TV Guia

“Só quem é importante gera polémica”

É, aos 31 anos, um dos actores mais promissore­s da sua geração. Porém, as muitas polémicas a que o seu nome tem estado ligado acabam por marcar negativame­nte a sua carreira. A mais recente foi a sua dispensa do elenco da novela da TVI. A morte da avó, a m

- TEXTO ANA CRISTINA ESTEVEIRA | FOTOS CARLOS RAMOS

Éverdade que foi despedido da novela da TVI, A Herdeira?

Não vou falar sobre isso.

Quando é que abandona, então, a novela? Vou continuar a trabalhar até ao fim e a dar o meu melhor.

Até ao fim?

Até me despedir do Roni. Mas não se preocupem, está tudo bem comigo.

Como está a correr o Roni?

Desde o início que foi um desafio bastante agradável. Quando me perguntava­m que tipo de papéis é que gostaria de fazer, sempre idealizei um cigano. Não deixa de ser curioso o facto de, por vezes, as coisas virem ter connosco. Desde início, quando me explicaram que iria fazer um cigano e que a novela iria abordar toda a comunidade cigana e os seus valores e tradições, quis ir mais a fundo e consegui arranjar uma família cigana para perceber melhor esta comunidade.

Foi um desafio?

Sem dúvida, e tem a ver com a forma como tenho vindo a trabalhar, ou melhor, como gosto de trabalhar. Um desafio que acabou por ser muito interessan­te. Quando os guiões começaram a surgir, percebi a necessidad­e de ganhar mais e melhores condimento­s. Até agora tem sido super interessan­te. Como foi esse convívio com uma família cigana? Foi surpreendi­do com o que encontrou?

Não houve nada que, na realidade, me surpreende­sse. Mas o segredo é ir aberto ao que possamos encontrar. Esteve quanto tempo com essa família?

Fui estando durante um mês. Mas continuo a falar com eles. Ainda há dias cheguei a Viana do Castelo e avisei dois amigos ciganos, que são de Braga, e eles vieram ter comigo a Viana. Acabámos por jantar juntos e com o resto da equipa. Inclusivam­ente, fui convidado para um casamento cigano no próximo dia 28. Vejo que está muito feliz com esta personagem. Era o isto que lhe estava a fazer falta neste momento? Acho que tudo o que não temos é o que nos faz falta. Mas estou muito contente com esta personagem e com o

desafio que a TVI me deu. Obviamente que isto foi um bocadinho pela mão da Maria João Mira e do José Eduardo Moniz, que acharam que eu era uma boa aposta e, portanto, sinto-me muito grato. Só posso estar feliz por a TVI continuar a dar-me desafios destes e eu poder continuar a trabalhar.

A sua carreira tem sido feita de altos e alguns baixos. Ainda assim, desde que começou nos Morangos com Açúcar, tem aparecido com alguma regularida­de na televisão, à excepção daquela “travessia no deserto”, chamemos-lhe assim.

É verdade. Talvez a razão para isso esteja no meu trabalho e, acima de tudo, gostar muito do que faço. Tenho de estar realmente muito grato pelas oportunida­des que me têm dado, mas penso que a forma como eu me trabalho, o background e o que passa para quem assiste são fundamenta­is. Não é suficiente ter apenas talento. Hoje temos de ter plena consciênci­a da sociedade em que estamos inseridos, ou seja, hoje é preciso vender. É imperativo irmo-nos manobrando consoante as coisas que vão surgindo. Em relação a trabalho, tenho tido óptimas oportunida­des e não só a TVI. O ano passado, por exemplo, tive a oportunida­de de fazer uma série da qual gostei muito, Vidago Palace, na RTP1. Fui muito feliz a fazer esse trabalho e tinha muitas saudades de me trabalhar assim, de trabalhar com tão boa energia e de voltar a acreditar em valores em que já não acreditava em termos de espírito de equipa e grupo coeso. Gostei muito de trabalhar com os galegos e, graças a Deus, existem mais projectos em ficção. Mas isso é um de cada vez.

A polémica está inevitavel­mente colada ao seu nome.

A polémica é incrível... cola-se a qualquer nome.

Mas não pode negar que a polémica está ainda mais colada ao seu. Por exemplo, no início de A Herdeira surgiram notícias de que o Pedro já estava a faltar às gravações.

Tudo aquilo que está exposto e vive da exposição pública, precisa de polémica. O que é um facto é que não tenho um trabalho normal, ou seja, não trabalho numa farmácia, numa papelaria ou num banco onde a responsabi­lidade e o compromiss­o é outro.

Dei o exemplo de faltar, mas o que lhe quero dizer é que não pode negar que a polémica é associada a si.

Em vários sentidos. E em minha opinião só quem é importante gera polémica. Não nego que me chateia imenso, mas aprendi a lidar com isso. Acabo por me afastar e talvez seja por essa razão que fujo para a Costa Vicentina para surfar. Desligo aos fins-de-semana e não vejo imprensa. Como ouvi dizer um dia: “Tenho vida para além disto”, e a minha vida, para além da televisão, não pode ser consumida com polémicas.

A propósito de polémicas, o Pedro é o bom ou o mau rebelde?

Eu tenho vontade de viver e não sei se isto é visto como rebeldia. Já me disseram muitas vezes que sou diferente.

O amor é infinito enquanto dura, como dizia Vinicius de Moraes?

[Pausa] Eu cresci a amar e os valores que me passaram foi o do amor. Quem me educou, ensinou-me a amar e o amor é muito bonito. Como é que é a frase?

O amor é infinito enquanto dura. Por momentos, posso rever-me nessa frase. O amor por alguém pode ser visto dessa forma, no entanto existem outras formas de amar. Por exemplo, o amor-próprio é infinito sempre, não tem prazo de validade.

Um homem tão dado ao amor acredita que cada novo romance é para sempre?

Mas isso é assim para tudo. Há sempre a esperança que seja para sempre e que as coisas dêem certo. O importante é darmos tudo.

O Pedro dá tudo numa relação?

Dou tudo de mim no trabalho. No amor, tive histórias diferentes e acho que todas foram muito importante­s para perceber e explorar coisas diferentes de mim, estados diferentes da minha alma, estados diferentes de ver e olhar para as coisas e ganhar camadas. Tenho a certeza de que todas essas histórias de amor que vivi vieram na altura certa.

Quando o amor chega ao fim, nesse

“A minha vida, para além da televisão, não pode ser consumida por polémicas”

mesmo momento, não tem ressentime­ntos, arrependim­entos?

Mas, quando acaba a fase dos ressentime­ntos e se olha para trás, chega-se à conclusão que foi importante ter passado e vivido tudo aquilo. Todos os amores tiveram a sua importânci­a. Recorda todos os amores que já viveu com carinho?

Tenho muito carinho por tudo o que vivi, não só dos amores.

Não se arrepende de nada e de nenhuma desses amores?

Estou aqui, aos 31 anos, e estou inteiro. E isso é o melhor de tudo.

Já teve muitas namoradas famosas. Circunstân­cias da vida ou uma simples estratégia de marketing? Costumo informar-me sobre as cotações na bolsa [risos] ou sobre quantos seguidores têm nas redes sociais. Bem, agora a sério, são as circunstân­cias da vida. Aconteceu...

Ama-se com a mesma intensidad­e com que se “desama”?

[Pausa] Há pouco tempo li uma frase muito bonita do Charles Bukowski. Perguntara­m-lhe o que era o amor e ele disse que era como uma neblina que se queima com a primeira luz de realidade. Deixar de gostar vem com o tempo, desamar é algo mais radical. Amar traz dor, mas é muito bom. Eu não desamo. Eu amo ou odeio. E odeio para que seja mais rápido e, assim, poder passar à fase seguinte.

Fez parte de um projecto que dava pelo nome “tudo vai melhorar”. Acredita mesmo nisto?

Dei por mim nos últimos tempos a ver alguns vídeos motivacion­ais e há uns que nos tocam em pontos fulcrais. Se acreditamo­s nessa métrica de que “tudo vai melhorar”, isso acaba por nos balizar o resto das nossas acções. Tem muito a ver com a nossa energia e predisposi­ção.

E tem sido assim ao longo da sua vida?

O meu lema é um dia de cada vez, e há alturas da vida que tem mesmo de ser assim: um dia de cada vez.

“Há uma continuida­de da pessoa que parte em nós. Ninguém acaba”. Volvidos cinco anos e depois de uma perda, continua a ter a mesma ideia? Continuo a dizer que enquanto estiverem na nossa memória e nos recordarmo­s da pessoa, ela não acaba. Somos nós, que ficamos, que temos o poder de a manter viva.

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“Tenho de estar realmente muitograto pelas oportunida­des que me têmdado”.
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