Lágrimas e medo
Rui Maria Pêgo escondeu durante muitos anos dos progenitores que “gostava de meninos” e assume que foi um momento muito complicado aquele em que revelou à família a sua homossexualidade
Um ano depois assumir publicamente que “gostava de meninos”, através de uma mensagem nas redes sociais, após um massacre numa discoteca gay nos Estados Unidos, Rui Maria Pêgo, radialista, actor e filho de Júlia Pinheiro, revela agora que viveu momentos dramáticos durante os muitos anos em que escondeu, ou tentou esconder, que era homossexual.
O animador das manhãs da Mega Hits, rádio do grupo Renascença, aproveitou o Dia Nacional do Coming Ou, nos EUA, celebrado a 11 de Outubro, para reviver os anos em que escondeu que gostava de pessoas do mesmo sexo. Assume que, entre os 12 e os 19 anos, altura em que ganhou coragem e revelou, sem rodeios aos progenitores, que era gay, viveu anos difíceis, a controlar “os gestos, os gostos, a voz, na esperança de ser aceite”.
“Foi assim que cresci até aos 19 anos quando acabei por contar aos meus pais, lavado em lágrimas, cheio de medo de rejeição e com uma sensação de perigo iminente, que gostava de rapazes. Antes disso contei a alguns amigos. E, mais tarde, às pessoas com quem trabalhava. Há muita solidão neste processo. Não é simples e deixa nódoas na alma durante anos. No meu caso, tenho a sorte de viver rodeado de pessoas que me amam. E de ter nascido de pais que são inteligentes, sensíveis e com a noção do que é gostar. Dito isto: eu não sou especial. Sou um homem igual a tantos outros que tem um megafone nas mãos. Não fazer alguma coisa quase nos 30 era voltar a contribuir para a tristeza do Rui Maria dos 12 que controlava os gestos, os gostos, a voz, na esperança de ser aceite.”
Rui Maria reconhece que ainda há “muito medo” e “muito ódio”. E que, por isso, é importante não calar. E tentar ser feliz.