto de o líder já estar eleito. Rui Rio é um líder anacrónico, incapaz de perceber que já não estamos nos anos 90. O PSD, à semelhança do novo líder, vai fechar-se, olhando para o m

- Subdirecto­r Carlos Rodrigues Lima

O pequeno ditador do PPD/PSD

O TEM ADE CAPA DESTA SEMANA DA SÁBADO tem uma dupla actualidad­e: por um lado, há cada vez mais pais que não sabem – na maioria dos casos, provavelme­nte, não conseguem – o que fazer perante o pequeno tirano que têm à frente. No tempo dos nossos pais, algumas coisas resolviam-se com um par de estalos mas, no mundo moderno, alguém poderia ver e ir a correr ao Ministério Público apresentar queixa. À cautela, sobram as hordas de psicólogos, que nos querem ensinar como educar e, já agora, vestir e comer. Mas se há muitos progenitor­es a braços com pequenos tiranos, milhares de militantes do PSD, a partir do próximo sábado, terão o mesmo problema pela frente. Faltam poucos dias para o congresso do PSD mas, tendo em conta o grau de entusiasmo no ar, mais parece que os militantes vão passar três dias a almoçar e jantar com aquelas tias chatas que todos temos na família. É compreensí­vel o estado de espírito social-democrata. Aquilo a quem chamam geringonça, por mais paradoxal que seja, até está a andar bem, apesar de alguns percalços pelo caminho. Rui Rio é uma incógnita como líder partidário, apesar de os seus apoiantes – como é costume nestas alturas – andarem por aí a dizer que o antigo autarca do Porto é o melhor de todos, a pessoa certa no momento certo, aquele que vai trazer equilíbrio à Força.

O PSD adora homens providenci­ais. Só que Rui Rio está para a modernidad­e como a pasta medicinal Couto para a higiene dentária. Só um punhado de almas é que a continua a utilizar, fazendo questão de dizer que aquela é que é boa, como antigament­e. A sua vitória nas directas acaba por não surpreende­r muito, porque o partido – sobretudo depois de Pedro Passos Coelho não ter percebido, em 2015, o fenómeno da geringonça e ter andado os últimos anos a fazer de Bruxo de Fafe (com todo o respeito por Marques Mendes), anunciando o apocalipse e sem uma ideia ou um caminho alternativ­o – estava sedento de Ordem. Ora, é isso que Rio vem trazer: ordem, disciplina, rigor, afi- nação, mas tudo no pior sentido que cada conceito encerra em si mesmo. Este será o desafio do PSD. Até que ponto um partido, tradiciona­lmente, plural, defensor da liberdade de expressão dos seus militantes, cuja conflitual­idade interna até faz parte do seu ADN, se deixará domesticar por alguém que não sabe viver se não num regime em que toda a máquina está em perfeita sintonia com o chefe? Passos Coelho, apesar de bem mais novo que Rio, tentou o mesmo caminho e foi o que foi. Não deixa de ser interessan­te como é que alguém que, enquanto líder da JSD, manifestou várias posições progressis­tas conseguiu o feito de terminar a liderança do PSD com um insuportáv­el cheiro a naftalina política. Talvez Passos Coelho ainda ache que, um dia, o destino o compensará da partida que lhe pregou em 2015. Mais um homem providenci­al a acrescenta­r à lista do PSD. Só os anos de Cavaco Silva (paz à sua alma política) à frente do partido podem explicar este apetite pela criação de uma figura austera, de um Grande Pai. Mas os tempos mudaram, e se aquela figura ainda pode fazer sentido em alguns espaços rurais, os grandes centros urbanos, onde se concentra a maior parte do eleitorado, não espera “respeitinh­o”, mas transparên­cia, escrutínio, prestação de contas, abertura dos partidos à sociedade, cultura do mérito e não dos jobs for the boys. Rui Rio daria um óptimo governante nos anos 80/90. Os tempos agora são outros, as preocupaçõ­es e ansiedades muito diferentes daquelas que nos consumiam naqueles anos. Mas o aparelho do PSD fez a sua escolha, optando por um “bom aluno” de Cavaco Silva, alguém que, talvez partilhand­o o espírito do saudoso professor de Finanças, consiga levar o PSD de volta ao poder. Mas o aparelho enganou-se. Rui Rio, tal como qualquer pequeno ditador, vai isolar o partido e, com alguma inteligênc­ia, até fazer com que a geringonça cresça.

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