Herança partilhada
homenageia filho, falecido há três anos, com bolsa de estudo
A jornalista doou o seu património à Nova School of Business and Economics, para perpetuar a memória de André Sousa Bessa, que morreu a 29 de Junho de 2014. Ela que está no centro da polémica por causa de uma reportagem
Na próxima quinta-feira, dia 29, assinala-se os três anos da morte de André Sousa Bessa, filho único de Judite Sousa. A tragédia abateu-se sobre a jornalista da TVI quando o jovem, de 29 anos, e prestes a iniciar a sua vida profissional, na Alemanha, foi vítima de uma queda na piscina, num fim-de-semana com amigos, numa quinta nos arredores de Azeitão.
Após muitos meses de profundo sofrimento – “é uma dor inigualável” –, a directora-adjunta da TVI conseguiu “reerguer-se” e retomar a sua vida, pessoal e profissional. Mas, como já afirmou, nada será como dantes: “Fui obrigada a reformular a minha existência. Sofrerei até ao fim da minha vida…”
E para perpetuar a memória do filho, Judite decidiu associar o seu património a uma bolsa de estudo com o nome de André Sousa Bessa, destinada a estudantes carenciados que se candidatem ao Mestrado em Finanças da Nova School of Business and Economics. Refira-se que este curso está classificado, pelo ranking do Financial Times, como um dos 20 melhores do Mundo.
INICIATIVA INÉDITA
Instituída por doação individual, trata-se de um gesto inédito em Portugal, e consta do testamento da jornalista, que possui algum património imobiliário em Lisboa e no Porto, este último, por via da herança paterna. Judite justifica esta iniciativa pessoal pelo facto daquele mestrado ter mudado a vida do filho. “Tenho a certeza de que ele teria muito gosto em poder ajudar outros jovens a beneficiarem da mesma oportunidade”, explicou Judite.
Recorde-se que o filho da jornalista tinha terminado o referido mestrado, com 16 valores – depois de se ter licenciado em Direito –, pouco tempo antes do fatídico acidente, preparando-se para se mudar para a Alemanha, onde ira trabalhar na multinacional Roland Berger. Com um valor equivalente à totalidade das propinas do mestrado, a bolsa de estudo “tem por objectivo proporcionar a jovens talentosos a oportunidade de explorarem o seu potencial e de se lançarem numa carreira de sucesso”, como anuncia a própria escola.
Com esta bolsa individual, a jornalista da TVI procura, igualmente, “ajudar a incrementar o desenvolvimento do capital intelectual do país e melhor a percepção de Portugal no Mundo”.
O júri de atribuição da bolsa – que já beneficiou três alunos – é constituído por Judite (a quem cabe a última palavra),
pelo presidente da Universidade Nova de Lisboa e por uma professora catedrática da mesma faculdade.
AS CRÍTICAS DOS FAMOSOS
Entretanto, a jornalista está no centro de uma polémica por causa de uma das reportagens que fez, para o Jornal das 8 – sobre o incêndio em Pedrógão Grande –, e em que surge, em pano de fundo, o cadáver de uma das vítimas, coberto por um lençol.
Judite foi alvo de numerosas críticas nas redes sociais, entre as quais constam as de algumas figuras televisivas, como Hélder Reis. “Para mim, como cidadão e profissional de comunicação, isto não pode ser. Fazer televisão ao lado de um corpo. Não, não. Este não é o caminho. Lamento. Estou em choque”, escreveu o apresentador da RTP.
Foi também o caso de algumas actrizes, que não se coibiram de partilhar o seu desagrado público a propósito da referida reportagem. “Hipocrisia. Números. Não respeitam ninguém”, partilhou Diana Chaves, enquanto Andreia Dinis foi mais lacónica: “Sem palavras.” Já Sofia Fernandes, repórter da SIC, escreveu: “Fiquei chocada.”
A polémica reportagem da jornalista motivou, igualmente, mais de uma centena de queixas junto da Entidade Reguladora de Comunicação Social, que decidiu abrir um processo de averiguação (ver caixa).