A crise do comentário
As notícias de processos judiciais que envolvem poderosos das várias áreas sociais deixam a nu os interesses particulares, a falta de independência e a fraca qualidade de muitos comentadores televisivos
Oconjunto de processos judiciais com impacto público que se tem desenrolado em Portugal deixou a nu a fraca qualidade média dos comentadores televisivos. A presença de políticos no activo no lote de comentadores é, há muito, uma particularidade nacional, que levou, no seu extremo, à eleição de um Presidente amadurecido nos estúdios. Mas, para lá desta característica muito portuguesa, temos, também, um conjunto de opinion- makers que pululam pelos canais, com pouca independência, sempre dispostos a emitir juízos influenciados por interesses particulares, ou familiares, e que pouco ou nada ajudam ao esclarecimento do público. Dois exemplos: na semana passada, o mundo da justiça foi assombrado pelo processo que indicia crimes de corrupção, com suspeitas de venda de acórdãos por um juiz de um tribunal superior. Neste contexto, vi, na SIC Notícias, um debate em que, em rodapé, era sublinhado que outros juízes também estavam sob suspeita, dando como exemplo incidentes de suspeição que impendem sobre um magistrado. Ora bem, um incidente de suspeição é um instrumento absolutamente normal no direito, incomparável com indícios de corrupção. Lamentável! Também na TVI24 assisti a debates sobre um dos temas sempre preferidos do canal, a fuga ao segredo de justiça, como se, perante indícios como estes, que afectam dois juízes, esse fosse o maior problema. O espectador, sempre sagaz, é a última fronteira da avaliação. A falência do comentário é outra das causas para a grande crise de audiências e de credibilidade dos canais de notícias da
SIC e da TVI.