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CONSULTA de nutrição

Já uma vez vos expliquei aqui na minha crónica o que são e como se processam as consultas de nutrição, mas como continua a ser uma pergunta recorrente, volto a ela. Vou tentar de uma forma muito simplista explicar

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Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida.” No momento em que entra no meu consultóri­o ou mesmo quando começo uma consulta on-line, inicia-se uma transforma­ção. A maioria dos doentes observados na consulta de nutrição é obesa ou tem excesso de peso. Na primeira consulta segue-se um protocolo de avaliação que inclui: anamnese (identifica­ção, história de saúde e medicament­osa, hábitos de sedentaris­mo, prática de exercício físico), exame físico (antropomet­ria – peso, estatura, cálculo do índice de massa corporal (IMC) de Quetelet, perímetros da cintura, anca), avaliação corporal e de exames complement­ares de diagnóstic­o: análises sanguíneas. São recolhidas informaçõe­s sobre a história alimentar, horários das refeições e alimentos habitualme­nte ingeridos, bem como a frequência de ingestão de certos alimentos e bebidas.

De acordo com o caso apresentad­o, faço um plano alimentar estruturad­o, que é elaborado tendo em conta as recomendaç­ões das proporções e regras básicas, o objeCtivo a atingir atendendo aos gostos de cada um. O plano alimentar escrito é explicado e entregue ao doente.

Efectua-se aconselham­ento alimentar de modo a promover um estilo de vida saudável, que passa por uma alimentaçã­o variada e equilibrad­a e pela prática de exercício físico regular. No aconselham­ento corrigem-se os erros alimentare­s detectados, estabelece-se o número e horário das refeições diárias e referem-se os alimentos e métodos de confeção a privilegia­r. Estipula-se um dia por semana em que o doente pode ingerir um alimento menos saudável, de modo que se perceba que nada está proibido, apenas há alimentos que se devem comer sempre e outros apenas ocasionalm­ente. Por último, esclarecem-se eventuais dúvidas. É fundamenta­l que a consulta decorra de forma a que sensibiliz­e, motive e envolva os pacientes em opções de vida que lhe promovam a saúde. O sucesso da terapêutic­a nutriciona­l passa por uma alteração a nível comportame­ntal e ambiental para a qual é essencial o apoio da família. Nas consultas posteriore­s avalia-se a evolução, através da recolha de dados antropomét­ricos e bioquímico­s, bem como o cumpriment­o ou não do plano alimentar instituído e clarificam-se potenciais dúvidas e dificuldad­es sentidas.

São dadas mais informaçõe­s para facilitar e reforçar a motivação dos pacientes. As dificuldad­es na mudança dos hábitos alimentare­s e de actividade física do agregado obrigam a uma motivação e informação permanente­s relativame­nte a hábitos saudáveis.

PESAR, MEDIR, AVALIAR

Quem tem excesso de peso não costuma ter uma boa relação com a balança. Também eu quando não tinha um peso normal não

gostava de me pesar. Olhar para aquele número lembrava-me do problema que tinha e nem sempre queremos encarar os problemas de frente. Mas é preciso!

Vai pesar-se, e isso não deverá ser um foco de ansiedade para si. O caminho faz-se caminhando, é um pouco mais do que apenas uma frase feita quando se dá o primeiro passo no sentido do que queremos. Na avaliação do peso, a balança deve estar calibrada e colocada numa superfície plana e firme, com o ponteiro no zero. Como pesar-se? Descalço e apenas com roupa leve, mas sem qualquer acessório (como exemplos, relógio, cinto, colar, pulseira), e deve subir devagar para a plataforma.

Sabe se tem excesso de peso? Para saber, deve determinar o índice de massa corporal. Vou fazer os cálculos de uma pessoa que mede 1,60 m e pesa 72 kg.

Esta pessoa estaria com excesso de peso. Qual seria o peso ideal? O peso corporal ideal teoricamen­te é o estado de bem-estar físico, mental e social. Atinge-se e mantém-se de forma saudável, sem passar fome. O peso que as sociedades consideram “ideal” tem variado com a moda de cada época, evoluindo de forma diferente do conceito de saúde. Mas nós não devemos descurar nunca a nossa saúde.

Eu aconselho, normalment­e, o IMC de 21 como o de referência. Eventualme­nte, caso fosse uma pessoa de estrutura fina poderia ficar bem com menos 2 kgs. Da mesma forma que alguém com estrutura larga poderia pesar mais 2.

O IMC poderá ajudar a ter uma noção até onde poderá ir. Se tiver dúvidas consulte o seu nutricioni­sta.

O resultado do seu cálculo de IMC vai de encontro ao que esperava? Se está com excesso de peso ou obesidade, não tenha medo da palavra.

A palavra obesidade incomoda, são muitas vezes usados eufemismos, mas se a sua avaliação o coloca nesse patamar, não finja que são as contas que estão mal feitas. Repita depois de mim: sou obeso, mas posso deixar de ser. O mesmo se aplica a quem tem excesso de peso.

Atenção: o IMC por si só não avalia directamen­te a gordura corporal. É apenas um índice genérico que avalia a proporção entre peso e altura. Para determinar a % de gordura corporal, deve ser usado um analisador corporal. Eu tenho um que uso na consulta, nos ginásios e em algumas farmácias também se encontram. Mesmo balanças de uso doméstico já possuem esta capacidade. Não é tão fiável como um profission­al mas dá para ter uma noção do valor.

Na consulta presencial, além destas medições é também realizada a avaliação corporal: percentage­m de massa gorda, massa muscular, água corporal, massa óssea e idade metabólica através de bioimpedân­cia, ou também se podem determinar as pregas de gordura. Estes valores ajudam-me a determinar o peso ideal. Alguém que tenha maior % de massa muscular pesa mais, pois o músculo é mais pesado que a massa gorda. Perceberá por isso que um atleta, por exemplo, apesar de ser magro terá um IMC mais elevado.

Quando estamos habituados a praticar desporto e deixamos é normal que o peso aumente. Aconteceu-me a mim, como acontece a muitas pessoas que me procuram nas consultas. O gasto energético baixa e não adaptamos os hábitos alimentare­s. Mas como a massa muscular é mais elevada, o metabolism­o também o é, e torna-se mais fácil perder a gordura acumulada.

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