Donald Glover quer o mundo
A série Atlanta valeu-lhe um Globo de Ouro e dois Emmy. A segunda temporada estreia a 2 de Abril, no FOX Comedy – e esse nem sequer é o acontecimento mais importante do ano para o multifacetado artista de 34 anos
Nh uma entrevista à revista New Yorker ,a propósito da segunda temporada de
Atlanta – estreou nos Estados Unidos a 1 de Março e chega a Portugal, ao canal FOX Comedy, a 2 de Abril –, perguntaram a Donald Glover se haveria alguma coisa em que ele não fosse bom. O actor, escritor, produtor, realizador e artista de hip-hop, sob o pseudónimo Childish Gambino, respondeu da seguinte forma: “Para ser honesto, não.” Qualquer outra pessoa no planeta que respondesse assim seria logo catalogada de arrogante, presunçosa e convencida, mas não Glover.
Na verdade, não faltam razões para que o multifacetado – na verdadeira acepção da palavra – artista esteja a transpirar confiança.
Um mês antes da estreia, a revista Esquire fez-lhe um perfil em que escreveu que, neste momento, toda a gente em Hollywood desejaria “ser Donald Glover”, “ter o cérebro que criou Atlanta ,a mais engraçada e inteligente série desta geração”, e “o carisma que lhe deu o direito de encarnar a lendária personagem Lando Calrissian” no próximo filme da saga Guerra das Estrelas dedicado a um jovem Han Solo, em Solo: A Star Wars Story.
O filme estreia em Portugal a 24 de Maio, um dia antes dos Estados Unidos, e conta a história de como Han Solo (interpretado não por Harrison Ford, mas por Alden Ehrenreich) conheceu o seu parceiro Chewbacca e as circunstâncias em que ambos se cruzaram pela primeira vez com Lando Calrissian.
No que ao cinema diz respeito, Glover tem grandes planos: depois de pequenas participações em filmes como Magic Mike XXL, Perdido em Marte e
Homem-Aranha: Regresso a Casa, e depois de o vermos no novo Guerra das Estrelas, Glover irá contracenar com Beyoncé num remake do clássico da Disney O Rei Leão. Vai ser preciso paciência, que a estreia está prevista apenas para 2019. Tudo começou na televisão, mas atrás das câmaras – bem atrás, na sala dos argumentistas de
30 Rock. Em 2006, Tina Fey, a criadora da série, convidou Donald para se juntar à equipa de escritores depois de ler um guião que ele enviara para um episódio fictício de Os Simpsons.
Donald tinha então 23 anos e passaria os três anos seguintes a escrever para a série, passando, em raras ocasiões, para a frente da câmara em papéis minúsculos. Foi o suficiente para ser convidado a fazer parte da comédia de culto Community, que teve seis temporadas, entre 2009 e 2015 – embora Glover já não tenha estado na última. Tinha outros planos.
Atlanta
Foi a partir de 2015 que começou a ter pequenos papéis em grandes produções de Hollywood. Foi também nessa altura que Atlanta começou a ser preparada – a comédia dramática que ele protagonizou, escreveu e em que, nalguns episódios, se sentou na cadeira de realizador. A série, sobre dois primos de Atlanta, traça um retrato realista de mulheres e homens negros nos Estados Unidos, tendo como cenário a cena musical local.
TUDO COMEÇOU NA TELEVISÃO, MAS ATRÁS DAS CÂMARAS – BEM ATRÁS, NA SALA DOS ARGUMENTISTAS DA SÉRIE 30 ROCK
O SUCESSO INTERNACIONAL DE ATLANTA TOMOU-O DE SURPRESA. ELE NÃO ESPERAVA QUE O PÚBLICO ESTRANGEIRO ABRAÇASSE UMA SÉRIE TÃO ALICERÇADA NUMA REALIDADE TÃO ESPECÍFICA, TÃO LOCAL
A série estreou em 2016 e no ano seguinte foi galardoada com um Globo de Ouro e dois Emmys. A figura central é Earn (interpretado por Donald Glover), um tipo cínico e inteligente que chegou a frequentar Princeton – antes de abandonar os estudos – e que agora está determinado em ajudar o primo, o rapper Paper Boy (Brian Tyree Henry), a ter uma carreira no hip-hop.
Earn é pobre, está solteiro e não tem casa
– vai dormindo aqui e ali. Por vezes, “ali” é a casa da ex-mulher Van, com quem tem uma filha. Na segunda temporada, as coisas começam-lhes a correr melhor. Uma mixtape de Paper Boy tornou-se um êxito e fê-lo famoso em Atlanta. Os fãs da série têm dito que uma das personagens da série é precisamente a cidade. Donald Glover discorda, mais ou menos: “Penso que a voz da cidade é a sua música trap. Eu apenas sigo a tendência musical do momento porque sinto que esse é que é o coração de Atlanta”, disse o autor num encontro com jornalistas em Los Angeles, em Janeiro, cuja transcrição foi cedida ao GPS em exclusivo pela Fox.
Em vez de “segunda temporada”, Glover prefere chamar ao conjunto dos no- vos episódios que agora estreiam “Temporada Robbin’”, nome que diz respeito a um período em Atlanta, antes do Natal, em que os assaltos e roubos (de onde vem o nome Robbin’) aumentam exponencialmente. O nome serve como declaração de intenções. “Eu quero que as pessoas percebam que não estou apenas a fazer uma série – eu estou a fazer uma experiência. Ganhar prémios é óptimo, mas o objectivo é dar qualidade às pessoas.”
Childish Gambino
O sucesso internacional de Atlanta tomou-o de surpresa. Ele não estava à espera que o público estrangeiro abraçasse uma série tão alicerçada numa realidade muito específica, muito local. “Eu estava em Londres quando Atlanta explodiu e muitas pessoas paravam-me para dizer o quanto apreciavam a série, o que é cool”, disse. Só que, como não estava nos Estados Unidos, não testemunhou o embalar do sucesso. Algo que já tinha acontecido com Redbone ,o single que ele lançou em 2016 enquanto Childish Gambino e com que venceu um Grammy.
“É engraçado porque viajei imenso nesse ano e quando Redbone foi um sucesso eu não estava na América – depois foi voltar a casa e ter pessoas a reagirem... foi tipo ‘Oh, a música está em todo o lado’. Isso foi óptimo, mas não cheguei realmente a viver esse momento.”
Em Janeiro, depois de vencer o Grammy, Glover disse que o seu próximo álbum, a sair no fim do ano, será o último. “Acho que os fins são bons porque obrigam as coisas a serem melhores.”
O artigo da Esquire que é citado no início deste texto refere ainda que “Donald Glover tem estado sempre 10 passos à frente”. É bem capaz de ser verdade.