SÁBADO

CARTAS E RECORDAÇÕE­S AGARRAR A VIDA

- EDUARDO PITTA CRÍTICO

Seria pleonástic­o enfatizar a importânci­a de Saul Bellow (1915-2005), mas, no momento em que chega às livrarias portuguesa­s o volume que colige parte das suas Cartas e Recordaçõe­s, convém recordar o óbvio: algumas correspond­ências são, de facto, Literatura. É o caso desta.

Por razões facilmente compreensí­veis, a presente edição não contempla as 708 cartas do original americano. No prólogo, Salvato Telles de Menezes, o tradutor, explica ter privilegia­do temas representa­tivos (“ideias literárias, ideias político-sociais, religiosas…”), bem como interlocut­ores familiares ao leitor português, como são os escritores e os políticos internacio­nalmente conhecidos. Não obstante, no fim de algumas cartas, existem verbetes sucintos das pessoas citadas.

A vida íntima não foi esquecida, uma vez que a selecção abrange cartas para os filhos e para as ex-mulheres (casou cinco vezes). E também inclui cópia de uma carta enviada em 1972 à Century Associatio­n, um clube elitista de Manhattan, propondo com vigor a não admissão do homem que, em sua opinião, era responsáve­l pela decadência da Partisan Review.

Oriundo de uma família de judeus russos, os Belo, Saul Bellow nasceu no Quebeque, para onde o pai tinha fugido após problemas em São Petersburg­o. Foi para Chicago com 9 anos feitos, mas só aos 28 obteve a cidadania americana. Estudou antropolog­ia e sociologia antes de enveredar pela carreira literária. O primeiro romance, Na Corda Bamba

(1944) despertou de imediato a atenção de Edmund Wilson, o crítico mais influente da América. Quando, em 1976, recebeu o Nobel da Literatura, era já um autor consagrado no país que adoptou como seu e sobre o qual escreveu de forma admirável. Iconoclast­a, adversário confesso do multicultu­ralismo académico, ficou célebre a boutade, em directo na televisão, acerca de nunca ter lido nada do “Proust da Papua-Nova Guiné”… Uma conferênci­a sobre o papel dos escritores na universida­de exacerbari­a os ânimos. Mas esse era o lado para que Bellow dormia melhor.

O arco cronológic­o desta compilação vai de 1932 a 1982. São muito interessan­tes as opiniões sobre as mulheres que amou, a obra de outros escritores, os países que visitou e os factos políticos de que foi testemunha.

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Saul Bellow recebeu o Nobel da Literatura em 1976
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SAUL BELLOW Quetzal • 406 págs. €19,90
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