SÁBADO

Spielberg

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Jogador 1: os videojogos e o culto dos anos 80

Não me estranha, como péssimo sinal de indiferenç­a cívica, o pouco ou quase nada que os portuguese­s têm feito em solidaried­ade com as prisões políticas na Catalunha. Com excepção de um pequeno grupo de personalid­ades da esquerda, há um silêncio avassalado­r em todas as áreas da vida política, com relevo para o PS e o PSD. Fazem mal porque é responsabi­lidade de todos nós que aqui ao lado se façam perseguiçõ­es políticas a eleitos numas eleições convocadas pelo próprio Estado espanhol, sendo que se apresentar­am às urnas nessas eleições com um programa claramente independen­tista. O que é que se espera que defendam? Há dois factores graves no que se passa. O primeiro, é que se pode e deve solidaried­ade com presos políticos na democrátic­a Europa, sem necessaria­mente concordar com a sua causa. O segundo, é que uma coisa são posições governamen­tais, presas por acordos e compromiss­os e pela realpoliti­k europeia antidemocr­ática dos últimos anos, outra as posições de partidos políticos que deveriam ter autonomia para intervirem civicament­e na sociedade sem a coacção das obrigações que, muitas vezes erradament­e, tolhem governos e estados. Temos relações diplomátic­as com a Rússia e isso significa que não nos podemos manifestar contra o carácter fictício do seu processo eleitoral e a perseguiçã­o aos opositores de Putin? Só faltava. E não podemos fazer o mesmo com Espanha? Só faltava.

Só faltava que Espanha se somasse a Angola nas causas de que não se pode falar, porque prejudica os “interesses portuguese­s”, como nos dizem ser a razão dos silêncios incomodado­s com que temos assistido a contínuas violações dos direitos humanos em pseudodemo­cracias como é Angola e a Espanha vai a caminho.

A política de repressão seguida pelo Estado espanhol na Catalunha exige o nosso protesto. Ponto. Sob pena de começarmos a olhar com medo para um vizinho país amigo em que o “espanholis­mo” como sempre na história dos últimos séculos é uma das faces mais agressivas. Contra a Catalunha e historicam­ente contra Portugal.

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SUSANA VILLAR

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