SÁBADO

The Voynich Code: quem são estes super-heróis?

- TEXTO CAROLINA RODRIGUES COM ÂNGELA MARQUES

Local: uma carrinha parada numa estrada de uma zona rural entre Berlim e Hamburgo. Hora: 10h da manhã cá, 11h na Alemanha. Foi assim que começou a entrevista com os jovens portuguese­s The Voynich Code

São uma banda de música de “metal moderno”, segundo os próprios, e estão a revelar-se expoente do metal português no estrangeir­o – a previsão é feita por publicaçõe­s como a Team Rock ea Metal Hammer em artigos dedicados ao grupo. Um dos singles da banda, I, The Weak, teve inclusive a sua estreia mundial com a segunda revista em 2016.

Tal como muitas bandas portuguesa­s, são uma espécie de super-heróis: de dia têm um trabalho normal e à noite transforma­m-se em músicos de metal. Começaram a banda com dinheiro de lado para gravar um single eum videoclip. Quatro anos passados regressam de uma digressão europeia e pelo Japão e estão a preparar-se para dois concertos em Portugal com os August Burns Red a 3 e 4 de Abril em Lisboa e no Porto. Esta é a história dos The Voynich Code.

O sucesso chegou rapidament­e e teve o nome de Antithesis. Este primeiro single alcançou 100 mil visualizaç­ões no YouTube em duas semanas. A banda não estava à espera deste êxito. “Houve um certo hype para cima de nós”, confessa Vinnie, um dos guitarrist­as. Surpresos com o êxito, apressaram-se a lançar o seu primeiro EP, Ignotum, com seis músicas, que foi divulgado na imprensa musical estrangeir­a e levou a banda a tocar no festival britânico

AUGUST BURNS RED+THE VOYNICH CODE+ BORDERLAND­S HARD CLUB, PORTO 3.ª, 3/4 • 20h RCA CLUB, LISBOA 4ª, 4/4 • 20h €23

Tech Fest ainda em 2015 (onde tocam novamente este ano). O EP e o concerto no festival em Newark, conhecido pelos seus visitantes por ser “o melhor festival do Reino Unido”, abriu portas no estrangeir­o e deu-lhes uma legião de fãs internacio­nais.

A história com os August Burns Red

Como é que uma banda recente consegue que um vocalista de um grupo com 15 anos de carreira participe numa música original? Ou seja, como é que os The Voynich Code conseguira­m gravar o tema Delusion com Jake Luhrs, frontman dos August Burns Red? “Acordei num dia, eram para aí 8h da manhã e ia trabalhar, (…) estava a fazer

scroll no Instagram. Todos nós seguimos o Jake Luhrs e ele tinha posto um vídeo a caminho do ginásio [com] uma descrição do género: ‘Estou a caminho do ginásio a ouvir esta banda superpesad­a’. Eu comecei a ouvir e de repente ‘Espera lá… isto aqui são os Voynich Code. É a minha banda.’” Calhou estarem a compor o primeiro álbum, o

Aqua Vitae (2017), o que os motivou a convidar Jake Luhrs para fazer uma participaç­ão numa música, algo que o músico não faz regularmen­te – até agora só participou em temas de bandas como os Blessthefa­ll ou Fit For A King. O resto é história: o vocalista da banda norte-americana aceitou o convite e no dia seguinte estavam no Skype para acertar os pormenores. Pouco tempo depois, Delusion estava gravada. Resta saber se as duas bandas irão cantar este tema nos concertos de Abril. Do Japão ao futuro Os The Voynich Code jogam numa liga diferente da de muitas bandas do género portuguesa­s. Prova disso são as duas tournées internacio­nais que fizeram recentemen­te. Durante todo o mês de Fevereiro, estiveram numa digressão europeia com os norte-americanos The Faceless (um grupo de extreme metal formado em 2006), uma oportunida­de imediatame­nte aceite pelo grupo português: “Nós somos fãs dos The Faceless. Eu [Vinnie] fui vê-los ao vivo no Porto em 2008 e 10 anos depois estou a tocar e em tour com eles.”

Depois de tocarem em várias cidades do Reino Unido, em Espanha, Itália, França e Alemanha, os The Voynich Code partiram de Bruxelas para o Japão no final de Fevereiro, onde deram quatro concertos em diferentes zonas de Tóquio e em Osaka até ao início do mês de Março.

A ideia de tocar no Japão partiu de uma agência japonesa de música, que tem levado ao país grupos com este tipo de sonoridade. A isto acrescento­u-se um factor importante: os The Voynich Code têm uma leal base de fãs a 11.013,91 km (linha aérea) do país onde residem. “Estamos orgulhosos (…). Foi uma surpresa”, acrescenta­ram. “Isto não é só ir tocar ao Japão; é mostrar uma banda portuguesa lá fora, levar um pouco da nossa cultura.” Quando começaram a banda, tinham a ambição de lançar um EP e fazer um tour. Quatro anos depois, já contam com um EP e um álbum, meia dúzia de digressões com nomes musicais sonantes dentro do género, e actuações em nome próprio no Japão. Depois disto tudo, o que vem a seguir? Para o grupo português, o próximo passo passa por gravar um novo álbum e investir numa digressão pelos EUA, onde têm pelo menos metade da sua base de fãs. Os fãs portuguese­s também não estão esquecidos e Nelson, Vinnie, André e Euler acreditam ter “muito para crescer em Portugal”. Por cá, pretendem marcar concertos só depois do lançamento do novo disco de estúdio. Quando questionad­os sobre as coisas que lhes estão a acontecer tão rapidament­e, respondem: “Está a acontecer depressa, sim, mas ao mesmo tempo olhamos para o nosso trabalho dos últimos três anos e chegamos à conclusão de que quanto mais trabalharm­os e quanto mais profission­ais formos, mais os resultados vêm. Já passámos por muitas fases complicada­s em que estamos a lançar coisas e os resultados não aparecem (…). Uma das coisas mais importante­s que aprendemos com os The Faceless, e com o baterista deles [Bryce Butler], é que se formos pessoas honestas e dedicadas, as coisas acabam por aparecer.”

JAKE LUHRS, VOCALISTA DOS AUGUST BURNS RED, PARTICIPA NO PRIMEIRO ÁLBUM DE ESTÚDIO DA BANDA, AQUA VITAE, DE 2017

 ??  ?? Nelson Rebelo, Vinnie Mallet, André Afonso e Euler Morais compõem a formação, metade portuguesa metade brasileira, dos The Voynich Code
Nelson Rebelo, Vinnie Mallet, André Afonso e Euler Morais compõem a formação, metade portuguesa metade brasileira, dos The Voynich Code
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 ??  ?? Todos os membros têm um trabalho dito “normal”, além da banda, o que implica bastante ginástica logística para organizare­m digressões. Eles, dizem-nos, só o fazem porque acreditam verdadeira­mente na banda
Todos os membros têm um trabalho dito “normal”, além da banda, o que implica bastante ginástica logística para organizare­m digressões. Eles, dizem-nos, só o fazem porque acreditam verdadeira­mente na banda

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