TV Guia

Zé Alberto Pais perdem pinhal e escapam à morte “Isto foi um MILAGRE!”

Georgina Carvalho relata à TV Guia como viu a sua aldeia, Mouronho, cercada pelas chamas e revela a dor e angústia do jornalista da TVI com a tragédia

- TEXTO ISABEL LARANJO | FOTOS LILIANA PEREIRA, IVO RAINHO PEREIRA E COFINA MEDIA

Odomingo, 15 de Outubro, ficará para sempre na memória de Georgina e Mário Carvalho, octogenári­os, pais de José Alberto Carvalho. “Foi isto que ficou. De resto, tudo à volta ardeu”, relata, em exclusivo à TV Guia, a mãe do jornalista da TVI.

A cerca de três quilómetro­s de Mouronho, a nossa revista testemunho­u, uma semana depois, no domingo, 22, que à beira da estrada ainda saía fumo intenso das raízes das árvores carbonizad­as. A própria terra estava preta. “Isto foi uma coisa sem explicação! Parece terrorismo, metem o fogo mesmo perto das casas para dar conta disto tudo e darem cabo das pessoas”, opina a idosa.

Nessa madrugada de dia 15, José Alberto Carvalho aterrava no Aeroporto de Lisboa. Ao dar-se conta do que se passava, com mais detalhe, no País, “ficou muito aflito”. “Ficámos sem nada. Não havia telemóveis, electricid­ade, nada. Não tínhamos maneira de comunicar e foi isso que o afligiu. Mas, à noite, conseguimo­s falar com o Zé Alberto e ele sossegou um bocadinho”, continua Georgina. A progenitor­a do jornalista da estação de Queluz de Baixo acredita que houve mão criminosa na origem dos fogos florestais que arrasaram o norte e centro do País, chegando a muitas estradas e colocando em perigo as populações. O balanço, à data de fecho desta edição, é de 45 mortos. “Os incêndios chegaram a todo o lado! Então, e ao mesmo tempo, como é que pode ser? À noite? Um fogo aqui, outro ali, outro acolá. Foi mesmo na mesma altura, para apanharem isto tudo.”

PINHAL DA FAMÍLIA DESTRUÍDO

Os pais de José Alberto Carvalho sofreram, somente, danos materiais. “O fogo estava na Coja (localidade situada a 14 quilómetro­s da residência do casal) e temos uns terrenos na beira de cá do rio Alva. Eram 11 da noite e fomos espreitar do lado de cá. Quando chegámos a Meda de Mouros – que é a terra do meu marido –, aquela gente é destemida. Sempre que há fogos combatem com muita gana. E naquele dia já estava tudo de prevenção, deste lado, com medo que os fogos da Coja atravessas­sem para cá.”

E atravessar­am mesmo. “Eles já estavam todos com auto-tanques, deste lado,

quando o fogo veio e nos queimou um pinhal. Mais isso é o menos, assim não queimasse outras coisas”, afirma Georgina, sentindo-se abençoada por nada de mal ter acontecido à família.

A idosa já se tinha apercebido da dimensão da tragédia durante a tarde. E teve mesmo de fugir de onde estava, devido ao intenso cheiro a fumo. “Tínhamos ido ver uma vizinha que está em S. João de Areias, lá num lar. Fomos à varanda e avistamos. Aquilo era um fumo, uma coisa horrível!”

MÃE TEMEU PELA VIDA

À noite, relata um cenário terrífico. “Era aquela gente toda, no meio dos pinhais, por ali abaixo, onde se avistava bem. Aquilo era tudo um braseiro. Isto parecia o Inferno!”, recorda, ainda assustada. Eu até disse para o meu marido: “Ó homem, vamos embora daqui para fora. Eu nem quero ver isto.” E temeu pela vida. “Às tantas, a gente olha para trás e até ficámos rodeados pelo fogo”, completou, dirigindo-se a Mário Carvalho.

A noite foi passada em branco. “Ficámos em alerta, mais ninguém dormiu. Sempre a espreitar, a ver quando o fogo passava para cá. E ainda chegou a passar mas atacaram logo com os tanques de água. O meu marido até trouxe para aqui dois, de noite, no caso de ser preciso.”

Os bombeiros não chegaram ao local. “Nem havia quem apagasse tanta coisa. Se o fogo passasse dali, nem sei o que seria. Nós, aqui, acabámos por não ter nada,

mas aqui à volta, foi tudo. Em vários pontos aqui perto morreram várias pessoas. Morreram muitos animais. A Lousã tinha ervilhas, a maior parte ardeu tudo. E muitas estradas ficaram fechadas.” Georgina Carvalho respira, entretanto, de alívio. “Foi um milagre, meu Deus! Ai que susto!”

PAI DEIXOU DE ANDAR

Este foi o segundo grande susto que a família apanhou este ano. É que, na altura do Natal, Mário Carvalho, pai do jornalista da TVI, voltou a ficar gravemente doente e ficou internado mais de um mês. “Perdeu tudo. Eu não percebia ele a falar – quase não falava –, não andava, não comia. Deixou de poder ir à casa de banho, tinha de se levar. Não sei o que lhe deu”, explica Georgina. José Alberto Carvalho passou dias de aflição. “O meu marido foi de urgência para Coimbra e ficou tão mal, tão mal, que a gente já não esperava que ele melhorasse. Sei que o meu filho ia constantem­ente a Coimbra, às vezes ficava lá de um dia para o outro, para estar a par e falar com os médicos.”

Um remédio salvou Mário Carvalho. “O Zé Alberto falou com uma médica e, depois, uma enfermeira disse-lhe: ‘Amanhã vamos dar um medicament­o ao seu pai, este medicament­o nem todos os hospitais têm, porque é muito caro. Mas vamos experiment­ar’. E aquilo foi admirável!”

“É UM RICO FILHO”

Em poucas horas, Mário Carvalho recuperou. “Ao outro dia, daí a dois dias, quando chegou ao pé do pai, o Zé Alberto nem queria acreditar. Viu-o de uma maneira… E foi evoluindo. Foi transferid­o para Oliveira do Hospital, para recuperar, e foi uma recuperaçã­o muito boa.”

Mário Carvalho renasceu, aos 81 anos de idade. “O meu marido anda tão bem! Nem queira saber! Voltou a ter uma genica, para fazer isto e aquilo. O Deus dele são as máquinas, andar com o tractor, conduzir. Ainda agora acabou de sair de carro para o Sabugueiro”, revela a mãe do jornalista da TVI, com um rasgado sorriso de felicidade e de esperança. E conclui, na conversa com a TV Guia, elogiando o seu único filho, José Alberto Carvalho, que completa 50 anos em Dezembro. “É um rico filho, de verdade. Está sempre muito preocupado connosco.”

 ??  ?? As chamas cercaram os pais do jornalista da TVI e desvastara­m toda a zona onde
viviam.
José Alberto Carvalho temeu pela vida dos progenitor­es.
As chamas cercaram os pais do jornalista da TVI e desvastara­m toda a zona onde viviam. José Alberto Carvalho temeu pela vida dos progenitor­es.
 ??  ?? Os pais do jornalista da TVI, Georgina e Mário
Carvalho.
Os pais do jornalista da TVI, Georgina e Mário Carvalho.
 ??  ?? ... a terra ainda
fumegava. Em Mouronho, dias depois da
tragédia... Georgina Carvalho recebeu a TV Guia com uma esperança na vida inacreditá­vel.
... a terra ainda fumegava. Em Mouronho, dias depois da tragédia... Georgina Carvalho recebeu a TV Guia com uma esperança na vida inacreditá­vel.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal