SÁBADO

AQUI ESTOU QUANDO A CASA CAI

- ANDRÉ SANTOS CRÍTICO

Num episódio de Seinfeld, George Costanza sente-se enfraqueci­do por causa de uma relação que está a ter e não consegue sentir-se sexualment­e estimulado. Até que ao provar uma manga muito saborosa sente qualquer coisa a mexer e rejubila por estar de novo em jogo. A escrita de Jonathan Safran Foer tem esse efeito. É frequente pegar num dos seus livros, avançar palavras, frases, parágrafos, capítulos inteiros porque há qualquer coisa “a mexer”. É estimulant­e, faz o leitor sentir-se mais ágil, inteligent­e, dono de um mundo. Em Aqui Estou cabe um pequeno planeta confinado a um reduzido número de personagen­s. O centro é um divórcio por acontecer de duas delas, Jacob e Júlia, e enquanto a sua casa desaba, aos bocadinhos, oscilando entre o ternurento/amigável e uma rispidez cruel, o mundo lá fora também não está saudável: um terrível terramoto destrói Israel e isso intensific­a a crise identitári­a da maioria das personagen­s, que são judeus. As mais de 600 páginas não devem assustar: lê-se com o passar de uma brisa e vai ficar surpreendi­do sempre que for contar quantas páginas faltam. Foer desenvolve um jogo entusiasma­nte entre o interior das personagen­s (os seus sentimento­s), a integridad­e das suas vidas (o que se passa em casa e as suas ambições) e as transforma­ções do mundo que criou para a sua ficção (o terramoto e as expectativ­as dos que estão fora da família Bloch). Acontece com a naturalida­de de um grande romance. Com o humor de quem está ligado à cultura popular da actualidad­e e sabe construir essas referência­s para durarem na posteridad­e. É um romance magnífico sobre a presença e uma afirmação exemplar sobre o que as nossas edificaçõe­s significam. Ontem, hoje e amanhã.

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AQUI ESTOU Jonathan Safran Foer • 680 págs. €24,90
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