SÁBADO

Desporto Quanto tempo é que um avançado tem a bola?

Durante o jogo, têm a bola menos de 1 minuto. Mas são decisivos – eles é que marcam os golos.

- Por CarlosTorr­es, Cátia A ndrea Costae RuiMiguelT­ovar

Quem é que nunca viveu isto na infância? O miúdo que é dono da bola, mas sem jeito para o futebol, a certa altura, farto de só correr no campo, avisa: “Ou me passam a bola ou vou-me embora!” Se este espírito pudesse ser transposto para os campeonato­s profission­ais, havia muitos avançados com vontade de fazer birra – até na Liga dos Campeões.

E isso não acontece só com as equipas menos cotadas, como Qarabag (Azerbaijão) ou APOEL (Chipre). Benfica (contra Manchester United), FC Porto (RB Leipzig) e Sporting (Juventus), também sentiram muitas dificuldad­es na última jornada europeia. Que o diga Bas Dost, que no empate (1-1) com os italianos apenas teve a bola 30 segundos (nos 80 minutos em que jogou). Nesse tempo, tocou-lhe 36 vezes, sendo seis de cabeça. Isto ilustra a estratégia do treinador, Jorge Jesus: a ideia é que ele seja uma espécie de pivô, pondo a bola num colega para a segunda fase de construção. Por isso, o holandês toca quase sempre na bola uma única vez. Frente ao Braga, para a 11ª jornada da Liga (2-2), Bas Dost ainda esteve menos em jogo. Quando saiu, aos 77 minutos, tinha tocado na bola 22 vezes, em 20 segundos. Pouco? Sim, mas o suficiente para obter um golo, quatro remates e uma assistênci­a. Ou seja, Bas Dost é um verdadeiro matador, que apesar de passar o jogo isolado entre os defesas, sabe aproveitar as poucas oportunida­des.

JONAS E BAS DOST MARCARAM DE PRIMEIRA. O AVANÇADO DO FC PORTO FEZ O GOLO APÓS UMA FINTA

O mesmo acontece com Aboubakar. O ponta-de-lança do FC Porto costumava jogar ao lado de Marega, mas com a lesão do maliano, logo aos 10 minutos da partida com o RB Leipzig, passou a ficar sozinho na frente. Contra os alemães, Aboubakar esteve em contacto com a bola, nos 96 minutos da partida, 59 segundos (tocou-lhe 65 vezes). Estar em contacto com a bola significa, muitas vezes (mais precisamen­te 12) que ele apenas passava de primeira aos colegas. Portanto, Aboubakar teve a bola controlada nos seus pés 34 segundos (16 na primeira parte e 18 na segunda). Ainda assim, conseguiu dois remates, acertou 14 dos 18 passes e isolou Maxi Pereira (aos 92’) para o 3-1 final. No campeonato, frente ao Belenenses (4 de Novembro), a sua intervençã­o melhorou. Nos 99 minutos de jogo (houve paragens para assistir Bouba Saré), esteve em contacto com a bola 71 segundos (teve-a dominada nos pés 47 segundos e tocou-lhe 78 vezes), fez 15 passes certos, rematou três vezes e marcou o 2-0 (picou sobre o guarda-redes após fintar um defesa). Se contra o RB Leipzig o máximo de tempo que Aboubakar esteve com a bola foram quatro segundos, frente ao Belenenses chegou a fazê-lo uma vez por oito segundos e outra por seis. Nos dois jogos, houve longos períodos em que Aboubakar nem tocou na bola. Frente ao RB Leipzig, esteve duas vezes out seis e 10 minutos. Contra o Belenenses, na segunda parte, quando os azuis atacaram mais (ao intervalo a posse era de 57-43% para o FC Porto), só tocou na bola pela primeira vez aos 52 minutos. Esteve depois out dos 56 aos 64 minutos.

Craque em poucos segundos

Dos três avançados, Jonas é o que consegue melhores números na relação com a bola. O brasileiro não foi titular contra o Manchester United (só entrou aos 80 minutos), mas em Guimarães teve a bola em seu poder 87 segundos (jogou 84 minutos). Jonas costuma fazer dupla no ataque, mas em Guimarães foi um avançado solitário, armado em vagabundo. Mas a correr (e a jogar) mais que os outros. Para começar, toca na bola 57 vezes: 36 na primeira parte e 21 na segunda. Algo raro num 9 puro, tipo Seferovic ou Jiménez, que se encostam à linha da grande área e só gravitam à sua volta. Jonas, não. Nunca pára quieto e o máximo de tempo sem bola são 12 minutos. De resto, é-lhe impossível estar mais de três minutos e meio sem aparecer em cena. Se a isso acrescenta­rmos a qualidade do toque de bola, assunto arrumado. Há um lance em que dá nove toques seguidos numa jigajoga invejável, até ser travado em falta. Mas há mais: Jonas marca o 1-0, desmarca Samaris para o 2-0 e faz uma habilidade a caminho do 3-0 de Salvio. Jonas está em todas e é quase perfeito na segunda parte, com apenas dois passes errados em 21. Craque em apenas 87 segundos com a bola.

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BAS DOST ABOUBAKAR Esteve com a bola 30 segundos contra a Juventus e 20 frente ao Sp. Braga – o suficiente para conseguir um golo Frente ao RB Leipzig, na Champions, o avançado portista só teve a bola 59 segundos. Contra o Belenenses, aumentou para 71
 ??  ?? JONAS O avançado do Benfica só jogou 10 minutos contra o Manchester United. Em Guimarães, marcou um golo e foi a grande figura
JONAS O avançado do Benfica só jogou 10 minutos contra o Manchester United. Em Guimarães, marcou um golo e foi a grande figura

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