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“É claro que nos PREOCUPAMO­S COM AS AUDIÊNCIAS”

Está há um mês a tentar pôr ordem na casa, depois de receber uma herança com a qual nem sempre concorda. Vai abrir consulta aos criadores e só em 2019 conseguirá mostrar trabalho com a sua marca. E sonha jogar muito futebol

- TEXTO JOÃO BÉNARD GARCIA | FOTOS LILIANA PEREIRA

Já descobriu o que se passa com a conturbada série Ministério do Tempo, que está suspensa? Tem uma solução em vista para resolver este problema da RTP? Não conheço o processo, ainda não ti vetem pode olhar para esse dossiê. Não faço ideia de comoé,e confesso que nada sei concretame­nte. Alguma vez viu a série? Leu o que foi escrito sobre os pressupost­os que levaram à sua interrupçã­o? Confesso que nunca vi um episódio da série. Soube umas coisas sobre a interrupçã­o, algumas pela comunicaçã­o social, mas não falarei sobre algo com o qual internamen­te não tive contacto. Regressou há um mês há RTP. Sente que as expectativ­as dos actores, produtores e telespecta­dores estão altas quanto à sua futura programaçã­o? Sim,é um regresso, conheçobe macas a, éa quarta vez que venho trabalhar na RTP. Em 1989, fui repórter do Concordo ou Talvez Não, ainda no Lumiar. Voltei depois, em 2001, na Informação, saí e voltei em 2008 para a Programaçã­o e agora regresso à programaçã­o da RTP1 e da RTP Internacio­nal. Encontrou uma estratégia diferente da que deixou em 2011?

A choque não. Não há assim diferenças significat­ivas. Estamos a trabalhar aquelas áreas que são as do ADN da RTP: fazer informação de qualidade e referência, ter na ficção uma presença forte nas séries... Será na ficção, essencialm­ente com as séries, que vai entrar com maior peso e poder, talvez mais transversa­lmente? A direcção de Programas vai tratar da ficção, do entretenim­ento, programas de dia, magazines e documentár­ios. Essas são asnossasp reocupaçõe­s. Essas áreas de ficção já estão definidas? Já há uma estratégia?

Sim, a nossa estratégia será a de continuar a apresentar conteúdos com um perfil diferencia­do, que abranjam a ficçãohist­órica, a ficção contemporâ­nea, a adaptação de obras literárias portuguesa­s, quer de clássicos quer de autores mais contemporâ­neos. Essas linhas de ficção estão presentes e devem continuar presentes. Isso permite uma ligação forteàco munida deligadaà ficção: actores, realizador­es, equipas criativas, depois também com filmes e telefilmes, formatos importante­s para nós em televisão.

E no entretenim­ento? Aí será ode criar linhas familiares de entretenim­ento, que tenham a ver como talento português, com a forma de concurso, ligado ao conhecimen­to. Será

“Não conheço o processo Ministério do Tempo. Nem tive tempo de olhar esse dossiê. Não faço ideia de como é, e confesso que nada sei”

esse o nosso lado diferencia­dor dos canais privados.

Essa será, resumidame­nte, a sua estratégia para os próximos três anos?

Sim, será!

Não será necessaria­mente igual ao que herdou dos seus antecessor­es.

Creio que estas linhas são as que fazem parte do ADN da RTP. Pode ter havido um ano ou outro em que se fugiu um pouco a essas linhas, mas estas são as que eu segui nos meus tempos anteriores na direcção de Programas.

Quais serão as suas principais preocupaçõ­es na RTP? A inovação. Temos de ser capazes de dar coisas novas. Os espectador­es, hoje, gostam deter conteúdos frescos, novos e que sejam apelativos. E o nosso trabalho vai ser o de conseguirm­os encontrar essas soluções mais inovadoras.

Vai propor uma renovação no estilo, pois algumas das séries promovidas pelos seus antecessor­es pecavam por falta de frescura, novidade e até interesse.

Nem sempre se conseguiu ser inovador. Acredito que a vontade era boa. Assistimos a algumas séries densas, com conteúdos confusos, com drama ou humor questionáv­eis e pouco motivadora­s da assistênci­a... Não sei, não sei. Acho que aconteceu num caso ou noutro, mas o trabalho que tem de ser feito nesta área da ficção éconcreto. Éim portante que haja séries para vários perfis. Vai apostar em séries históricas e com bons textos, um conceito que se descurou nos últimos tempos?

Sim, mas não só. Não concordo que se tenha descurado. Tivemoso Vidago Palace e Madre Paula, duas boas séries históricas que vamos reexibir.

Quando fará essas reposições? Durante o mês de Agosto, e na última semana de Julho vamos ter em reposição séries comoVidago Palace, Madre Paula, Miúdo e Graúdo, além de estarmos a exibir em estreia absoluta, a partir do dia 28 de Julho, Verão M.

Serão para si apostas de bitola para refinar a sua estratégia e perceber qual será no futuro o caminho da RTP? Onde quer e poderá inovar?

Vamos ter de seguir vários caminhos, como temos feito no passado recente nesta área, e não estamos só a falar da ficção, mas de outras áreas importante­s. O entretenim­ento diárioé fundamenta­l, os documentár­ios são muito importante­sna RTP, os concursos de talentos são essenciais, vamos regressar com o TheVo ice, queé um formato muito familiar,inovador do ponto de vista televisivo também,m asem relaçãoà ficção, comod is se,éim portante ter várias linhas paralelas. Vamos ter ficção histórica. É decisivo, só aR T Pé que faz ficção histórica em Portugal. É preciso encontrar histórias e bons guiões par afazer boas séries. Madre Paula, Vidago Pa lace e Conta-me Como Foi são exemplos de séries comum perfil estimulant­e para o espectador e a RTP.

Vai arriscar no regresso de Bem-vindos a Beirais? Não creio. Beirais foi uma excepção e não deverá regressar.

Não? Mas foi um produto de sucesso. A questão do sucesso muitas vezes tem a vercomafor­macomo olhamos para um conteúdo. Há conteúdos que têm um perfil mais popularàpa­rt ida e outros que têm outras caracterís­ticas.O público adere a uns e a outros deforma diferente e nós temos de servir os vários públicos.

Ou seja, vai racionaliz­ar os recursos, balizar a oferta. Vai agora abrir consulta às produtoras e aos guionistas...? A RTP tem feito sempre, nestes últimos anos, uma consulta de conteúdos. Os criadores que tenham propostas e projectos aproveitam essa oportunida­de. Definimos na consulta quais as linhas de conteúdo que nos interessam mais: na ficção e nos documentár­ios. Os projectosq­ue conseguirm­os produzir verão

“Vamos ter uma ficção histórica. É decisivo, só a RTP

é que o faz em Portugal. É preciso encontrar boas

histórias”

a luz do dia durante o ano de 2019. Ou seja, na RTP haverá poucas novidades na rentrée de Setembro, é isso? As linhas para Setembro estão definidas. Elas são a consequênc­ia de orientaçõe­s que estão em prática. Podemos introduzir uma alteração ou outra, mas o AD N da RTP está definido. Em televisãoé muito difícil, deu m mês para o outro, introduzir alterações. Quando saiu, deixo uma herança, quando chego encontro programas prontos para ir para o ar. Mal seria se não houvesse algo. O Verão M, por exemplo, está pronto para ir para o ar. Temos outros projectos que surgirão nos próximos meses e que estão perfeitame­nte planeados. Setembro não será um mês de alterações profundas e de rotação de programas.

Será em Janeiro?

Não, essa ideia das datas, da rentrée, há muitos anos, há mais de dez, que eu digo que há programas que começam e programas que acabam e às vezes acontece em Março e outra sem Julho.

Isso deve-se à pressão das televisões privadas. Essa ideia de que uma grelha muda toda em Setembro, há muitos anos que não tem aplicação prática.

Vai avançar em Setembro com o concurso Joker, apresentad­o por Vasco Palmeirim?

Sim, o Vasco está a gravar um concurso novo que está em produção, e há-de estrear um dia destes.

Em Setembro?

Um dia destes. Não vou estragar o está em produção e está bastante interessan­te. Não vamos apontar datas.

Tem consciênci­a de que a RTP nos últimos anos perdeu imensos telespecta­dores? Há quem defenda que a RTP não tem de se reger pelas audiências e quem defenda que se a RTP é serviço público tem de ter público. Afinal, a RTP preocupa-se com as audiências, ou não? É claro que se deve preocupar com as audiências. Quando estou a falar de conteúdos, eles têm que te ruma relação como público. Senão têm, algo não está a funcionar.

O serviço público acarreta quase sempre um compromiss­o de prejuízo.

Não gosto de falar em prejuízo, gosto sempre de falar em investimen­to. As audiências não podem ser uma obsessão, são, sim, uma ambição. Toda a gente gosta de fazer um trabalho, que é visto por muita gente. As pessoas gostam de acordar e descobrir que, no dia anterior, fizeram bons números e bons resultados.

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 ??  ?? José Fragoso volta, aos 55 anos, a estar à frente dos destinos da RTP e já tem uma estratégia definida
para 2019.
José Fragoso volta, aos 55 anos, a estar à frente dos destinos da RTP e já tem uma estratégia definida para 2019.
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