“Só quem é importante gera polémica”
É, aos 31 anos, um dos actores mais promissores da sua geração. Porém, as muitas polémicas a que o seu nome tem estado ligado acabam por marcar negativamente a sua carreira. A mais recente foi a sua dispensa do elenco da novela da TVI. A morte da avó, a m
Éverdade que foi despedido da novela da TVI, A Herdeira?
Não vou falar sobre isso.
Quando é que abandona, então, a novela? Vou continuar a trabalhar até ao fim e a dar o meu melhor.
Até ao fim?
Até me despedir do Roni. Mas não se preocupem, está tudo bem comigo.
Como está a correr o Roni?
Desde o início que foi um desafio bastante agradável. Quando me perguntavam que tipo de papéis é que gostaria de fazer, sempre idealizei um cigano. Não deixa de ser curioso o facto de, por vezes, as coisas virem ter connosco. Desde início, quando me explicaram que iria fazer um cigano e que a novela iria abordar toda a comunidade cigana e os seus valores e tradições, quis ir mais a fundo e consegui arranjar uma família cigana para perceber melhor esta comunidade.
Foi um desafio?
Sem dúvida, e tem a ver com a forma como tenho vindo a trabalhar, ou melhor, como gosto de trabalhar. Um desafio que acabou por ser muito interessante. Quando os guiões começaram a surgir, percebi a necessidade de ganhar mais e melhores condimentos. Até agora tem sido super interessante. Como foi esse convívio com uma família cigana? Foi surpreendido com o que encontrou?
Não houve nada que, na realidade, me surpreendesse. Mas o segredo é ir aberto ao que possamos encontrar. Esteve quanto tempo com essa família?
Fui estando durante um mês. Mas continuo a falar com eles. Ainda há dias cheguei a Viana do Castelo e avisei dois amigos ciganos, que são de Braga, e eles vieram ter comigo a Viana. Acabámos por jantar juntos e com o resto da equipa. Inclusivamente, fui convidado para um casamento cigano no próximo dia 28. Vejo que está muito feliz com esta personagem. Era o isto que lhe estava a fazer falta neste momento? Acho que tudo o que não temos é o que nos faz falta. Mas estou muito contente com esta personagem e com o
desafio que a TVI me deu. Obviamente que isto foi um bocadinho pela mão da Maria João Mira e do José Eduardo Moniz, que acharam que eu era uma boa aposta e, portanto, sinto-me muito grato. Só posso estar feliz por a TVI continuar a dar-me desafios destes e eu poder continuar a trabalhar.
A sua carreira tem sido feita de altos e alguns baixos. Ainda assim, desde que começou nos Morangos com Açúcar, tem aparecido com alguma regularidade na televisão, à excepção daquela “travessia no deserto”, chamemos-lhe assim.
É verdade. Talvez a razão para isso esteja no meu trabalho e, acima de tudo, gostar muito do que faço. Tenho de estar realmente muito grato pelas oportunidades que me têm dado, mas penso que a forma como eu me trabalho, o background e o que passa para quem assiste são fundamentais. Não é suficiente ter apenas talento. Hoje temos de ter plena consciência da sociedade em que estamos inseridos, ou seja, hoje é preciso vender. É imperativo irmo-nos manobrando consoante as coisas que vão surgindo. Em relação a trabalho, tenho tido óptimas oportunidades e não só a TVI. O ano passado, por exemplo, tive a oportunidade de fazer uma série da qual gostei muito, Vidago Palace, na RTP1. Fui muito feliz a fazer esse trabalho e tinha muitas saudades de me trabalhar assim, de trabalhar com tão boa energia e de voltar a acreditar em valores em que já não acreditava em termos de espírito de equipa e grupo coeso. Gostei muito de trabalhar com os galegos e, graças a Deus, existem mais projectos em ficção. Mas isso é um de cada vez.
A polémica está inevitavelmente colada ao seu nome.
A polémica é incrível... cola-se a qualquer nome.
Mas não pode negar que a polémica está ainda mais colada ao seu. Por exemplo, no início de A Herdeira surgiram notícias de que o Pedro já estava a faltar às gravações.
Tudo aquilo que está exposto e vive da exposição pública, precisa de polémica. O que é um facto é que não tenho um trabalho normal, ou seja, não trabalho numa farmácia, numa papelaria ou num banco onde a responsabilidade e o compromisso é outro.
Dei o exemplo de faltar, mas o que lhe quero dizer é que não pode negar que a polémica é associada a si.
Em vários sentidos. E em minha opinião só quem é importante gera polémica. Não nego que me chateia imenso, mas aprendi a lidar com isso. Acabo por me afastar e talvez seja por essa razão que fujo para a Costa Vicentina para surfar. Desligo aos fins-de-semana e não vejo imprensa. Como ouvi dizer um dia: “Tenho vida para além disto”, e a minha vida, para além da televisão, não pode ser consumida com polémicas.
A propósito de polémicas, o Pedro é o bom ou o mau rebelde?
Eu tenho vontade de viver e não sei se isto é visto como rebeldia. Já me disseram muitas vezes que sou diferente.
O amor é infinito enquanto dura, como dizia Vinicius de Moraes?
[Pausa] Eu cresci a amar e os valores que me passaram foi o do amor. Quem me educou, ensinou-me a amar e o amor é muito bonito. Como é que é a frase?
O amor é infinito enquanto dura. Por momentos, posso rever-me nessa frase. O amor por alguém pode ser visto dessa forma, no entanto existem outras formas de amar. Por exemplo, o amor-próprio é infinito sempre, não tem prazo de validade.
Um homem tão dado ao amor acredita que cada novo romance é para sempre?
Mas isso é assim para tudo. Há sempre a esperança que seja para sempre e que as coisas dêem certo. O importante é darmos tudo.
O Pedro dá tudo numa relação?
Dou tudo de mim no trabalho. No amor, tive histórias diferentes e acho que todas foram muito importantes para perceber e explorar coisas diferentes de mim, estados diferentes da minha alma, estados diferentes de ver e olhar para as coisas e ganhar camadas. Tenho a certeza de que todas essas histórias de amor que vivi vieram na altura certa.
Quando o amor chega ao fim, nesse
“A minha vida, para além da televisão, não pode ser consumida por polémicas”
mesmo momento, não tem ressentimentos, arrependimentos?
Mas, quando acaba a fase dos ressentimentos e se olha para trás, chega-se à conclusão que foi importante ter passado e vivido tudo aquilo. Todos os amores tiveram a sua importância. Recorda todos os amores que já viveu com carinho?
Tenho muito carinho por tudo o que vivi, não só dos amores.
Não se arrepende de nada e de nenhuma desses amores?
Estou aqui, aos 31 anos, e estou inteiro. E isso é o melhor de tudo.
Já teve muitas namoradas famosas. Circunstâncias da vida ou uma simples estratégia de marketing? Costumo informar-me sobre as cotações na bolsa [risos] ou sobre quantos seguidores têm nas redes sociais. Bem, agora a sério, são as circunstâncias da vida. Aconteceu...
Ama-se com a mesma intensidade com que se “desama”?
[Pausa] Há pouco tempo li uma frase muito bonita do Charles Bukowski. Perguntaram-lhe o que era o amor e ele disse que era como uma neblina que se queima com a primeira luz de realidade. Deixar de gostar vem com o tempo, desamar é algo mais radical. Amar traz dor, mas é muito bom. Eu não desamo. Eu amo ou odeio. E odeio para que seja mais rápido e, assim, poder passar à fase seguinte.
Fez parte de um projecto que dava pelo nome “tudo vai melhorar”. Acredita mesmo nisto?
Dei por mim nos últimos tempos a ver alguns vídeos motivacionais e há uns que nos tocam em pontos fulcrais. Se acreditamos nessa métrica de que “tudo vai melhorar”, isso acaba por nos balizar o resto das nossas acções. Tem muito a ver com a nossa energia e predisposição.
E tem sido assim ao longo da sua vida?
O meu lema é um dia de cada vez, e há alturas da vida que tem mesmo de ser assim: um dia de cada vez.
“Há uma continuidade da pessoa que parte em nós. Ninguém acaba”. Volvidos cinco anos e depois de uma perda, continua a ter a mesma ideia? Continuo a dizer que enquanto estiverem na nossa memória e nos recordarmos da pessoa, ela não acaba. Somos nós, que ficamos, que temos o poder de a manter viva.