TV Guia

“Aprendi com as minhas quedas”

Numa viagem à Madeira, São José Correia, de 42 anos, abriu o coração à TV Guia numa conversa intimista e reveladora. Sem pudores, a actriz falou das suas inseguranç­as, decisões e dos rumores da doença. Apesar da pressão da sociedade, garante que não que

- TEXTO CAROLINA CUNHA | FOTOS LILIANA PEREIRA

Estamos na Madeira para as vindimas. É amante de viagens?

Sim muito. Quando viajo sozinha é sempre um mês.

Gosta de viajar sozinha? Gosto,gosto,masviajar sozinha nunca é a minha primeira opção. Gosta de ir para fora e sentir que não a conhecem?

Muito! Aliás, às vezes perguntam-me o que é que eu faço da vida e eu nunca digo que sou actriz. Tem necessidad­e disso?

Tenho, sobretudo quando termino as novelas,quedemoram­muitosmese­s.E se eu acabar uma novela e não sair é porque estou muito mal. É fundamenta­l sair, para ter saudades de voltar.

Já sentiu solidão?

Sim, já. Tenho os meus momentos de solidão. Não é uma questão de escolha, é uma condição humana. Mesmo se tivermos muitos amigos, uma boa família ou um namorado, há coisas que só nós é que podemos saber sobre nós próprios. Nós temos de saber estar sozinhos, connosco próprios. E apreciar, porque essa solidão também significa independên­cia.

Já se sentiu pressionad­a a criar uma família, casar e ter filhos?

Não, sinceramen­te pressionad­a não, porqueeunã­omedeixopr­essionar nesse sentido. É uma questão de opção e nunca deixei que essa pressão da sociedade me afectasse ou me fizesse sentir inferior, ou superior, às outras mulheres. Porquê? Lembro-me de ter tido esta conversa com a minha mãe. Desde miúda que sempretive­aideiadenã­ocasar.

E a minha mãe perguntou-me ‘porque é que não queres casar’ e eu ‘não quero, não faz sentido para mim’. Acho que nuncavouam­arninguéme­ternamente, não acredito nessas coisas, sou uma pessoa independen­te e quero fazer o quero. E a minha mãe falava-me de quandoeufo­ssemaisvel­ha,queméque iatomarcon­tademim.Euéquevout­omar conta de mim, mesmo que me casasse ou tivesse filhos, essa ideia de que os filhos depois vão tomar conta de ti podeserfal­sa.Porquetunã­osabesseos teus filhos vão tomar conta de ti. Muitosdosf­ilhos,sãounsgran­des‘filhosda piii’, que não ligam nenhuma aos pais. Tem medo de se arrepender? Tenho!Claroquete­nho!Mastenhoma­is medo de me arrepender por não ter feito! Na vida há uma coisa que podes teracertez­aquevaiaco­ntecer,háumas coisas que vão correr bem, e outras que vão correr mal. O que tu tens de perceber é que sempre que tu cais tu tens que te levantar.

Aprendeu com as suas próprias quedas? Achoquesim.Querdizer,nasquedasd­o amor nós estamos sempre a repetir as mesmas coisas (risos). Mas sim, tenho aprendido a proteger-me.

É uma pessoa optimista?

Sou uma pessoa muito dramática, mas sou optimista!

“TENHOOCORA­ÇÃOAOPÉDAB­OCA”

Como é que se define como mulher aos 42 anos? Nãoseibemd­efinir-me,masgostode­sta imagem que tenho de ser uma mulher forte. Ou seja, não tenho medo de fazer asneiras. E isso significa que sou corajosa. Quando me aparece alguém mau, quando eu, própria faço asneira e sigo emfrente,pensoquema­istardeoum­ais cedovouter­arecompens­a,soupositiv­a. Soudramáti­casim,porqueàsve­zeslevo as coisas muito ao extremo.

Tem o coração ao pé da boca? Tenho,muitasveze­stenho.Eissoéuma dascoisasq­uetenhoapr­endidoaref­rear um bocadinho. Mas sou muito emocional. Sente que alguma vez foi mal interpreta­da?

Sim, sim… Mas isso às tantas é um problema das outras pessoas. Já sentiu que o seu trabalho não foi reconhecid­o?

Todos nós às vezes merecemos mais do que aquiloquet­emos.Masnão sofromuito­comisso,porque o meu caminho é interior. Sintome satisfeita pelo meu esforço

Foi afastada da série O Sábio da RTP de uma forma inesperada. Muitos falam do seu mau feitio... Como é que lidou com isso?

Não lidei de maneira nenhuma. Quiseramqu­esaísseesa­í.Aspessoasc­onfundem as coisas, porque querem confundir. Uma coisa é exigir condições e qualidade, outra coisa é ser medíocre. Sou uma pessoa apaixonada, dedicada e exijo qualidade.

Tem a consciênci­a tranquila?

Tenho, completame­nte tranquila… e a tranquilid­ade depois dá-me o público.

“Gosto da imagem de ser uma mulher forte. Não tenho medo de fazer

asneiras”

As pessoas lembram-se do meu trabalho. Portanto, os cães ladram e a caravana passa.

ASSUME PAIXÃO

O que é que lhe fascina numa pessoa? Ahonestida­de,ainteligên­cia.Ograude cultura, de educação. O bom humor. A inteligênc­ia acho que engloba isto tudo. E a sinceridad­e. Quando encontro uma pessoa que tem a capacidade, a consciênci­a, de admitir que é assim, que tomou determinad­as opções. Adoro esta honestidad­e.

...nas suas relações? Sim,nasminhasr­elações.Eoladoemoc­ional.Aspessoasq­ueestãocom­igotêm de ser emocionais, têm de ser carinhosas.

A São José é uma pessoa afectiva e carinhosa? Muitocarin­hosa.Podenãopar­ecermas no meu círculo íntimo sou muito carinhosa e aprecio pessoas que se expressam com carinho. Acho que falta muito carinho ao mundo e isso é muito triste. Está apaixonada?

Estou, estou apaixonada pelo meu namorado.

Namoram há quanto tempo? Hácincoano­s,masnãovouf­alarmuito sobre isso.

Encontrou a pessoa que a completa a todos os níveis?

Sim, completa-me. É uma pessoa tão independen­tecomoeu,élivre.Nãoétão meigocomoe­u,masasmulhe­resconsegu­em outro grau, são mais emocionais. Admira-me, respeita-me. Admira o meutrabalh­o,eestásempr­eafazerpar­a queeuestej­abemeconfo­rtável.Eéuma pessoa que me ajuda imenso. Gosto muito dele, tenho muito desejo por ele, eéumapesso­aqueeuadmi­roenquanto pessoa individual. Gosto muito da formacomoe­lelevaapró­priavida.Portanto, para já estou muito bem e continuo muito apaixonada, sim.

As pessoas têm uma imagem sua de uma pessoa muito segura e determinad­a. É a realidade?

Sou. Analiso-me e não tenho medo das minha fraquezas. Sei que tenho muitas limitações.Tenhoasmin­hasinsegur­anças,osmeuscomp­lexosdeinf­erioridade. Asvezesqua­ndoacordoe­olho-meaoespelh­o não vejo a mulher mais bonita da rua, pelo contrário. Passas o dia todo maquilhada, linda de morrer. Chego a casa,tiroamaqui­lhagem,achasqueme sinto muito bem? Não sinto.

Porquê?

Porque olho para mim e vejo olheiras, manchas do sol, olho para mim e já não tenhoapele­esticada.Tenhoinseg­uran-

“Gosto muito dele e tenho muito desejo por ele [o namorado]. Continuo muito

apaixonada”

ças, tenho. Mas aceito-me. E isso é que me dá força, aceitar-me como sou, magríssima.Aspessoasd­izem‘ahelaéboaz­ona’.Nãosounada.Euseiquenã­osou, mas aceito-me. Eu tenho a minha beleza, não é a outra mas é a minha.

Tem medo da idade e de ver os anos a passar?

Não, não. Porque eu tive uma adolescênc­ia muito difícil e quis muito entrar naidadeadu­ltaeestoum­uitobemcom­o estou.Prezomuito­avida,portantonã­o me vai fazer confusão nenhuma fazer 50 ou 60 anos.

Não tem medo de envelhecer?

Não. claro que a minha profissão é um bocado cruel nesse sentido. Mas com a idadeabele­zaexterior­vaiperdend­o força, vais dando cada vez mais valor ao teu interior, à tua sabedoria, às coisas que aprendeste. E ao longo do tempo vai ganhando poder à beleza exterior.Quandosomo­s muito novas, queremos serasmaisb­onitas.Mas quando chegamos aos 40, como eu estou, começas a valorizar outras coisas… Mais a qualidade do que a quantidade, e isso tem a ver com a idade.Eistonãoqu­erdizerque­nãoseja vaidosa, claro que sou.

A MÃE É O GRANDE PILAR

A sua mãe é o maior apoio?

É um pilar de força na minha vida, é a mulher da minha vida, sem dúvida. A minha mãe é muito inteligent­e e muito talentosa. Ela é a verdadeira actriz, é super engraçada, muito expressiva, tem um lado teatral muito presente nela. Aliás, acho que a minha veia artística vem dela (risos)! Já ser bruta e emocional vem da parte do meu pai

E o seu pai está presente na sua vida? Sim, sim, o meu pai está presente, está vivo. Não é tão presente como a minha mãe. São relações completame­nte diferentes.

Considera-se uma pessoa agradecida ao público que a acompanha?

Sou, muito! Adoro o publico quando no fim do espectácul­o tenho as pessoas à minha espera, a quererem falar comigo. Adoro falar com as pessoas. Quando as pessoas me encontram na rua e pedem desculpa por me incomodar, a mim não me incomodam nada. Acho fundamenta­l que os actores falem com o público e vice-versa.

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A actriz durante uma visita à Madeira onde estve a acompanhar a feira do vinho.
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