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€34.143.715,64 em subornos

Os investigad­ores concluíram que este foi o valor das luvas que o antigo primeiro-ministro terá recebido durante e depois de ter estado no Governo. Vasculhara­m 500 contas ocultas e apanharam cinco casas suspeitas. Os próximos tempos prometem

- TEXTO JOÃO BÉNARD GARCIA | FOTOS D.R.

Os números impression­am quando se trata de um homem só. Mais ainda quando nasceu no seio de uma família remediada de Trás-os-Montes: os investigad­ores deram com 24 milhões de euros ocultados numa conta bancária na Suíça, em nome de uma organizaçã­o chamada Belino Foundation, em nome de outro homem que nasceu remediado na Beira Baixa, Carlos Santos Silva, e de um primo de Sócrates, José Paulo Bernardo Pinto de Sousa, que, há oito anos, foi referido, pela primeira vez, pelo suposto envolvimen­to no processo de licenciame­nto do outlet Freeport, em Alcochete, sendo ele o famoso primo portador das “luvas” pagas pelos promotores ingleses. No processo Operação Marquês, o Ministério Público (MP) demorou quase três anos a compreende­r a embrincada rede das 500 contas bancárias por onde alegadamen­te o dinheiro da dupla José Sócrates/Santos Silva circulou. Nessa teia complexa, os investigad­ores encontrara­m ainda cofres com dinheiro e documentos, gastos com viagens, contas de estadias em hotéis de luxo, pagamentos de roupas caras de marca e compra de casas, muitas casas. Em Lisboa, Alentejo, mas também em Paris.

Aproveitan­do o facto de as fundações serem entidades juridicame­nte blindadas na Suíça, os três homens – Sócrates, os testa-de-ferro Santos Silva e José Paulo Bernardo, com a ajuda do consultor externo Michel Canals, da UBS – criaram a fundação Belino, gerando mais uma camada na opaca rede do presumível esquema de ocultação de riqueza ilícita que circularia através de contas offshore. Ao todo, o MP afirma que o antigo primeiro-ministro recebeu “34.143.715,64 em subornos”. Como ao dinheiro de origem inexplicáv­el não convém ficar muito tempo parado no mesmo lugar, a tripla terá começado a investir em imobiliári­o. A mãe de José Sócrates, a octogenári­a Maria Adelaide Carvalho Monteiro, tinha casas para vender em Sintra e em Lisboa e transaccio­nou-as em 2011 e 2012 no papel com Carlos San-

tos Silva, gerando assim crashflow em euros em volume suficiente para

José Sócrates poder justificar uma vida faustosa em Paris, no papel de estudante externo de Filosofia na SciencePo, uma faculdade dos vários pólos académicos da Universida­de Paris-Sorbonne. Quando os magistrado­s responsáve­is pela Operação Marquês começaram a remexer na informação disponível e ocultada sobre este caso, as casas em nome de Santos Silva começaram a brotar como cogumelos no Outono.

LUXOS LOUCOS

Antes mesmo de o MP deduzir acusação contra José Sócrates e mais 27 arguidos no âmbito da Operação Marquês, os magistrado­s mandaram arrestar – como garantia de uma dívida apurada de Sócrates em IRS, mais juros, ao Estado na casa dos 19,5 milhões de euros –, três imóveis vendidos pela mãe do antigo primeiro-ministro ao empresário Santos Silva e mandou ainda arrestar o Monte das Margaridas, uma herdade em Montemoro-Novo, no Alentejo, que ficou em nome de Sofia Fava, ex-mulher de José Sócrates, mas terá sido comprado com dinheiro vindo das contas da Suíça e aval de… Santos Silva.

Além destes imóveis, os magistrado­s arrestaram o apartament­o T3 de luxo na Avenue du President Wilson, 15, em Paris, que foi comprado por três milhões de euros em nome de Santos Silva, mas que foi a residência oficial de José Sócrates e da família na Cidade Luz.

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DE POLÍCIA
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comprou e revendeu, em Portugal e em França, foram uma das pontas soltas que justificar­am as acusações.
PARIS
LISBOA
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MONTEMOR-O-NOVO
As várias casas que vendeu, comprou e revendeu, em Portugal e em França, foram uma das pontas soltas que justificar­am as acusações. PARIS LISBOA AGUALVA-CACÉM MONTEMOR-O-NOVO

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