COMO A BANDIDA BIBI “ROUBOU A CENA”
Há raras coisas que me entusiasmam actualmente em televisão. À excepção de algumas séries que nos fazem parar para pensar que ainda há produtos muito bem escritos, muito bem feitos – como The Affair, This is
Us, House of Cards, The Deuce ou Narcos –, a coisa não anda fácil para os viciados no pequeno ecrã. Para quem gosta de histórias de uma forma geral. Nos últimos tempos, porém, parei numa proudução “made in Brasil”, uma novela – esse género que os entendidos dizem morto mas que pode mostrar estar em grande forma. A Força do Querer ,da Globo, já na sua recta final, retoma a tradição do novelão aliada a um bom policial. Glória Perez, que nos ultimos anos só assinava projectos repetitivos (que só mudavam o cenário de Marrocos para Istambul e por aí fora), foi beber ao sucesso de Avenida Brasil e, assim, uma trama que começou “à la O Clone” mas no cenário do Pará, ganhou contornos irresistíveis. Claro que já ninguém se lembra, por esa altura da história príncipal – sobre dois meninos que o rio uniu e o rio haveria de separar. Mas isso até se esquece quando uma nova protagonista ganha força e pega na trama: Bibi. Aliás, Juliana Paes. A personagem, uma estudante que por ser doente de amor, se transforma numa bandida sem consciência da sua nova identidade, vai “beber” a uma Carminho de Avenida Brasil, mistura com a adrenalina de Tropa de Elite e o resultado é irresistível. Bibi é a novela. O resto é folclore. Isso é correcto numa trama de novela? Claro que não! Os brasileiros chamam a isto “roubar a cena”. Juiana Paes ganhou uma personagem tão rica e soube tão bem tirar partido dela que se tornou ela própria a protagonista sem o ser. A verdade é: funciona! Tanto para mim, espectadora viciada, como para a Globo, que recuperou as tão desejadas audiências desde que as tramas biblícas da Record começaram a crescer. Só não resulta para a SIC, que passa os “restos” da Globo tarde e a más horas. Por que deserdiça assim? Se calhar vale a pena fazer as contas.