SÁBADO

Remodelar a tempo para ganhar a sério

-

António Costa até pode não pedir explicitam­ente uma maioria absoluta nas próximas eleições. Sabe que uma coisa dessas não se pede aos eleitores por dá-cá-aquela-palha. Sabe que, se vier a pedir, têm de estar reunidas todas as condições políticas para isso e não pode cheirar a arrogância. Pelo seu lado, está a trabalhar para isso. Sobretudo, para que o Governo cometa o menor número de erros daqui para a frente. Para que nada perturbe as boas notícias da distribuiç­ão de rendimento­s prevista no Orçamento. Para que todos os segmentos eleitorais numerosos – pensionist­as, função pública, famílias em geral – saibam bem que foi o PS e não o BE ou o PCP que assegurou a distribuiç­ão e devolução de rendimento­s. Enfim, António Costa vai acelerar para o seu grande objectivo que é ganhar com maioria absoluta. Por isso, fez uma operação de remodelaçã­o e gestão política quase perfeita. Saltou das enormes dificuldad­es geradas pelo caso de Tancos, que culminaram na saída de um péssimo ministro da Defesa, talvez mesmo o pior de toda a história do regime democrátic­o, para uma remodelaçã­o bem-sucedida e para um orçamento de boas notícias. Com a saída de Azeredo aproveitou para remover o apagado ministro da Economia e meter lá um homem de total confiança. Se tiver todos os problemas de conflitos de interesses resolvidos – e que são naturais em alguém que fez advocacia com sucesso –, Pedro Siza pode ser um bom trunfo para alinhar interesses e pacificar alguns agentes económicos. No passado, afastou também um secretário de Estado, Jorge Sanches, que estava a deixar (e bem) o sector da energia em polvorosa. Pode ser que esta cartada lhe seja mais difícil de explicar se Jorge Sanches não ficar calado. Por fim, despachou o ministro da Saúde e fica claro que não quis comprar uma guerra com os milhares de profission­ais da Saúde. Tirou também o apagado ministro da Cultura e fica na história por ter dado um passo na promoção da igualdade de género, ao escolher Graça Fonseca, a primeira governante assumidame­nte lésbica em Portugal. Finalmente, deixa ficar o ministro da Educação e explora a impopulari­dade da greve dos professore­s nas famílias. Costa afinou a máquina e ela promete ser diabólica na corrida até à meta. Remodelou a tempo para ganhar a sério.

Tancos está longe de acabar

A saída de Azeredo Lopes da pasta da Defesa diminuiu a intensidad­e do problema político gerado à volta do roubo das armas em Tancos mas não o extinguiu. Resta saber se o novo ministro vai agir ou enrolar, como se diz no Brasil. Uma das dimensões inquestion­áveis do problema está na hierarquia do Exército. É preciso saber se o chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, e o seu vice, general Fernando Serafino, não estão a prazo. Se preferem sair já ou esperar por uma acusação do Ministério Público que pode trazer elementos novos e difíceis de explicar sobre o envolvimen­to da hierarquia do Exército com os oficiais da PJM que se sentiam (e estavam realmente) em roda livre!?

Secretas e segredo de Estado

Jorge Silva Carvalho, ex-director dos serviços secretos, condenado em tribunal por violação do segredo de Estado, vai lançar um livro com grandes revelações sobre operações e modos de actuação das secretas, que a SÁBADO relata em exclusivo nesta edição. Escrito com os cuidados de quem não quer voltar a ser apanhado na rede do segredo de Estado, o livro abriu a porta a uma investigaç­ão autónoma da SÁBADO para poder explicar algumas das coisas que estão apenas sugeridas no livro. Decisivo para entender um pouco da história contemporâ­nea.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal