TV Guia

“Nunca FUI TÃO FELIZ”

O apresentad­or do FLASH!Vidas e Separados Pela Vida sentiu na pele o afastament­o do pai, que nem sempre o apoiou. Foi o primeiro homem, em Portugal, a adoptar uma criança sozinho e conta que uma das situações mais comoventes que já viveu, no programa, env

- TEXTO ISABEL LARANJO | FOTOS LILIANA PEREIRA

Quando começou o Separados Pela Vida, esperava ter tanto sucesso? Eu sabia que ia ter sucesso. E o Octávio Ribeiro sempre me disseque era um programa que iria ter todo o sucesso do mundo. Mas nunca achei que conseguíss­emos alcançar o sucesso que estamos a ter! É um programa que começou a apaixonar as pessoas e a ter telespecta­dores assíduos. A que se deve esse sucesso? Estamos a unir pessoas que estão há décadas separadas. E isso emociona, comove. E também se emociona? Sabes que nunca me aconteceu isto: este programaéo­úni coque apresentei até hoje em que entro para o estúdio, esqueço onde estou e começo a vivera vida dos meus convidados. Emociono-me muito. Pelo lado positivo, pela união, pelo amor que as pessoas sentem umas pelas outras. Como é que gere essas suas emoções? É uma grande carga emocional. Tenho uma táctica que faço sempre: chego a casa, vou para a cozinha e faço um grande jantar. Janto na sala, sozinho, e se calha ré o momento em quedou graças a Deus por ter avida que tenho. Porque este programa dá-meconhe cimento de determinad­as realidades david a que eu não tinha conhecimen­to. Algum caso que o tenha marcado? Mais do que um, mas houve um que me marcou muito. Uma mãe que não tinha condições, entretanto o filho foi-lhe retirado para adopção. Ela, passados 22 anos, chorava agarrada a mim a dizer: ‘Ele é meu, ele pertence-me.’ Passado um bocado, o filho entra em estúdio para abraçar a mãe. Mesmo contra vontadedos pais adoptivos, ele quis abraçar a mãe biológica. Foi um momento único na televisão. As pessoas choraram toda sem casa, recebi chamadas e chamadas. Pedid esculpa ao público porque a emoção tomou conta, de tal forma, de mim, que eu não conseguia falar. Consegue imaginar a mãe biológica do seu filho aparecer e isso acontecer convosco? Muitas mães perdem os filhos porque não têm condições e isso é muito doloroso. Agora, há aquelas mães, como a mãe do Diogo, em que foi mais fácil. Apareceu em tribunal e disse que não queria o filho. Agora, aquelas mães que choram toda a vida, porque lhes foram tirados os filhos, porque não têm condições, e amam os filhos, é muito complicado. Tem outro registo na CMTV bastante mais ligeiro... Sim, temos o FLASH!Vidas. Embora seja um programa de notícias, como são do foro cor-de-rosa, conseguimo­s ter uma postura mais descontraí­da. O Separados Pela Vida toma mais conta de mim. É um programa que exige muito de mim, exige uma preparação muito grande, tenho de saber muito bem a história, falar comas pessoas antes de um programa que exige tanto de mim que a minha vida fica para trás. Aquele sou eu, a sentira dor dos outros, mas também a alegria dos outros. Como é que foi o seu início de carreira? Tinha uns 24 anos e comecei pela mão de um grande senhor da televisão: o Raul Durão. Claro que tive o apoio do Artur Albarran, do José Eduardo Moniz, são pessoas a quem devo muito e que me mimaram muito. Comecei logo a integrar o Ponto por Ponto, que era um programa do Raul Durão e que eu, à quarta-feira, também apresentav­a. O seu sonho sempre foi a televisão? Sempre gostei de televisão porque gosto de comunicar, gosto de conhecer pessoas, gosto de abraçar. A choque atelev is ãoéo sítio onde me sin tomais feliz. Às vezes passa o fim-de-semana e estou desejando que chegue segunda-feira porque tenho coisas para fazer e sinto-me feliz é aqui. Nunca fui tão feliz como aquina CMTV! Temos uma equipa uns director e saquem devo muito e que mim, principalm­ente o Octávio Ribeiro. Já nosmuito tempo, fomos colegas da RTP, e ele acreditou em mim. Que outras pessoas foram importante­s na sua carreira? A RTP deu-me experiênci­a e uma capacidade de desenvolvi­mento muito boa, embora eu deva muito a um senhor chamado Mano lo Bel lo, quem e pôs a apresentar o programada tarde como José Figueiras. O Mano lo ensinou-me tudo o que era sério em televisão. De emoções, de alegrias, ele conseguiu transmitir-me todas essas situações. Muito rígido no trabalho, muito exigente. Mas o Mano lo talvez seja a pessoa a quem mais devo, ao nível de aprendizag­em. Estive 16 anos na RTP, mas a grande aprendizag­em, a escola, foi com o Manolo Bello. Quando era miúdo, o que é que dizia que queria ser?

Aos 18 anos, o meu pai perguntou-me o que é que eu queria fazer. E eu disselhe que gostava de ir para o Conservató­rio estudar Teatro. Ele disse que isso poderia ser um hobby, mas que eu tinha que tirar um curso, porque

“Muitas mães perdem os filhos porque não têm condições. A mãe do Diogo apareceu em tribunal e disse que não queria o filho”

um curso é que me daria de comer. E então, foi estudar? Entrei par ao I SPA e completei Psicologia. Tentei entrarem Veterinári­a, porque adoro animais, mas não consegui, não tinha média. Estagiei no Júlio de Matos, em Santa Maria, com doentes de H em atologia.M as imagina o que era eu estar com doentes de leucemia e, em vez de lhes dar força, chorar com eles. Não dava mesmo.

Além de televisão, trabalhou em rádio. Conheci um grande senhor da rádio que, antes de morrer, até me deixou um livro, que foi o Artur Agostinho. Recebi a filha, aqui em estúdio, e ela veio-me trazer o livro que o pai tinha dado com uma dedicatóri­a para mim. Fiz rádio muitos anos com o Artur Agostinho e aprendi muito com ele. Os seus pais sempre o apoiaram? O meu pai tomou umas decisões muito rígidas. Pouco contacto. Pouco relacionam­ento.Senti-me um bocadinho afastado da família. Mas fui em frente. A mãe apoiava, sempre me apoiou mais. Mas eu sempre fui um rapaz muito de decisões fixas e, quando achava que ia em frente, ia em frente. Mas sinto que me afastei um bocadinho dos meus pais. Sente alguma mágoa por isso? Mágoa, não. Talvez o meu pai sinta. Por último, o meu pai faleceu há muito pouco tempo, o meu pai tinha muito mim. E, às vezes, comeste programa a minha mãe chega a dizer :‘ Se o pai fosse vivo teria muito orgulho em ver-te fazer este programa. E eu sinto muito orgulho em ser tua mãe.’

Mas esse afastament­o do seu pai deixou-lhe marcas?

Às vezes, tornamo-nos um bocadinho mais frios. Eu sou filho único. Há outro filho, que nãoéfilho, é neto, queéom eu filho Diogo e toma muito bem conta da

situação. Ofilhoéo Diogo e eu sou o neto. Eleéagran de paixão da minha mãe e do meu pai. E usou um bocadinho rebelde, um filho que nunca fiz o que eles achavam que era certo, mas fiz sempre aquilo que achava que me poderia fazer feliz. E consegui.

Com que idade adoptou o Diogo? Adoptei o Diogo com 26 ou 27. Era muito novo. Não planeei. As coisas acontecera­m. Tive conhecimen­to, através da RTP, que havia miúdos a ser maltratado­s, fui fazer uma reportagem eéquan doeu me prontifico a comprar algumas roupas para aquele miúdo. Quando me venho embora fiz a pergunta que toda a gente faz: ‘Queres vir para minha casa?’ Ele disse que sim, já está há 24 comigo, tinha 2 aninhos.

Como foi adoptar uma criança sozinho? Fui o primeiro pai a fazer adopção singular em Portugal. Esperei sempre que a vida me ensinasse. E confesso-te que às vezes parava para pensar, porque isto não é fácil. Eu deixei de sair, entreguei-mecompleta­menteàeduc­açãodaquel­a criança. Mas tinha uma coisa muito boa: tinha a minha mãe e o meu pai que me apoiaram totalmente nessa situação. Fui muitas vezes ao Tribunal de Menores,

“Fui amado pelos meus pais, nunca me faltou nada, ofereceram-me tudo, mas não me recordo do beijo de boa noite”

ao Tribunal de Família, e os meus pais pagaram tudo. Os meus pais começaram a considerar o Diogo como seu segundo filho.

Tomou, de certa forma, o seu lugar? Sempre senti que nunca tinha sido filho, é engraçado. O meu pai era uma paixão pela minha mãe; a minha mãe pelo meu pai. Era uma paixão louca. E não havia espaço para ter filhos. Fui amado pelos meus pais, nunca me faltou nada, ofereceram-me sempre tudo, mas não me recordo do beijo de boa noite. O Diogo foi o filho que eles nunca tiveram.

O Diogo já saiu de casa. Está preparado para ser avô?

Ele vive com a namorada há quatro anos. Há sempre essa possibilid­ade. Espero que venha pedir à minha minha mãe para ser a avó e que eu continue

a ser o pai. Não estou preparado. Tenho uma forma de estar muito jovem que não me leva a deixar envelhecer. Acho que o Diogo tem que seguir a vida dele em frente, e se aparecer uma criança presumo que é mais um filho e não um neto.

Que ti pode filhoéo Diogo? Confesso-te: é mais meu pai do que eu sou dele. É ele que diz ‘papá, está na hora de ires para casa.’ ‘Papá, não bebes mais whisky nenhum.’ ‘Papá, já saíste ontem, hoje não sais.’ É muito protector. Muitíssimo preocupado comigo. Às vezes até exagerado. Eu sou mais despreocup­ado.

Qual o seu maior desejo para este ano que está a começar? Gostaria devoltaràP­ass agem de Ano de 2016 para 2017, porque 2017 foi o ano mais feliz da minha vida.

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garante: “Nunca fui tão feliz em televisão como sou na CMTV”.
O apresentad­or garante: “Nunca fui tão feliz em televisão como sou na CMTV”.
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