Marrocos
Mohammed VI deu-lhe o título de “consorte” e ela tornou-se a “princesa do povo”. Há meses desapareceu da vida pública e agora sabe-se porquê.
Divórcio: a princesa Lalla deixou a família real
Odesaparecimento de Lalla Salma da vida pública, nos últimos cinco meses, sugeria que qualquer coisa não estava bem. No fim de Fevereiro, rumores já davam como certa a separação da princesa e do Rei Mohammed VI, de Marrocos. No dia 26, o monarca foi submetido a uma cirurgia para tratar uma arritmia cardíaca, numa clínica de Paris. Horas depois, a Casa Real publicou uma foto em que ele aparecia com os quatro irmãos e os seus dois filhos, Moulay Hassan e Lalla Khadija. A primeira surpresa foi a divulgação de uma imagem tão íntima, com Mohammed prostrado na cama; a segunda foi a ausência da mulher. Ainda se especulou que a princesa não aparecia por estar a tirar a foto – uma hipótese pouco provável, já que haveria sempre alguém que o fizesse, tendo em conta o séquito que acompanha o Rei para todo o lado. Na passada quarta-feira, 21, o dia em que completaram 16 anos de casados, a revista Hola!, citando fontes próximas do palácio, dissipou as suspeitas: o Rei Mohammed e a princesa Lalla Salma estão a divorciar-se.
Mohammed e o fim do harém
Lalla Salma foi a primeira mulher de um monarca da dinastia alauita a ser apresentada em público, a ter identidade e a receber tratamento de Sua Alteza Real. Assumiu sempre o papel de rainha consorte. Fez um curso de protocolo, na Alemanha, e por falar fluentemente árabe, francês e inglês, e ter conhecimentos de espanhol, representou o marido em diversas ocasiões, como em visitas a França, Tailândia e Japão, e em casamentos reais. Cultivou uma imagem sofisticada e moderna, com o cabelo ruivo, comprido, ondulado e solto, sem nunca usar véu, e pela forma de vestir – alternando os tradicionais caftãs com conjuntos elegantes e discretos de Valentino, Dior ou Prada, sapatos Louboutin, carteiras Chanel e muitas jóias.
A sua função sempre foi muito além de mulher do Rei. Participou em campanhas humanitárias como embaixadora da boa vontade da Organização Mundial de Saúde e em 2007 deu uma conferência pa-ra a UNESCO sobre a igualdade entre homens e mulheres. Além disso, criou a sua própria fundação, para a luta contra o cancro. Quem trabalhou com ela descreve-a como inteligente, simpática e com uma capacidade inesgotável para ouvir os outros.
Em 1999, quando Hassan II morreu, o primeiro requisito para Mohammed lhe suceder no trono era ser casado. A Casa Real arranjou-lhe uma noiva de origem saharaui, chamada Amina, e fez-se uma cerimónia discreta. A sua mentalidade aberta revelou-se de imediato muito longe do autoritarismo do pai, que reinou durante 38 anos. Anunciou que
LALLA SALMA FOI A PRIMEIRA MULHER DE UM MONARCA MARROQUINO A SER APRESENTADA EM PÚBLICO
pretendia ser monógamo e uma das suas primeiras medidas foi acabar com o harém real, uma tradição com 12 séculos. Mandou instalar as mulheres do pai, que eram mais de 50, em apartamentos, e concedeulhes uma pensão vitalícia. A sua própria mãe saiu do palácio onde vivia escondida e foi para Paris.
Andar descalça no palácio
Como Amina não conseguiu engravidar, o Rei, então com 38 anos, teve de arranjar outra noiva. Voltou a casar-se em 21 de Março de 2002. A escolha recaiu em Salma Bennani, de 23 anos, que se converteu em Lalla (lady) Salma. A festa aberta ao povo durou vários dias e a princesa tornou-se um fenómeno de popularidade quase instantâneo e um modelo a seguir pelas mulheres do seu país.
Desde o primeiro momento, Mohammed deixou claro que Salma não seria apenas a sua mulher, nem ficaria confinada às paredes de mármore dos seus 12 palácios. Mas ela sempre teve noção de que a prioridade era assegurar a continuidade da monarquia. Em Maio do ano seguinte nasceu o primeiro filho do casal, o príncipe herdeiro Moulay Hassan; e em Fevereiro de 2007 a princesa Lalla Khadija. Fontes do palácio afirmaram a revistas ocidentais que não foi fácil a Salma entrar na conservadora e hermética família real, onde as figuras femininas – as irmãs e as tias do marido – a olhavam com desconfiança. Lalla Salma nasceu numa família da classe média-alta da cidade de Fez. É filha de um professor universitário e perdeu a mãe com apenas 3 anos. Ela e a irmã, que hoje é médica, foram criadas pela avó materna. Licenciou-se em Engenharia Informática, que na época era um curso exclusivo de homens, e trabalhou na ONA Group, a maior holding do país.
A imprensa marroquina tem por regra não revelar nada sobre a privacidade da família real. Mas, em Abril de 2005, Alí Anouzla, director do semanário Al Jarida Al-Oukhra, publicou um artigo em que revelava detalhes da vida da princesa. Recebeu uma carta ameaçadora do chefe de protocolo da Casa Real, apesar de naquelas cinco páginas se ler simplesmente que o prato favorito de Lalla era o tradicional tajine com cenoura,
que se sentava à mesa com os assistentes, que dava de comer aos filhos e que gostava de se levantar tarde, de andar descalça pelo palácio e de conduzir o seu próprio carro. Depois do divórcio, o futuro de Lalla Salma, que faz 40 anos a 10 de Maio, é uma incógnita. O mais certo, segundo a imprensa internacional, é que a sua vida decorra a partir de agora fora da esfera pública. No imediato, acredita-se que a princesa, que deverá também perder o título, possa passar uma larga temporada fora de Marrocos – talvez em França, onde tem muitos amigos, ou na Grécia, o seu destino de férias favorito e onde até possui uma casa. Apesar da popularidade de Lalla, numa prova de veneração ao Rei, os marroquinos começaram a retirar os milhares de fotografias dela que tinham afixado em todo o tipo de espaços comerciais, de talhos a cafés.
OS ELEGANTES CONJUNTOS DIOR OU VALENTINO COLOCARAM-NA AO NÍVEL DAS PRIMEIRAS-DAMAS OCIDENTAIS