SÁBADO

Crónica para o Rui

- Nuno Costa Santos Escritor

“Ultimament­e andas a escrever muito sobre política”,

comentou, em almoço recente, um amigo. “É porque tenho sido marcado pela política”, disse-lhe, de garfo na mão. Fiquei a matutar no comentário, ainda com o bom sabor do queijo que encerrou o repasto. O que queria o Rui dizer? Cheguei à conclusão nas curvas do périplo automobilí­stico de regresso a casa: queria dizer que ando a faltar ao gesto de falar das horas comuns. Mantendo o sentimento que lhe manifestei, percebo-o. E volto, esta semana, ao posto de trabalho.

Conto, Rui, o mais caseiro dos assuntos: a viagem matinal do meu filho de três anos desde os nossos aposentos até à sua oficina escolar. E o que tem de partilháve­l? A sua espantosa normalidad­e. Uma nota: vou com ele pela rua, até porque toda a felicidade merece ter testemunha, até para ser depois contada.

Topo sempre o rapaz a saudar e a ser saudado, com júbilo e generosida­de, em todos os sítios por onde vai passando: o café, a barbearia, a costureira. Chega ao infantário com o papo cheio de “bons dias” e vivência comunitári­a. Que seja partilhada, espero, com muita rapaziada de um País cada vez mais dado a eventos de pavilhão e cada vez menos à existência que melhor nos assenta, até pela nossa doméstica dimensão. Uma Bairro Summit de todos os dias.

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