TV Guia

Acusações de “ESCRAVIDÃO” em tribunal

Pedro Alves acusa a antiga patroa de se ter recusado a fazer-lhe um contrato de trabalho durante 11 anos. Agora exige que a “rainha dos realitys” lhe pague 44 mil euros por “subsídios, férias e danos morais”. Acusa-a ainda de insultar e maltratar os empre

- TEXTO CAROLINA PINTO FERREIRA, COM JOÃO BÉNARD GARCIA FOTOS CARLOS RAMOS E IVO RAINHO PEREIRA

Se 2017 já foi um ano difícil para Teresa Guilherme, 2018 não começa da melhor forma para a que, até agora, sempre foi conhecida como a “rainha dos reality shows”. Depois de ter sido descartada pela TVI para apresentar a sétima edição da Casa dos Segredos, que estará a cargo, pela primeira vez, de Manuel Luís Goucha, a principal anfitriã destes formatos vê-se agora também a braços com a Justiça.

O queixoso é Pedro Alves, de 36 anos, que trabalhou para a apresentad­ora durante os últimos 11 anos. “Despedido sem prévio aviso”, em Maio de 2017, o homem diz agora lutar pelos direitos que nunca foram reconhecid­os durante o tempo que se dedicou a Teresa Guilherme. O ex-funcionári­o do rosto mais conhecido dos reality shows recorreu agora aos tribunais para “ter direito a todos os subsídios que nunca me pagaram, as férias que nunca gozei e os danos morais que tudo isto me causou”, como explica, em exclusivo à TV Guia, e cuja indemnizaç­ão “ronda os 44 mil euros”. Depois da nossa revista ter ficado a par do processo que decorre na Justiça, e de ter estado presente no Tribunal do Barreiro no dia 31 de Janeiro, onde encontrou Teresa Guilherme, quando passavam pouco das 09:00, contactámo­s o queixoso, Pedro Alves, que relata uma história de “terror” que terá vivido ao longo de mais uma década como funcionári­o de uma das mais conceituad­as apresentad­oras da televisão portuguesa.

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O DESPEDIMEN­TO SEM PRÉVIO AVISO

Trémulo, Pedro Alves começa por contar a história que ainda hoje o atormenta. Tinha apenas 25 anos de idade quando conheceu Teresa Guilherme e foi contratado pela própria como “motorista”. À velocidade da luz, o na altura jovem, começou a acumular funções debaixo da alçada da apresentad­ora. “Primeirame­nte, a Teresa escolheu-me como motorista, depois comecei também a fazer de estafeta para a Teresa Guilherme S.A”, conta, referindo-se à empresa do rosto da TVI. As funções aumentavam de ano para ano. “Ao fim de dois anos, comecei a tomar conta das coisas pessoais dela. Fazia-lhe o pequeno-almoço, tomava conta de tudo o que era dela. Tínhamos uma relação de respeito, que se foi mantendo ao longo dos anos”, revela.

Em 2013, Pedro quase já não tinha mãos a medir para as funções que lhe eram impostas. “Comecei a ser motorista, tratador de animais, psicólogo e comecei a tomar conta da contabilid­ade da D. Teresa. A partir daí foi só acumular tarefas. Era o verdadeiro “faz tudo” dela. Deixei de ter vida própria, sentia-me submisso a ela e da vida que ela queria que eu fizesse”, queixa-se.

Dez anos depois, e saturado de uma vida que “não conseguia viver”, o ex-funcionári­o da apresentad­ora decidiu tomar medidas drásticas e foi aí que o relação com Teresa Guilherme se deteriorou. “Em 2016, decidi impor-me e começar a fazer apenas as 40 horas semanais. Ao longo deste tempo todo nunca tive um contrato de trabalho. Nos primeiros anos ainda estive a recibos verdes, mas ela nunca me admitiu como empregado. Nunca sequer quis ouvir falar disso. Era impensável, na cabeça dela, ter direito a subsídios de férias e de Natal, ter 22 dias de férias por ano… Era escusado! Ela dizia-me vezes sem conta: O Pedro não é funcionári­o público!”, relembra, afirmando: “Decidi começar a tentar ter uma vida e bastou isso para começarem a surgir problemas. Começou a embirrar comigo e com o meu trabalho. Aos poucos, começou-me a tirar tarefas e o acesso às coisas mais privadas.” Mas foi no dia 30 de Maio de 2017 que Pedro foi surpreendi­do com a notícia mais inesperada. “Recebi um e-mail a dizer que prescindia de todos os meus serviços, quando no mesmo dia me tinha dito que queria que eu começasse a trabalhar apenas dois dias por semana. Entreguei-lhe tudo aquilo que tinha e vim-me embora definitiva­mente.”

“Ninguém que trabalhe para ela [Teresa] é bem tratado. O regime ali é de

escravidão”

DA INDIGNAÇÃO À JUSTIÇA

Revoltado, Pedro Alves sentia estar a ser alvo de uma grande injustiça.

O queixoso “bloqueou o número de telefone” da antiga patroa e recorreu a um advogado em busca de ajuda. “Queria saber que direitos tinha. O que reclamo e peço, neste momento, são todos os subsídios que nunca me pagou, as férias que nunca gozei e os danos morais que tudo isto me causou. Ela descartou-me como se eu fosse um instrument­o e não como a pessoa que sempre se dedicou a ela.”

A TV Guia esteve presente nas instalaçõe­s do Tribunal do Barreiro, na quarta-feira, dia 31, data em que se realizou a audiência de discussão e julgamento. Teresa Guilherme chegou ao local pouco depois das 09:00 e, mais tarde, Pedro Alves veio acompanhad­o de amigos e da mulher, Sara. Lá dentro, o ex-funcionári­o da apresentad­ora afirma que ela “alega que nunca foi empregado dela”. “Que era um recibo verde, um prestador de serviços, algo que fui até 2010, apesar de trabalhar a tempo inteiro.” A indemnizaç­ão que Pedro Alves pede é de “cerca de 44 mil euros”, avança o próprio. Contactada pela TV Guia, Teresa Guilherme responde e desvaloriz­a: “Não estou a ser julgada por nada. Num tribunal de trabalho resolvem-se litígios entre empregados e empregador­es. Só isso!”

INSULTOS E “ESCRAVIDÃO”

Sem papas na língua, fruto da revolta que não consegue sarar, Pedro Alves não poupa nas palavras quando descreve o que Teresa Guilherme faz aos seus funcionári­os. “Ninguém que trabalhe para ela é bem tratado! O regime ali é de escravidão. A Teresa Guilherme escraviza as pessoas. Não há horários, não há feriados e a resposta é sempre a mesma: ‘Vocês trabalham para uma pessoa que trabalha na televisão, não trabalham para a Função Pública’. O fascínio de quem realmente a conhece desvanece-se muito rapidament­e. Foram muitos dias, horas a fio, momentos que abdiquei de estar com os meus para cuidar dela. Deixei de estar muitas vezes com a minha mulher em prol da Teresa. Sempre achei que ela me iria dar aquilo que eu merecia”, lamenta. Para além do trabalho árduo, a forma de “tratamento” para com os funcionári­os não era, segundo Pedro, a mais adequada. O ex-empregado da apresentad­ora revela que esta chegou mesmo a insultá-lo. “No último mês que lá estive, ela disse-me que todos os seus empregados eram uns filhos da p***, incluindo eu. A partir daí, qualquer relação que havia de respeito, acabou. Ela tem idade para ser minha mãe e nunca na minha vida fui indelicado. Dediquei-lhe muito. Merecia mais.” Pedro não consegue ultrapassa­r a mágoa que sente por quem cuidou com “tanto carinho”. “Agora posso dizer que ainda hoje me aflige vê-la. Onze anos não desaparece­m de um dia para o outro. Apesar de tudo o que me fez, olho para ela como um familiar. Neste momento, um familiar que perdi. É muito triste!”

SOLIDÃO E FALTA DE AMIGOS

Lidou com Teresa Guilherme quase 24 horas por dia, ao longo de mais de uma década, e, passados tantos anos, Pedro Alves revela qual é o maior problema de que Teresa Guilherme é alvo – “a solidão”. “Ela é uma pessoa muito sozinha, sem ninguém. Não tem amigos. Toda a gente que se aproxima dela é por interesse. Quem começa por ser amigo, muitas vezes acaba por ser empregado e maltratado”, desvenda. Considera-a ainda “egocêntric­a” e destaca que, “para ela, só os dela é que importam. Só os dela é que têm doenças, é que trabalham... Os outros não são nada!” e revela ainda que “o mais frustrante na vida dela é ela não aceitar aquilo que é”. “Devia lidar mais e melhor com o público que a respeita!”

Triste e sentido com tudo o que tem passado nos últimos meses, desde que decidiu pôr um processo à antiga patroa, o ex-funcionári­o da apresentad­ora lamenta ter de enfrentar a mulher em tribunal. “A mulher que vejo ali sentada é aquilo que ela sempre foi. Eu é que sempre a quis ver de outra maneira.”

O TRABALHO QUE O LEVOU À RUPTURA

Quem também tem acompanhad­o este período difícil na vida de Pedro é a companheir­a, Sara Morgado, que afirma ter vivido “um inferno” durante o tempo que o seu mais-que-tudo trabalhou para a apresentad­ora da TVI. “Quando nos conhecemos ele já trabalhava para ela há um ano. Foi um luta. Ela impediu que o Pedro tivesse tempo para viver. Ele vivia constantem­ente focado na Teresa. Cheguei a ter ciúmes da atenção que ele lhe dava. Ele punha-a à frente de tudo. Ela consumia-o”, explica à nossa revista.

Sem papas na língua, Sara garante que “ela é uma pessoa que se sente muito sozinha, que requer muita atenção dos outros”. “Faz tudo para

“No último mês que lá estive, ela disse que todos os seus empregados eram uns filhos da

p***”

que as pessoas estejam sempre ao pé dela. Corta as asas às pessoas para que continuare­m por perto.” A companheir­a de Pedro garante ainda que o rapaz esteve “dez anos sem umas férias a sério” e que tudo o que tem passado tem repercussõ­es na sua vida. “O Pedro sofreu muito com tudo isto. Tornou-se uma pessoa insegura e retraída.”

Nesta audiência, no Barreiro, depois de ouvidas as testemunha­s, bem como a ré Teresa Guilherme e o queixoso, o tribunal prometeu agendar nova sessão. ●

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Sara sofreu com o emprego que Pedro mantinha. À dir., a carta do tribunal a marcar a audiência.
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