SÁBADO

Os amigos dos amigos

- Ângela Marques Jornalista

Eu estava a ver o copo meio cheio: o Sporting tinha acabado de submeter a Juventus a um empate e o Benfica tinha empatado 0-2 com o United Mourinho. Na minha rua, grupos de universitá­rios cantavam, riam e bebiam poções mágicas na esperança de ficarem mais espertos e mais bonitos (Picassos de Entrecampo­s, tinham as bocas agrafadas a marcador preto, o que só achei tranquiliz­ador quando me lembrei que era noite de Halloween). A caminho de um aniversári­o, quis ver o copo meio cheio: em noite de festa, só eu sei porque não fico em casa. Quando vi a banda de covers, pressenti o tributo ao bafio e comecei a ver o copo meio vazio. Fiquei longe da pista para ouvir pior e pedi uma vodka para me sentir melhor. A aniversari­ante chegou já a reclamar: que queria ver toda a gente a dançar e só via a dança das cadeiras. Pensei pedir à banda para tocar aquela (“Pisemos a pista, é bom que se insista”), mas reconsider­ei – nem nós nem o Sérgio Godinho merecíamos isso.

Não sei como aconteceu, mas os copos cheios começaram a rodar e a terra começou a girar a meu favor. O mundo deve ter dado a tal volta de 360 graus porque, estando tudo igual, a música era agora boa e a pista estava agora cheia. Não conhecia a maioria das pessoas, não me inscrevi naquele Campeonato do Mundo de Solos de Guitarra Imaginária que ali decorreu, mas deixei-me ir – do bar, ouvi gritos de guerra como “amigo puxa amigo” e “desidratar é morrer” (ou então sonhei). Dancei.

No final, fechada a pista, voltei a ver o copo meio cheio: os amigos dos amigos às vezes são os melhores amigos. Sobretudo quando os copos ficam todos vazios.

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