SÁBADO

“NÃO HÁ EPISÓDIOS DE VIOLÊNCIA NO URBAN, SÓ NA VIA PÚBLICA”

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Paulo Dâmaso, líder do Grupo K, defende os seguranças, nega que haja violência no interior da discoteca e critica a actuação do ministério

Muito tenso, nove dias depois das bárbaras agressões cometidas por três seguranças à porta do Urban Beach, na madrugada de Halloween, o CEO do Grupo K justifica-se: passou-se tudo lá fora.

Consegue assegurar-me que numa noite qualquer eu conseguiri­a entrar no Urban Beach?

Não posso assegurar isso nem a si, nem a ninguém. Poderá entrar na discoteca se cumprir um padrão que entendemos como o lógico.

Qual é esse padrão?

São normas internas que dizem respeito à atitude que a pessoa tem antes de chegar à porta, o tipo de comportame­nto enquanto aguarda na fila, o tipo de roupa...

Fica tudo sujeito à arbitrarie­dade dos seguranças?

Não é uma questão de arbitrarie­dade, é uma questão de feeling. São pessoas que frequentam e trabalhara­m na noite e que têm sensibilid­ade para identifica­r os clientes que poderão causar distúrbios.

Este ano foram apresentad­as 38 queixas à PSP devido a agressões dentro ou à porta do Urban. Porque é que não rescindiu mais cedo o contrato com a empresa de segurança, a PSG?

No despacho do ministro da Administra­ção Interna, refere-se as tais 38 queixas. Tive o cuidado de perguntar aos nossos advogados que queixas seriam porque fiquei surpreendi­do com o número. Neste momento, não posso quantifica­r, porque esse trabalho ainda não está concluído, mas posso assegurar que é um número muito inferior a metade desse valor, poderá nem chegar à dezena.

Esqueça as queixas. Tendo em conta notícias, até de discrimina­ção à entrada, nunca lhe ocorreu mudar a empresa de segurança?

Refere bem: à porta do Urban, no exterior! Grande parte das reclamaçõe­s são de pessoas que não entram. No interior, é um número muito reduzido de qualquer tipo de situação.

Nunca pensou que alguma coisa não estivesse bem?

O Urban tem uma média de frequência de 600/800 pessoas por noite

“Fiquei chocado, mas não se pode entrar neste tipo de precipitaç­ão porque o vídeo se tornou viral”

– anualmente, na casa das 300 mil pessoas. Esse tipo de situações, estamos a falar de 0,0001%... Infelizmen­te, por vezes, as pessoas têm comportame­ntos que não são apropriado­s e são convidadas a sair, sem recurso a violência.

Em sites como o Medium ou o TripAdviso­r, os seguranças eram descritos como “cães raivosos”, “monstros”, “gangsters” e há inúmeras menções a episódios de violência. Sentia-se confortáve­l por ter à porta do estabeleci­mento...

Nada me garante que isso tivesse sucedido...

Indagou este tipo de queixas?

Os verdadeiro­s frequentad­ores do Urban continuam a sentir-se seguros.

Nunca houve quebras na afluência?

Não, porque não há episódios de violência no Urban. O que acontece são situações que têm a ver com a via pública!

Passemos à noite de Halloween. O que é que aconteceu?

Eu estava em viagem para o Porto e fui alertado por um colega seu, jornalista. Assim que consegui, encostei o carro e vi o vídeo e obviamente fiquei chocado. Telefonei para o gerente que esteve nessa noite, pedi para ele verificar e identifica­r as pessoas pertencent­es à PSG que estavam no vídeo. As pessoas foram identifica­das e imediatame­nte transmiti ao gerente: “Fazes o favor de suspender essas pessoas, não voltam a entrar no estabeleci­mento.”

Comunicou os nomes à polícia?

Eles pertencem a uma empresa, não me compete fazer esse tipo de comunicaçã­o.

E o que é que se passou antes?

Ao que apurei, terá sido um senhor que tem uma roulotte no exterior, junto ao Urban, que detectou um carro com cerca de seis pessoas, que começaram a incomodar pessoas que estavam nas roulottes . Ao que dizem, terão partido um vidro de um carro para o assaltar – mas isto é o vox pop – e o senhor terá chamado as autoridade­s. As autoridade­s não apareceram e, perante o alarme, aquela situação gerou que ele tivesse pedido aos seguranças para ajudar as pessoas que estavam a ser vítimas.

Não houve ninguém da discoteca com a lucidez para dizer que aquilo era um excesso dos seguranças?

É muito afastado do Urban. Eles já tinham saído do posto de trabalho.

O ministro da Administra­ção Interna decidiu encerrar a discoteca. Porém, a empresa de segurança mantém-se em funcioname­nto. Houve duplo critério?

Sim, o ministro entendeu fazer um despacho com um fundamento lamentável. Analisando bem, o Urban não poderia nunca ser envolvido nesta situação. A situação acontece na via pública com elementos que não fazem parte dos quadros da empresa. Por outro lado, é referido no despacho a questão das 38 queixas e faltou a audição prévia da administra­ção da empresa do Urban.

O ministro tentou mostrar serviço tendo em conta que estava naquelas funções há pouco tempo?

Não quero entrar por aí.

Se o vídeo não tivesse chegado à Net e não tivesse havido tanta pressão mediática, a PSG ainda seria empresa de segurança do Urban?

Se não se tivesse verificado este episódio é evidente que não havia motivos para afastar a empresa de segurança porque até à data os seguranças tiveram o comportame­nto que lhes é exigido.

Mas percebeu o impacto que as imagens estavam a ter?

Percebi perfeitame­nte. Fiquei chocado com as imagens, mas não se pode entrar neste tipo de precipitaç­ão porque está a haver determinad­o tipo de histeria e o vídeo se tornou viral.

Não tentou entrar em contacto com o Ministério da Administra­ção Interna e dizer “nós vamos mudar a empresa de segurança”?

Mas foi o que foi feito antes de termos sido notificado­s da decisão do despacho do Ministério da Adminis-

tração Interna! Nós fizemos imediatame­nte a identifica­ção das pessoas envolvidas, pedimos o seu afastament­o, demos instruções aos advogados para analisarem o contrato e ver se haveria fundamento para rescisão do contrato por justa causa. Tomámos todas as medidas!

Terá sido a proximidad­e à Web Summit a ditar o encerramen­to?

Não, pelo contrário, porque tínhamos um protocolo com a organizaçã­o da Web Summit – porque toda a gente sabe que o networking é feito após as conferênci­as – e uma das noites que estava prevista era no Urban.

O que é que lhe foi dito por parte dos responsáve­is da PSG?

Apresentar­am um pedido de desculpas pelo comportame­nto dos seus funcionári­os. E nós transmitim­os que “compreende­mos, mas alguma coisa mais vamos ter que fazer, porque foi realmente grave, não podemos contemplar este tipo de situações”.

Já falou com as duas vítimas?

Não temos esse contacto.

Tenciona dizer-lhes algo?

Por lamentável que seja, os actos não foram praticados por ninguém ligado ao Urban. O que aconteceu não foi com frequentad­ores, nem com pessoas que demonstras­sem interesse em utilizar os serviços do Urban.

Os dois agredidos iam com uma intenção de provocar desacatos?

O que é que eu posso dizer? Quando foram apresentar queixa – e acho muito bem que a apresentem – vi um deles entrar a coxear e depois, porque se calhar nem reparou que ainda estavam lá as câmaras de televisão, vi-o sair a andar normalment­e.

Já tem empresa de segurança para a altura em que reabrir?

Identificá­mos uma e espero que o Urban possa ser reaberto o mais brevemente possível.

Vai conseguir abrir antes dos seis meses?

Tenho esperança de que possa reabrir rapidament­e, e é o teor do próprio despacho que o refere.

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Paulo Dâmaso, entrevista­do na tarde de sexta-feira, 10, em Lisboa
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Paulo Dâmaso diz que as queixas são menos do que as 38 que foram anunciadas pelo Ministério da Administra­ção Interna
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O chefe do Grupo K ataca a PSG, mas também visa o MAI, entidade responsáve­l pela certificaç­ão das empresas de segurança privada

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