AQUI ESTOU QUANDO A CASA CAI
Num episódio de Seinfeld, George Costanza sente-se enfraquecido por causa de uma relação que está a ter e não consegue sentir-se sexualmente estimulado. Até que ao provar uma manga muito saborosa sente qualquer coisa a mexer e rejubila por estar de novo em jogo. A escrita de Jonathan Safran Foer tem esse efeito. É frequente pegar num dos seus livros, avançar palavras, frases, parágrafos, capítulos inteiros porque há qualquer coisa “a mexer”. É estimulante, faz o leitor sentir-se mais ágil, inteligente, dono de um mundo. Em Aqui Estou cabe um pequeno planeta confinado a um reduzido número de personagens. O centro é um divórcio por acontecer de duas delas, Jacob e Júlia, e enquanto a sua casa desaba, aos bocadinhos, oscilando entre o ternurento/amigável e uma rispidez cruel, o mundo lá fora também não está saudável: um terrível terramoto destrói Israel e isso intensifica a crise identitária da maioria das personagens, que são judeus. As mais de 600 páginas não devem assustar: lê-se com o passar de uma brisa e vai ficar surpreendido sempre que for contar quantas páginas faltam. Foer desenvolve um jogo entusiasmante entre o interior das personagens (os seus sentimentos), a integridade das suas vidas (o que se passa em casa e as suas ambições) e as transformações do mundo que criou para a sua ficção (o terramoto e as expectativas dos que estão fora da família Bloch). Acontece com a naturalidade de um grande romance. Com o humor de quem está ligado à cultura popular da actualidade e sabe construir essas referências para durarem na posteridade. É um romance magnífico sobre a presença e uma afirmação exemplar sobre o que as nossas edificações significam. Ontem, hoje e amanhã.