Crónica para o Rui
“Ultimamente andas a escrever muito sobre política”,
comentou, em almoço recente, um amigo. “É porque tenho sido marcado pela política”, disse-lhe, de garfo na mão. Fiquei a matutar no comentário, ainda com o bom sabor do queijo que encerrou o repasto. O que queria o Rui dizer? Cheguei à conclusão nas curvas do périplo automobilístico de regresso a casa: queria dizer que ando a faltar ao gesto de falar das horas comuns. Mantendo o sentimento que lhe manifestei, percebo-o. E volto, esta semana, ao posto de trabalho.
Conto, Rui, o mais caseiro dos assuntos: a viagem matinal do meu filho de três anos desde os nossos aposentos até à sua oficina escolar. E o que tem de partilhável? A sua espantosa normalidade. Uma nota: vou com ele pela rua, até porque toda a felicidade merece ter testemunha, até para ser depois contada.
Topo sempre o rapaz a saudar e a ser saudado, com júbilo e generosidade, em todos os sítios por onde vai passando: o café, a barbearia, a costureira. Chega ao infantário com o papo cheio de “bons dias” e vivência comunitária. Que seja partilhada, espero, com muita rapaziada de um País cada vez mais dado a eventos de pavilhão e cada vez menos à existência que melhor nos assenta, até pela nossa doméstica dimensão. Uma Bairro Summit de todos os dias.