SÁBADO

Jantar num cemitério

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Ele há polémicas muito tolas em Portugal. A do jantar no Panteão Nacional é uma delas. Repare-se nos títulos do Público:

– “BE e PCP querem mudança orçamental para que não se mercantili­ze espaços como o Panteão”;

– “PSD pede demissão de quem autorizou jantar no Panteão Nacional”; – “Indignado com jantar da Web Summit, Costa proíbe festas no Panteão Nacional”;

– “Fundador da Web Summit pede desculpa pelo jantar no Panteão Nacional”.

Ou seja, todos estão mal. Não têm mais nada que fazer? Os participan­tes na Web Summit não se importam de jantar num cemitério e pagaram a renda do sítio. O local, como muitos sítios e monumentos históricos por todo o mundo, aluga as suas instalaçõe­s para eventos sociais e isso não me choca nada. Podia dizer-se que neste caso o facto de estar ali uma espécie de “altar da Pátria”, seja lá o que for, pedia mais prudência. Muito bem, então não deviam colocá-lo na lista dos alugáveis.

Mas tudo isto está cheio de hipocrisia. O mesmo Estado que deixa cair aos bocados o património tangível e intangível por que é responsáve­l, aparece agora pudicament­e chocado por, sem se estragar nada, se ter conseguido uns cobres para a cultura. Os partidos, todos, resolveram dizer asneiras para lavarem as mãos de uma das coisas mais limpas que alguma vez fizeram. E a comunicaçã­o social, em vez de resumir o que se passa a uma frase derrogativ­a algures, participa no festim, abrindo noticiário­s com a “história” do Panteão. É daquelas alturas em que apetece ir para um daqueles “paradores” espanhóis, sediados em magníficos monumentos antigos, alguns dos quais, quando têm capela, têm também mortos por baixo.

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