TV Guia

“O fado não é para se mostrar a voz”

- TEXTO MIGUEL AZEVEDO I FOTO CARLOS RAMOS

Entre o passado e o presente, o regresso a casa e as viagens pelo mundo. Entre a escrita assumida e a autoria partilhada, a solidão e a companhia. Entre o fado e outras músicas do mundo. Assim se multiplica Cuca Roseta pelo novo disco Luz, um registo que mistura influência­s e junta convidados, de Pedro da Silva Martins (Deolinda) a Carolina Deslandes, de Jorge Fernando a Hélder Moutinho.

Ore sul ta doéod is comais adulto, equilibrad­o e iluminado de Cuca, umacantora que se há dez anos se mostrava pela primeira vez ao mundo através do filme Fados, de Carlos Saura, hoje goza de um estilo único e de uma luz própria no Universo da canção de Lisboa. A voz é ade sempre, doce e profunda. O estilo é inconfundí­vel, ora melancólic­o, ora gingão, sem espaço para grandes miserabili­smos, tristezas ou lamentaçõe­s. “O importante é levantarmo-nos quando caímos e não ficarmos no chão aqueix armo-nos. Esteéomeul em a devida e é isso que eu passo para o meu fado. Para mim, há sempre um final feliz”, começa por explicar a fadista. “Há pessoas que vêm ter comigo a dizerem-me que passaram a gostar de fado, depois de me ouvirem, e que, apesar dos meus concertos serem intensos e nostálgico­s, o meu fado não se foca nas coisas negativas. É verdade que não deixo de falar sobre a tristeza, mas há sempre uma luz ao fundo o túnel”, afirma a cantora, que descobriu também ela no fado um sentido para a sua própria vida. “Foi como se tivesse encontrado a peça do puzzle que faltava. Quando andava pela pop ou pelo jazz, recordo-me de estar a cantar nos restaurant­es das docas e de me sentir cansada. Com o fado é diferente. Canto-o sempre com um enorme prazer, seja com febre, com duas horas de sono, depois de uma longa viagem ou ao fim de 90 concertos. Até posso estar no camarim antes do espectácul­o completame­nte estenuada, mas quando subo ao palco sinto uma força queé difícil de explicar. É como uma paixão. Por isso é que acho que o fado não é para se mostrar a voz, mas o lado interior e espiritual de quem o canta”, diz. Composto por 14 temas, do tradiciona­l Rosinha da Serra d’Arga ao introspeti­vo Ai Amor e produzido por Diogo Clemente, Luz chega ao mercado mais de um ano e meio depois de Cuca Roseta ter sido mãe pela segunda vez e de ter ganho mais uma fã incondicio­nal lá por casa. “A Benedita ainda é muito pequenina, mas ela reage desde sempre e de forma muito eufórica à minha música. Quando estou em casa, por exemplo, a tocar piano, ela quer vir sempre para o meu colo tocar. E já faz uns sons. Não sei se ela vai cantar bem ou não, mas tem tudo para vir a ser afinada. O pai, o João, canta muito bem, apesar de não gostar de o fazer publicamen­te. E toda a minha família também é muito afinada. Se ela não for,éu ma desgraça”, diz a fadista, entre risos.

MARIDO EM INGLATERRA

E se Luz foi iluminado pela graça da maternidad­e, acabou também por ser exaltado pelo brilho do amor, ou não tivesse o marido de Cuca, João Lapa – actualment­e a trabalhar como preparador físico no Wolverhamp­ton, de Inglaterra –, acompanhad­o todo o processo à distância. “O João faz sempre parte de tudo e, para este disco, as coisas não foram diferentes. Enviava-lhe os temas para ouvir e ele dava-me a opinião. Adoro ouvir o que tem para dizer porque como ele não é um grande conhecedor de fado é sempre bom ouvir uma opinião de fora da área”, remata a fadista.

A cantora apresenta Luz, um álbum profundo, iluminado pela paixão à canção de Lisboa, pela maternidad­e e pelo amor. Aqui, volta a dar voz às suas palavras, mas também àquelas escritas

por nomes como Pedro da Silva Martins, Carolina Deslandes, Jorge Fernando ou Hélder Moutinho

 ??  ?? DISCO LUZ EDITORA SONY PREÇO 12,99€
DISCO LUZ EDITORA SONY PREÇO 12,99€

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal